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Estado de Minas SANTIAGO

Boric se aproxima da centro-esquerda após rejeição a nova Constituição


06/09/2022 22:31

O presidente do Chile, Gabriel Boric, fez uma mudança na base política do seu governo nesta terça-feira (6), nomeando figuras de centro-esquerda para ministérios-chave, como o do Interior, dois dias após a rejeição esmagadora a uma nova Constituição, que representou um golpe para o governismo.

"Chilenos e chilenas, quero que saibam que faço esta mudança de gabinete pensando em nosso país. Tinha que doer e dói, porque é necessário", afirmou Boric, após empossar os novos ministros.

O barulho de sirenes policiais e o cheiro de gás lacrimogêneo no ar antecederam a cerimônia que aconteceu no palácio do governo, no centro de Santiago, em cujo entorno centenas de estudantes do ensino médio exigiam mais recursos para a educação.

Mais de 61% optaram no último domingo por rejeitar o texto, que nasceu após a violenta revolta social de outubro de 2019, na eleição com a maior participação eleitoral (85,8%) da história do Chile.

Boric substituiu sua chefe de gabinete, Izkia Siches, e trocou Giorgio Jackson de ministério, um de seus colaboradores mais próximos e que estava encarregado das relações com o Congresso.

Para o lugar de Siches -que se despediu visivelmente emocionada- Boric confiou o ministério do Interior e a chefia de seu gabinete à cientista política Carolina Tohá, figura importante dos governos de centro esquerda que assumiram o poder após a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).

Tohá foi porta-voz do governo da socialista Michelle Bachelet (2000-2006; 2010-2016) e ex-prefeita de Santiago. Seu pai, José Tohá, ex-ministro do Interior do presidente socialista deposto Salvador Allende, morreu como resultado de tortura em 1974. Jackson foi nomeado para chefiar o ministério de Desenvolvimento Social.

Nas outras pastas, entraram a médica Ximena Aguilera na Saúde, Ana Lya Uriarte na secretaria-geral da Presidência e Silvia Díaz no ministério da Ciência e Inovação.

- Mudança de ciclo -

Com esta mudança, Boric aproxima seu governo da ex-coalizão de centro-esquerda que governou o Chile nos últimos 30 anos e que o presidente, líder da aliança de esquerda Frente Ampla, criticou por não ter sido capaz de colocar em prática mudanças a favor de um Estado mais forte para responder às exigências da sociedade.

"Com o resultado do referendo, fecha-se um ciclo e agora começam novas tarefas que exigem novos nomes que possam responder" a elas, explicou Fernando García, acadêmico da Faculdade de Ciências Políticas da Universidade Diego Portales.

A mudança de gabinete ocorre dois dias após a rejeição da proposta de nova Constituição, elaborada durante um ano pela convenção partidária que incluiu 17 assentos indígenas e apoiada pelo governo Boric.

O presidente se reuniu com líderes do Congresso e dos partidos políticos com representação parlamentar - incluindo a direita, que apoiou a "Rejeição"-, que resolveram iniciar amanhã as discussões para um novo processo constitucional. "Temos que fazer um bom processo, e não brincar com essa segunda oportunidade, que, provavelmente, será a última, porque o Chile merece", declarou após o encontro Raúl Soto, presidente da Câmara dos Deputados.

"Os processos de transformação social são sempre de longo prazo. A história do Chile nos ensinou que as grandes mudanças que duram são aquelas que não são feitas da noite para o dia", acrescentou o presidente.

No referendo de domingo, 61,8% dos votos optaram pela "Rejeição" à nova Constituição, contra 38% pela "Aprovação", um resultado que também pode ser interpretado como um golpe para a gestão de Boric seis meses após assumir o poder com a promessa de realizar amplas reformas sociais.

"Para continuar com o processo constituinte, são necessárias novas caras, novas energias, e o processo precisa ser vigorosamente renovado", acrescentou Garcia.

- 'Constituição de Pinochet' -

As mudanças no governo foram anunciadas enquanto manifestantes entravam em confronto com a polícia nos arredores do palácio do governo.

"E vai cair... e vai cair, a Constituição de Pinochet", gritavam os manifestantes, insatisfeitos com o resultado do referendo, cuja proposta de uma nova Carta Marga buscava consagrar o "acesso universal à educação", entre uma série de direitos progressistas.

Segundo especialistas, a maioria dos chilenos optou por rejeitar a proposta de Constituição por avaliar negativamente as ações da convenção que redigiu o texto, bem como muitas das propostas que excederam as solicitações dos cidadãos.

Mas uma imensa maioria continua defendendo uma mudança na Constituição ou reformas à atual, segundo levantamento da consultoria Ipsos.

Este levantamento divulgado na segunda-feira mostrou que um dos piores aspectos resolvidos pela convenção foi o sistema judiciário (26%), o direito de propriedade (24%), o sistema nacional de saúde (23%) e o Estado Plurinacional (23%).


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