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Estado de Minas

Visita única de Elizabeth II ao Brasil teve de 'apagão' a encontro com Pelé

Em 1968, monarca passou por cinco capitais brasileiras, com ampla agenda, que incluiu inauguração do prédio do Masp e ida ao Maracanã


09/09/2022 04:00 - atualizado 08/09/2022 23:36

Na última etapa da viagem ao Brasil, Elizabeth II se encontrou com Pelé, o rei do futebo
(foto: Idalécio Wanderley/O Cruzeiro/Arquivo Estado de Minas/D.A Press - 9/11/1968 )

Antes, em Brasília, foi recebida pelo então presidente da República Costa e Silva
(foto: O Cruzeiro/Arquivo EM - 11/1968)
 

 

Os cabelos eram muito escuros, os escândalos familiares ainda não tinham se tornado uma constante, e o protocolo mantinha-se “realmente” imutável. Foi no longínquo mês de novembro de 1968 que a rainha Elizabeth II visitou o Brasil – pela primeira e única vez. A viagem ganhou todos os holofotes, e, pela antiga TV Itacolomi, dos Diários Associados, os mineiros assistiram às cenas da monarca britânica e do marido, o príncipe Philip (1921-2021), por seis capitais.

 

A jornalista Maya Santana, mineira residente no Rio de Janeiro (RJ), era adolescente em Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, na época da visita da rainha Elizabeth ao Brasil, e se recorda dos telejornais da época. Na década seguinte, ela trabalharia no Estado de Minas e, no início dos anos 1980, se mudaria para Londres, capital da Inglaterra, onde morou durante quase 17 anos. Nesse período, trabalhou na Rádio BBC por 14 anos.

 

“Os britânicos, certamente, estão em luto profundo, pois a rainha Elizabeth era mais do que uma monarca: era um símbolo de união e estabilidade”, afirma a jornalista. Lembrando que a morte da rainha ocorre quando o mundo lembra os 25 anos do falecimento da ex-nora dela, a princesa Diana, a Lady Di (1961-1997). Maya explica que a tragédia foi o único episódio a tirar um pouco do brilho e da admiração dos súditos.

 

“Quando Diana morreu, a rainha estava de férias com os netos, os príncipes William e Harry, no Castelo Balmoral, na Escócia. Coincidentemente, a mesma propriedade em que terminou seus dias. Em vez de viajar para Londres, preferiu ficar em Balmoral. A decisão da rainha de continuar na Escócia não agradou, então sua popularidade caiu muito”, afirma. Maya Santana lamenta a morte de Elizabeth II em tempos de crise econômica aguda na Grã-Bretanha. “E é exatamente neste momento, em que passam tantas dificuldades, que a rainha sai de cena.”

 

Em São Paulo, a monarca presidiu a inaguração do prédio do Masp, na Avenida Paulista. Na saída, uma multidão esperava para vê-la
(foto: O Cruzeiro/Arquivo EM - 11/1968)

 

TEMPO REAL Ao longo de seus 96 anos e sete décadas recém-completadas de reinado, Elizabeth II fez uma única viagem ao Brasil. Tinha 42 anos quando desembarcou, em 2 de novembro de 1968, acompanhada do príncipe Philip. Em oito dias, o casal passou por cinco capitais: Recife (PE), Salvador (BA), Brasília (DF), São Paulo (SP) e Rio de Janeiro (RJ), antes de seguir para Buenos Aires, na Argentina. A agenda incluiu eventos com autoridades, a exemplo do então presidente da República Artur da Costa e Silva (1899-1968), e visitas a locais históricos, como o Monumento ao Ipiranga, em São Paulo, e o Mercado Modelo, em Salvador.

 

Em Recife, onde ficaram apenas duas horas, Elizabeth II e Philip compareceram a uma recepção no Palácio do Campo das Princesas. Há uma história curiosa, e, como manda o protocolo, a tudo seguiu sem interrupção. Quando o casal posava para fotos, houve queda de eletricidade, um problema considerado comum em Recife naquela época. O casal visitante continuou na maior tranquilidade, assessorado por um auxiliar que os acompanhava segurando um candelabro de seis velas.

 

Na manhã seguinte, em Salvador, a rainha visitou a Igreja Anglicana e o câmpus da Universidade Federal da Bahia (UFBA). No Mercado Modelo, foi recebida com um tapete de pétalas de rosas. Uma comissão de barraqueiros do famoso centro comercial presenteou Elizabeth com um balangandá de prata de lei pesando 1,5kg, enquanto o duque de Edimburgo ganhou um berimbau baiano.

