"O corpo do bielorrusso Vitali Shishov, desaparecido ontem em Kiev, foi encontrado hoje em um dos parques de Kiev, perto do local em que residia", afirmou o chefe da policía nacional, Igor Klymenko, em coletiva de imprensa.
A polícia abriu uma investigação por homicídio premeditado, mas também considera a possibilidade de um ato voluntário.
"Um suicídio e um assassinato disfarçado de suicídio são as principais hipóteses", disse Klymenko.
Em resposta a uma pergunta sobre as declarações de um ativista bielorrusso, segundo o qual Shishov tinha hematomas no rosto o nariz quebrado, o chefe da polícia informou apenas pequenas lesões "características de uma queda", sem mais detalhes.
A organização Casa Bielorrussa na Ucrânia (BDU) denunciou no Telegram uma operação das autoridades bielorrussas para "liquidar" uma pessoa "perigosa para o regime" do presidente Alexander Lukashenko.
"Não há dúvida de que esta é uma operação planejada pelos chekistas", termo usado para designar as forças de segurança bielorrussas, disse a ONG, cuja missão é ajudar bielorrussos que fogem para a Ucrânia para escapar da repressão em seu país.
"Vitali era vigiado e a polícia (ucraniana) havia sido informada a respeito. Fomos advertidos em várias ocasiões, tanto por fontes locais como por pessoas em Belarus, sobre (a possibilidade de) todo tipo de provocações, que poderiam chegar ao sequestro e morte", completou a ONG.
Shishov, de 26 anos, havia saído para correr por Kiev na segunda-feira, mas nunca voltou. Sua companheira, Boyena Yolud, disse à imprensa bielorrussa que não acredita em um suicídio.
- 'Tomem vossas armas!' -
Segundo a "Casa Bielorrussa", Shishov foi obrigado a fugir para a Ucrânia em 2020, depois de participar no mês de agosto de protestos contra o governo em Gomel, sul de Belarus, e de ter "expressado oposição ativa" às autoridades.
Desde então, Shishov se dedicou a ajudar seus compatriotas exilados na Ucrânia e participou da organização de protestos em Kiev contra o governo de Lukashenko, segundo o BDU.
Hoje à tarde, centenas de pessoas, principalmente bielorrussos exilados em Kiev, se reuniram em frente à embaixada deste país com retratos de Shishov e bandeiras vermelhas e brancas, características da oposição.
"Não conseguiremos nada com um processo pacífico", disse a companheira de Shishov à multidão, entre lágrimas. "Larguem seus cartazes e peguem suas armas!", declarou.
Washington e as Nações Unidas pediram a Kiev para investigar minuciosamente a morte de Shishov. O porta-voz do presidente Volodimir Zelenski afirmou que "acompanha de perto a investigação".
Vários bielorrussos fugiram do país e seguiram especialmente para Ucrânia, Polônia e Lituânia, em um período de intensa repressão da oposição ao regime de Lukashenko, que governa desde 1994 a ex-república soviética que fica no meio do caminho entre a UE e a Rússia.
"Os bielorrussos não estão seguros no exterior", disse no Telegram a líder da oposição bielorrussa no exílio, Svetlana Tikhanovskaya.
O caso de Vitali Shishov aconteceu um dia depois do incidente nos Jogos Olímpicos de Tóquio com a atleta bielorrussa Kristina Tsimanuskaya, que afirmou ter sido obrigada a abandonar a competição e foi ameaçada de ser enviada de volta ao país depois que criticou a federação de atletismo de Belarus nas redes sociais.
A velocista de 24 anos se refugiou na embaixada da Polônia, país que concedeu visto humanitário na segunda-feira.
O histórico movimento de protesto após as eleições em Belarus no ano passado foi reprimido com várias detenções, exílios forçados de opositores e o desmantelamento de muitas ONGs e meios de comunicação independentes.
KIEV