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Estado de Minas CHAME

Panamenhos 'em pé de guerra' fecham rodovias por aumento do combustível e corrupção


14/07/2022 21:17

Faz duas horas que Katia está em seu carro, assim como outros milhares de motoristas bloqueados na rodovia Pan-americana, sem conseguir avançar. Mas ela não se incomoda. Diz que os que se manifestam fechando as vias no Panamá contra a inflação e a corrupção também o fazem por ela.

Há duas semanas, os panamenhos se manifestam contra o aumento no preço dos combustíveis, alimentos e medicamentos, além de criticar as autoridades do país por gastos excessivos enquanto a população passa por dificuldades.

"Não me incomoda estar aqui porque é uma forma de apoiar (...) Como vou me irritar se quem está fechando a via o faz por uma causa tanto deles quanto minha, de todos os panamenhos em nível nacional?", diz Katia Pinzón, uma secretária de 54 anos.

Em Capira, localidade situada 60 km a oeste da Cidade do Panamá, moradores se somaram às manifestações e realizam interrupções na via Interamericana, principal ligação do país com a América Central e que faz parte da rodovia Pan-americana, que une todo o continente.

Vinte quilômetros mais a oeste, em Chame, a situação é a mesma. Ali, caminhoneiros atravessaram seus veículos na estrada. Apesar do sol forte, alguns dançam calipso.

"Por que fechamos as ruas? Porque é a única forma de nos fazermos sentir, a única forma do nosso presidente observar o clamor de um povo que já está cansado", comenta a professora Marta Pinilla, de 39 anos.

É por esta rota que os alimentos chegam à capital. O principal centro de abastecimento está com a maioria de seus postos fechados por falta de mercadorias.

"Recebemos informes de supermercados que já enfrentam desabastecimento de produtos frescos e o que nos comentam é que se o bloqueio prosseguir na próxima semana poderíamos, inclusive, chegar a ter escassez de carne", disse à emissora TVN Radio Marcela Galindo, presidente da Câmara de Comércio e Indústrias do Panamá.

Segundo Galindo, os protestos também estão provocando desabastecimento de combustível nas províncias do interior do país, o que dificulta a produção agropecuária com consequências que poderiam ter "impacto inclusive no médio ou no longo prazo".

O Panamá vive, assim, uma das maiores crises sociais desde a queda, em 1989, da ditadura militar do general Manuel Antonio Noriega, após a invasão americana.

- "Não é lógico", diz presidente -

O presidente panamenho, Laurentino Cortizo, instalou nesta quinta-feira uma mesa de diálogo com a mediação da Igreja Católica, embora os principais impulsionadores dos protestos não tenham comparecido.

"Não tenho dúvidas de que com o diálogo sincero, sem agendas duplas, podemos continuar avançando", disse Cortizo.

O presidente pediu o fim do bloqueio de vias: "Os protestos são parte da democracia, mas não é lógico e o senso comum tem que nos dizer que não podemos prejudicar a nós mesmos".

Sem citar nomes, também acusou "alguns políticos" com "más intenções" de estar "infiltrados" nos protestos.

Cortiza, a quem ainda restam dois anos de gestão, informou recentemente que enfrenta uma leucemia, embora de baixo risco.

- "Até o fim" -

Embora alguns enfrentamentos isolados tenham sido registrados, os protestos são pacíficos, inclusive com música e dança.

A cada três horas, as vias são abertas por dez minutos para diminuir a espera. Carros dos bombeiros e ambulâncias têm passagem livre.

O descontentamento ocorre em um contexto de inflação de 4,2% de inflação interanual, registrado em maio e uma taxa de desemprego em torno de 10%.

O preço do combustível aumentou 47% desde o começo do ano, custando atualmente 5,17 dólares o galão de gasolina (3,78 litros).

Mas o presidente Laurentino Cortizo (social-democrata) anunciou uma redução a partir desta sexta-feira para US$ 3,95 o galão e o congelamento dos preços de alguns alimentos, mas os sindicatos consideram as medidas insuficientes.

- "Isso quem faz é o povo" -

Neste país de mais de 4 milhões de habitantes, cerca de 20% da população vivem em condições de pobreza.

Apesar da economia dolarizada, dos altos índices de crescimento e de um canal que aporta mais de 2 bilhões de dólares ao ano ao Tesouro nacional, o Panamá tem um dos maiores índices de desigualdade do mundo.

Juan Morales, produtor rural de 57 anos, participa dos bloqueios em Capira.

"Estamos em pé de guerra, esperando que o governo se pronuncie e dê uma resposta rápida sobre esta situação porque já não aguentamos mais", afirma.

Ele assegura que "quem faz este protesto é o povo" porque está "farto já do governo, de tantos benefícios para os colarinhos brancos".

"Aqui os únicos que ganham são os do governo. Já chega disso, senhor presidente 'Nito' Cortizo, ponha a mão na consciência", proclama Morales.


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