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Estado de Minas LUANDA

Dos Santos, símbolo todo-poderoso da Angola independente


08/07/2022 15:37

Falecido nesta sexta-feira (8), José Eduardo dos Santos dirigiu Angola, um dos países mais pobres do mundo, durante 38 anos e era acusado de desviar as receitas do petróleo para enriquecer sua família.

Este ex-revolucionário marxista morreu aos 79 anos em um hospital de Barcelona, no nordeste de Espanha, onde estava internado desde junho em cuidados intensivos por causa de uma parada cardiorrespiratória.

Até a sua saída do poder em maio de 2017, Dos Santos foi acusado de governar Angola em benefício próprio. O atual presidente, seu pupilo João Lourenço, surpreendeu ao lançar uma ampla campanha contra a corrupção que tem como foco diversos filhos de Dos Santos.

Sua filha Isabel, apelidada de "princesa", e que dirigiu desde 2016 a companhia petrolífera nacional Sonangol, enfrenta uma miríade de acusações por corrupção. Acusações que levaram seu filho, Filomeno, à prisão em 2019.

Quando José Eduardo dos Santos chegou ao poder, em 1979, Angola estava afundada há quatro anos em uma guerra civil após a independência de Portugal.

Um conflito-chave da Guerra Fria entre o governo angolano e seus aliados de União Soviética e Cuba contra o movimento rebelde Unita de Jonas Savimbi, apoiado por Estados Unidos e o regime do apartheid da África do Sul, e que deixou 500.000 mortos em 27 anos de conflito.

Após o cessar-fogo de 2002, Dos Santos transformou Angola no maior produtor de petróleo do continente, em concorrência direta com a Nigéria, mas os lucros gerados pelo ouro negro não chegaram à maioria da população.

Dos Santos, que mal se mostrava em público, mantinha o controle ferrenho sobre o seu partido, o Movimento para a Libertação de Angola (MPLA), e durante quase quatro décadas impôs seu poder no governo, exército, polícia e a justiça.

- 'Grande estrategista' -

Durante o seu regime, a imprensa estava sob censura e as poucas mobilizações contrárias eram duramente reprimidas.

"Contra todos os prognósticos", Dos Santos "conseguiu se manter no poder apesar da guerra e das eleições", explicou Alex Vines, do centro de estudos Chatham House, de Londres.

"Sempre foi um grande estrategista", afirmou Didier Péclard, professor da Universidade de Genebra. "Ele soube devolver os favores políticos graças aos rendimentos do petróleo".

Dos Santos nasceu em 28 de agosto de 1942 em Sambizanga, um bairro pobre de Luanda, foco do movimento pela independência de Angola.

Filho de um trabalhador da construção, estudante bolsista, se formou em engenharia no Azerbaijão e se casou com uma soviética, Tatiana Kukanova, mãe de sua filha mais velha, Isabel, uma das mulheres mais ricas da África, segundo a Forbes.

Depois, se casou com Ana Paula, uma ex-comissária de bordo 18 anos mais nova que ele.

A partir dos anos 1970, começou sua ascensão na política integrando o Comitê Central do MPLA, e se tornou pupilo do primeiro presidente angolano, Agostinho Neto.

Em 1975, foi nomeado chefe da diplomacia e, com a morte de Neto, em 1979, tomou o controle do partido, que o nomeou chefe de Estado.

- 'Falso democrata' -

As eleições e as mudanças na Constituição não foram suficientes para retirar Dos Santos do poder.

Em 1992, as eleições presidenciais foram anuladas antes do segundo turno pelas acusações de fraude de seu rival, Jonas Savimbi.

Em 2008, o pleito não chegou a ser realizado e, em 2010, a mudança de Constituição permitiu que ele se mantivesse mais dois anos como líder do MPLA.

Ao mesmo tempo, a polícia reprimia qualquer tentativa de manifestação contra ele. Seus adversários políticos consideravam que o país era uma "ditadura", algo que Dos Santos rebatia: "Somos um país democrático. Há muitos partidos", afirmou em 2013.

"É um autêntico déspota, um falso democrata", opinou o rapper Adão Bunga "McLife", do Movimento Revolucionário por Angola.

"Zedu", como era apelidado Dos Santos, reconheceu em 2013, para a emissora de televisão brasileira Bandeirantes, seu cansaço após um mandato "muito longo". Três anos depois, anunciou sua aposentadoria, entre rumores de que estava com câncer.


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