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Estado de Minas KIEV

Soldados russos presos na Ucrânia sonham em voltar para casa


25/07/2022 16:31

Encostado em sua cama em um centro de detenção em Kiev, o sargento russo Nikolai Matveyev recorda a emboscada que o transformou em um dos primeiros prisioneiros de guerra durante a invasão russa da Ucrânia.

Enquanto explica como passou horas ferido, se arrastando por florestas geladas, Nikolai se apoia de forma desajeitada em sua perna esquerda, parcialmente amputada.

O homem, de 36 anos, conta sua história depois que as autoridades ucranianas autorizaram à AFP o acesso incondicional a soldados russos capturados em uma prisão de Kiev.

Matveyev estava em uma rodovia da região de Chernihiv, no norte da Ucrânia, quando sua unidade foi atacada pouco depois do início da ofensiva russa em 24 de fevereiro. Sua perna ficou ferida pela explosão de um morteiro.

"Fui ferido na perna nos primeiros 10 ou 15 segundos de combate. Quando [a situação] se acalmou, todos os outros soldados do veículo saíram correndo e fizeram um torniquete em mim", conta.

"Depois, comecei a me arrastar para sair. No chão, perto das rodas do veículo, me preparei para lutar, enquanto o resto da unidade avançava", continua.

Mas o homem acabou desmaiando por causa das dores intensas. Quando acordou horas depois, estava só. Seu veículo tinha saído e sua unidade continuava lutando longe dele.

"Quando a noite caiu, a artilharia começou a disparar. No dia 25 de fevereiro, me arrastei pela floresta e pelos campos. Cheguei a uma central elétrica", relata.

Primeiro, esperou que sua unidade passasse para recolhê-lo, mas ninguém veio. "Bati na porta, os guardas me puxaram para dentro e me deram água antes de falar com seus superiores", continua.

- 'Voltar para casa' -

Nikolai foi levado à polícia para ser interrogado e depois ao hospital, onde teve a parte inferior de sua perna amputada, antes de ser levado mais 130 quilômetros ao sul, para a capital Kiev.

Atualmente, enquanto a guerra entra em seu sexto mês, a perspectiva de ser libertado ainda está longe de ser concretizada.

Nikolai tampouco fez parte das trocas de prisioneiros realizadas entre Ucrânia e Rússia. A última ocorreu em junho, quando 144 prisioneiros de cada lado foram repatriados.

"Seria uma alegria incrível fazer parte de uma troca", afirma o militar originário da Sibéria. "Todo o mundo quer voltar para casa", acrescenta.

Nikolai está na prisão de Kiev desde o dia 10 de março, e divide sua cela com outros quatro prisioneiros russos. Um papel preso à porta indica que são "prisioneiros de guerra".

A cela conta com beliches com armação de aço e colchões muito finos, alinhados às paredes. Também há um banco e uma mesa de metal e madeira.

Com a exceção de um painel de azulejos azuis e uma mesa verde, tudo tem uma tonalidade pálida e desbotada.

"[Os ucranianos] nos dão comida, bebida e não nos ofendem", garante Matveyev. A AFP, contudo, não pôde verificar se ele estava se expressando livremente ou sob coação.

Graças a um televisor antigo que difunde canais ucranianos, "começamos a entender o ucraniano", acrescenta Dorjo Dooulmayev, de 21 anos, originário do extremo leste da Rússia.

O jovem foi capturado em 6 de junho na região de Kherson, no sul do país, e também espera para ser trocado.

- 'Tortura e maus-tratos' -

A Ucrânia não divulga o número exato de prisioneiros russos em seu território, mas afirma que são "milhares" de casos.

Existem muitas instalações como a prisão onde está Matveyev, mas as mesmas não foram projetadas originalmente para prisioneiros de guerra.

A vice-ministra da Justiça da Ucrânia, Olena Vyssotska, assegurou à AFP que as autoridades estão fazendo o possível para separar os prisioneiros russos do restante da população carcerária, por razões de segurança.

Contudo, alguns soldados se queixaram de terem recebido tratamento médico sem anestesia e de torturas com choques elétricos, segundo um comitê de investigação russo criado por Moscou para lançar luz sobre as denúncias de seus prisioneiros.

A alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, lamentou, neste mês de julho, os "relatos estarrecedores" sobre "tortura e maus-tratos" de prisioneiros de guerra por ambos os lados.

Embora a Rússia exija primeiro a devolução de seus oficiais e integrantes das forças especiais, segundo Vyssotska, Nikolai ainda espera que, "um dia", poderá "ser parte de uma troca" de prisioneiros.


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