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Estado de Minas ISTAMBUL

Do terremoto de 1999 ao de 2023, as tribulações da política econômica de Erdogan


08/05/2023 08:52

O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, chegou ao poder há duas décadas no calor da indignação com os efeitos do terremoto de 1999. Após o tremor de fevereiro deste ano, ele espera não sofrer o inverso nas eleições de 14 de maio, em meio a uma crise econômica.

"Eles chegaram com um terremoto e podem ser varridos por outro terremoto", disse Melih Yesilbag, professor de Sociologia da Universidade de Ancara, em referência a Erdogan e seu partido islâmico, o AKP, no poder desde 2002.

O terremoto de 17 de agosto de 1999, no meio da noite, matou mais de 17.000 pessoas no noroeste do país. A indignação decorrente da catástrofe alimentou o descontentamento popular que, junto com a atual crise econômica, ajudou a impulsionar Erdogan ao poder.

Agora, nas eleições presidenciais e legislativas de 14 de maio, o presidente e ex-primeiro-ministro espera que não aconteça o contrário, depois das consequências devastadoras do terremoto de 6 de fevereiro, que provocou mais de 50 mil mortos na Turquia e na vizinha Síria.

O professor Yesilbag lembra como, quando Erdogan chegou ao poder, "a modernização da infraestrutura era uma de suas principais promessas".

O terremoto de 1999 revelou a qualidade ruim de muitas construções.

Um pouco depois, Erdogan inaugurou um novo modelo econômico baseado no setor de construção e em grandes infraestruturas, com efeito transformador na Turquia.

O resultado foi que em 20 anos foram construídas mais de 10 milhões de casas, "um número inusitado", diz Yesilbag.

"É mais da metade do que todos os países da UE juntos construíram no mesmo período de tempo".

Algumas casas desabaram no terremoto de 6 de fevereiro, expondo a violação dos regulamentos de construção em muitos casos.

- Boom imobiliário -

O boom da construção acelerou com a crise financeira de 2008, que levou Estados Unidos e Europa a aplicarem taxas de juros zero. Isso levou à entrada de bilhões de dólares em créditos na Turquia, onde os governos de Erdogan redesenharam o formato de inúmeras cidades e conectaram as províncias com uma rede de rodovias e aeroportos.

O frenesi da construção também permitiu que turcos com menor nível de escolaridade entrassem no mercado de trabalho, consolidando a base eleitoral do AKP.

"Funcionou muito bem", diz o analista Atilla Yesilada, da consultoria Global Source Partners. "Isso criou uma nova classe de simpatizantes prósperos do AKP, que se mudaram para centros urbanos e aumentaram as classes média e alta".

A economia turca registrou um grande crescimento durante a primeira década de Erdogan no poder e, de acordo com o Banco Mundial, o PIB per capita anual aumentou de US$ 3.640 (R$ 12.858 na cotação da época) em 2002 para US$ 12.507 (R$ 29.291 na cotação da época) em seu pico em 2013.

O setor de construção e indústrias paralelas representaram quase um terço desse total.

"O setor da construção requer uma força de trabalho significativa e, a curto prazo, gera muitos empregos", explica Osman Balaban, professor de Urbanismo da Universidade Técnica do Oriente Médio em Ancara.

- "Relação incestuosa" -

Mas a prosperidade não durou muito.

A crise diplomática de 2018 com Washington e o aumento progressivo das taxas de juros no Ocidente provocaram um colapso da lira turca, o que encareceu o custo dos créditos em dólares.

Assim, "o custo da construção ficou muito alto", diz Melih Yesilbag.

A crise gerou um fenômeno no qual as imobiliárias continuaram apoiando o governo de Erdogan, em troca de novos projetos.

"Tudo isso se transformou em uma espécie de relação incestuosa, na qual as construtoras se sentiram obrigadas a apoiar a reeleição de Erdogan", explica o analista Atilla Yesilada.

O problema é que "ao longo dos anos, o sistema acabou tendo um rendimento negativo", aponta.

Agora, os analistas afirmam que o contrato social com os eleitores foi rompido, em um país com uma inflação que em abril foi de 43% na comparação com o mesmo mês do ano anterior - depois de ultrapassar 85% no outono passado, o maior nível desde 1998 -, e um lira fraca que deixa a Turquia muito dependente dos países do Golfo.

Ainda assim, a polarização atual pode impedir que o líder da oposição, Kemal Kiliçdaroglu, vença em 14 de maio.

"Os tremendos estragos do terremoto varreram a imagem de prosperidade que Erdogan e seu partido conseguiram impor", opina Osman Balaban. "Embora isso possa influenciar as eleições, não sei se será suficiente para provocar a queda de Erdogan".


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