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Estado de Minas MELITÓPOL

Rússia distribui passaportes para se estabelecer no sul ocupado da Ucrânia


19/07/2022 13:49

Olesya Novitskaya não hesitou nem por um momento quando as autoridades de ocupação começaram a emitir passaportes russos em Melitopol, uma cidade do sudeste da Ucrânia conquistada pelas forças de Moscou.

"Estávamos esperando por isso", afirmou.

A AFP conversou com esta maquiadora profissional de 31 anos durante uma viagem de imprensa organizada pelo Ministério da Defesa da Rússia para mostrar a acolhida dada aos ocupantes por parte da população.

Os jornalistas não foram autorizados a circular livremente na cidade, nem a falar com os habitantes sem estarem acompanhados por uma escolta militar russa.

Acompanhada de seus dois filhos, Novitskaya estava em uma fila de cerca de 20 pessoas, esperando para pedir seus documentos russos.

"Acho que todos viveremos na Rússia, então, preciso de um passaporte russo. Para poder viver aqui de maneira oficial e normal", explicou ela à AFP com uma criança nos braços.

As autoridades de ocupação da região de Zaporizhia, onde Melitopol se situa, querem organizar um referendo no final do ano para formalizar a anexação à Rússia.

Depois de algumas semanas de espera, Novitskaya deverá receber seus novos documentos em uma cerimônia, durante a qual o hino russo será tocado diante de um retrato de Vladimir Putin.

Essa distribuição de passaportes, que também ocorre em outras áreas ucranianas ocupadas, é parte da estratégia de Moscou para se estabelecer na região de forma irreversível.

Outras medidas incluem o pagamento de salários e pensões em rublos, a moeda russa, a inauguração de linhas de trem e ônibus de conexão com a península da Crimeia anexada em 2014 e a abertura de escolas de língua russa.

- Habitantes "divididos" -

Melitopol foi tomada pelos russos logo após o início da ofensiva em 24 de fevereiro. Quase não houve combates na cidade, o que evitou que terminasse destruída.

Na época, o Exército ucraniano estava defendendo Kiev, a capital, e Mariupol, uma cidade portuária que havia sido sitiada e bombardeada por semanas.

Em julho deste ano, a presença militar russa é discreta, mas ainda há controles de estrada em algumas saídas da cidade. Mas Novitskaya não se importa.

"Para ser honesto, esperávamos isso em 2014", ano em que a península da Crimeia foi anexada, e o conflito armado no leste da Ucrânia com separatistas pró-Rússia começou.

Reconhece, porém, que nem toda a população pensa como ela.

"Hoje, está todo o mundo dividido", afirmou.

"Alguns são a favor da Rússia, outros, da Ucrânia", completou.

Na fila, também está Damir Kadyrov, um aposentado de 65 anos que acredita ser "necessário" obter um passaporte russo, após a chegada deles a Melitopol.

"Como decidiram acabar com os fascistas, as coisas ficarão mais tranquilas, como na era soviética", completou, ecoando a propaganda de Moscou, que afirma estar lutando contra "fascistas" e "nazistas" na Ucrânia.

Olhando os números, porém, esse entusiasmo está longe de ser compartilhado por todos os habitantes de Melitopol, que antes da ofensiva russa tinha cerca de 150.000 habitantes.

O chefe da administração regional de ocupação, Yevgeny Balitsky, reconhece que apenas de 20 a 30 passaportes são distribuídos diariamente nessa localidade, e "cerca de 100", em toda região.

O ritmo "ainda não está à altura", lamentou, ressaltando que os controles dos serviços de segurança russos estão atrasando o processo. Soma-se a isso um clima geral de desconfiança.

Aqueles que apoiam a Ucrânia temem a repressão russa. E os que preferem a Rússia temem ser considerados "traidores", ou "colaboradores", pelos defensores de Kiev.

De fato, parte das pessoas que estavam na fila para pedir passaportes preferiu sair antes da chegada das câmeras de televisão e de uma procissão militar russa em frente ao prédio administrativo.

"Não falamos" sobre passaportes russos "entre nós", admite Galina Vladimirovna, uma residente de 58 anos.

"Ainda é tabu, todo mundo tem medo", completou.


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