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Estado de Minas A BORDO DO GEO BARENTS

Migrantes torturados na Líbia recebem primeiros socorros em barco-ambulância da MSF


02/05/2022 09:13

Na mesa disposta para os migrantes resgatados a bordo do "Geo Barents", o mapa da África aparece em diferentes cores vivas: amarelo, verde, roxo e vermelho. Apenas um país está em preto: Líbia.

A bordo do navio-ambulância enviado pela organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) no Mediterrâneo, os exilados resgatados tentam curar as feridas das torturas sofridas em um país que se tornou uma terra de trânsito, onde a violência contra as populações migrantes deixa cicatrizes indeléveis.

"Não há governo neste país. Não há leis", diz John. Chegado à Líbia em 2018 depois de atravessar a Etiópia e o Sudão, este eritreu conta ter passado quatro anos no país do norte da África.

"Fui sequestrado em Alkufra e vendido para traficantes. E depois para outros. Eles me amarraram, me espancaram, me eletrocutaram", afirma ao médico da MSF.

O jovem sabia dos riscos do trajeto, mas a busca pela Europa parece valer os sacrifícios: "Sabemos que é perigoso, mas queremos chegar à Itália".

Filimon Kesete, um eritreu de 17 anos, tem quatro cicatrizes na perna direita. Ele também foi sequestrado em Alkufra, no sudeste da Líbia, e ficou detido por nove meses.

"Eles me forçavam a ligar para meus parentes toda semana para pedir dinheiro", relata, e conta que, como não podia pagar, amarraram suas mãos e pés e o arrastaram pelo chão.

- "Roubo em todos os lugares" -

"Em todos os lugares da Líbia eles te roubam, eles te batem", acrescenta Eladj Ndiaye, um senegalês de 19 anos que diz ter sido preso, depois espancado na cabeça e no rosto com uma garrafa de vidro, deixando uma cicatriz no couro cabeludo e um corte sob o lábio.

A bordo do Geo Barents, os vários testemunhos ouvidos pela AFP descrevem a Líbia como uma prisão da qual só se escapa a um preço elevado de resgate ou uma fuga arriscada.

Traumatizados, vários migrantes se recusam a testemunhar por medo de represálias contra seus parentes presos na Líbia.

"Muitos sobreviventes sofreram violência e, às vezes, tortura durante a viagem. Algumas dessas lesões podem causar problemas de longo prazo, no ombro, nos braços, afetando a motricidade. Também vemos ferimentos de bala, queimaduras e sinais de eletrocussão", descreve Mohammed Fadlalla, médico da MSF.

Espancamentos com paus, coronhadas ou facadas, eletrocussão, suspensão pelos pulsos, unhas arrancadas, queimaduras por plástico derretido ou álcool borrifado na pele são alguns dos abusos infligidos, além da falta de higiene e alimentação, relata MSF.

Para essas lesões, as equipes da clínica flutuante examinam e prestam primeiros socorros antes que as vítimas desembarquem e recebam tratamento hospitalar.

"Muitos sofrem distúrbios psicológicos, caracterizados por medo, dificuldade em adormecer, flashbacks, ansiedade, depressão", diz o Dr. Fadlalla, enfatizando a importância da "empatia e bondade" para com as vítimas.

O barco-ambulância é o primeiro lugar onde as vítimas podem falar com segurança.

"Nós os examinamos e descrevemos os ferimentos, as circunstâncias, que podem servir como evidências e talvez promover os direitos humanos", espera Fadlalla.

Em outubro de 2021, um relatório da ONU mencionou "crimes contra a humanidade" contra os migrantes na Líbia.

Esta situação "não pode continuar a ser ignorada. A cooperação da UE com a guarda costeira da Líbia na interceptação de barcos de imigrantes é indefensável", disse à AFP Jelia Sané, advogada especializada em refugiados do escritório londrino Doughty Street Chambers.

"Os Estados europeus devem concentrar seus esforços em estabelecer rotas de migração seguras e legais, oferecer proteção legal a quem chega às suas costas e, no caso de vítimas de tortura, garantir o acesso à reabilitação de acordo com o direito internacional", acrescentou.


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