 

Os monarcas estiveram em Brasília, foram à sede do Supremo Tribunal Federal (STF), Congresso Nacional e Palácio da Alvorada, com direito a banquete no Palácio Itamaraty. “Era uma noite de lua cheia, céu estrelado e temperatura elevada, ideal para os vestidos longos, ultradecotados, que foram a tônica preferida pelas elegantes da cidade. O príncipe Philip brilhou tanto quando Sua Majestade”, registrou a colunista Liana Sabo, do Correio Braziliense. Aos jornalistas, Elizabeth II disse que achara Brasília "fascinante".

 

No roteiro pelo país, estavam a capital paulista, onde Elizabeth colocou uma coroa de flores no Monumento ao Ipiranga, erguido em homenagem ao Dia da Independência do Brasil, e seguiu para o Terraço Itália, de onde observou São Paulo a 150 metros de altura. No mesmo dia, a soberana presidiu a cerimônia de inauguração do prédio do Museu de Artes de São Paulo (Masp), na Avenida Paulista.

 

ORQUÍDEAS Na manhã seguinte, a monarca e seu marido embarcaram em um avião da Força Aérea britânica (RAF) em direção a Campinas, onde conheceram o Instituto Agronômico e a Fazenda Experimental Santa Eliza. No instituto, órgão estadual de pesquisa fundado por Dom Pedro II, Elizabeth se encantou com a coleção de mais de 3 mil orquídeas.

 

Em 8 de novembro, no Rio de Janeiro, Elizabeth II visitou o Monumento aos Mortos da Segunda Guerra Mundial, no Aterro do Flamengo, e a Igreja Anglicana, em Botafogo. Na saída do templo, houve um leve susto quando um homem atirou sobre a rainha um quadro com a imagem dela própria. Ao se recuperar da surpresa, a visitante olhou para a obra por alguns segundos e pediu para guardá-la. Já o autor do quadro foi detido pela segurança da comitiva e liberado após averiguação.

Um dos belos registros da viagem foi a foto da rainha da Inglaterra com o rei do futebol. Foi no Maracanã o encontro de Elizabeth II com Edson Arantes do Nascimento, o eterno Rei Pelé.

 

Durante a visita ao Distrito Federal, a rainha usou o conjunto de colar e brincos com brilhantes e águas- marinhas que recebeu de presente do Brasil quando foi coroada, em 1953, e que lhe foi entregue por Assis Chateaubriand
(foto: Antônio Rudge/O Cruzeiro/Arquivo EM -21/11/53)

Conjunto de colar e brincos com brilhantes e águas- marinhas
(foto: Antônio Rudge/O Cruzeiro/Arquivo EM -21/11/53)
 

 

Adornos à brasileira

 

Grande empresário do setor de comunicação no Brasil no século 20, homem influente no período de 1940 a 1960 e fundador dos Diários Associados, Assis Chateaubriand (1892-1968), o Chatô, morreu sete meses antes da visita de Elizabeth II ao Brasil. Mas o sonho que acalentava desde criança – o de conhecer um rei – realizou-se 15 anos antes, na coroação da soberana britânica. No lugar do rei, estava uma rainha.

 

No seu livro “Chatô, o rei do Brasil”, o escritor Fernando Morais contou a história. Em 1953, o então presidente Getúlio Vargas (1882-1954) assinou decreto nomeando a delegação que representaria o Brasil na coroação de Elizabeth II, cujo pai, o rei Jorge VI, morrera no ano anterior. No grupo, estava Assis Chateaubriand.

 

O presente escolhido para a rainha, e pago a partir da cotização de oito pessoas, incluindo o governador de Minas, Juscelino Kubitschek (1900-1976), era um conjunto de brincos e colar com 647 brilhantes, pesando 300 gramas, e 10 águas-marinhas de 120 quilates (pedra extraída de uma mina do Rio Grande do Norte). Com medo de que as joias extraviassem na viagem do Rio de Janeiro a Paris, e depois da capital francesa a Londres, Chatô pediu à sua avó que costurasse o valioso conjunto no forro do seu sobretudo de lã.

 

Chateaubriand deu outro presente à rainha, desta vez bem particular. Colocou bem no alto, nas ruas por onde passaria o cortejo real, faixas escritas em português com as saudações: “Nosso Senhor do Bonfim guarde a rainha”, “Nossa Senhora Aparecida guarde a rainha” e “Santa Terezinha do Menino Jesus guarde a rainha”.

 

Na véspera da cerimônia de coração, a quem perguntava a Chateaubriand o significado dos dizeres, ele respondia: “São santos brasileiríssimos. É a saudação que o Brasil faz à rainha dos anglicanos que vai ser coroada amanhã”.

 

 


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