Na noite de segunda-feira, após uma sessão caótica, o presidente Recep Tayyip Erdogan surpreendeu os mercados e seus opositores ao decidir vincular o valor de determinados depósitos bancários em lira ao dólar.
Economistas ainda estão tentando entender como funcionará esse novo mecanismo de câmbio e, acima de tudo, como o governo vai financiá-lo. Mas o resultado para a lira é claro, depois de ter perdido na segunda-feira 45% de seu valor em relação ao dólar americano desde 1º de novembro.
A moeda, que despencou mais 10% assim que Erdogan apareceu na televisão após a reunião semanal do gabinete, foi negociada horas depois 20% mais alta em relação ao dólar.
"Finalmente, o governo Erdogan se preocupa com a taxa de câmbio e evitou os controles sobre os capitais", disse o economista e analista britânico Timothy Ash, da BlueBay Asset Management, em nota na segunda-feira.
O presidente "Erdogan provou acreditar nos mercados, mas não nos juros", acrescentou.
- Alta indireta das taxas -
Isso ocorre porque o chefe de Estado turco continua convencido - apesar das teorias econômicas amplamente aceitas - de que as altas taxas de juros promovem a inflação, em vez de desacelerar a atividade. Dessa forma, nos últimos meses, ele tem pressionado o banco central a reduzir sua taxa-diretriz bem abaixo do nível de inflação, que atingiu 21% em um ano em novembro.
Isso significava que quem depositava lira em suas contas bancárias estava, na verdade, perdendo dinheiro todo mês. E os economistas temiam que o sistema financeiro do país paralisasse no caso de uma corrida aos bancos.
A nova política de Erdogan - chamada de "aumento indireto da taxa de juros" pelo ex-ministro da Fazenda Mahfi Egilmez - protegerá o valor dos ativos em lira contra as flutuações da taxa de câmbio.
Assim, o governo garante à população que cobrirá qualquer desvalorização de seus depósitos bancários em lira em relação ao dólar por meio de pagamentos periódicos.
"Se a taxa de câmbio aumentar 40% e a taxa de juros 14%, os 26 pontos de diferença serão pagos como compensação", explicou Egilmez no Twitter.
Esta política visa tranquilizar a população turca ao depositar lira nos bancos. No entanto, esse mecanismo não será ativado até três meses após a realização do depósito, alertou o Ministério da Fazenda em um comunicado na segunda-feira.
A medida ajudou a acalmar a população, mas sem conseguir estabilizar completamente o mercado: a lira turca valorizou 22% pela manhã, zerou este lucro em seguida e voltou a aumentar 6% à tarde, continuando assim o seu movimento volátil.
Muitos economistas se perguntam se a nova abordagem financeira de Erdogan será sustentável.
ISTAMBUL