Os cidadãos dos países signatários do Convênio Europeu de Direitos Humanos "detidos nesses acampamentos estão submetidos à jurisdição desses Estados", afirma Dunja Mijatovic, em suas observações transmitidas ao Tribunal Europeu de Direitos Humanos (TEDH).
O tribunal deve analisar em setembro os casos de jovens que se uniram à organização extremista Estado Islâmico (EI) e que agora estão detidas com seus filhos na Síria. A decisão será adotada vários meses depois.
"A situação sanitária e de segurança (nesses acampamentos) põe em risco a vida, a saúde física e mental dos detidos, especialmente das crianças, e é incompatível com a proibição da tortura e de tratamentos desumanos ou prejudiciais estabelecidos no artigo 3 da Convenção", explica a comissária.
Na sua opinião, "a única forma de os Estados cumprirem sua obrigação de adotar medidas para impedir que as pessoas sob sua jurisdição sejam submetidas a tratamentos" desumanos ou prejudiciais "consiste em repatriar seus cidadãos".
"A rejeição de alguns Estados em fazer isso pode dificultar o exercício efetivo do direito ao respeito da vida privada e familiar dessas pessoas", continua Mijatovic.
Cerca de 200 crianças e 80 franceses estão detidos na Síria - desde a queda em março de 2019 do "califado" do grupo Estado Islâmico -, em acampamentos no nordeste do país, controlados pelos curdos.
A França manteve uma política de retorno caso por caso para essas crianças (35, em sua maioria órfãs, foram repatriadas até agora) e considera que os adultos deveriam ser julgados no local.
Recentemente, Alemanha, Finlândia e Holanda realizaram repatriações. Dinamarca e Bélgica anunciaram que preparariam o retorno de um grupo de crianças.
- Mais centros de reabilitação para menores do EI -
Neste contexto, os curdos da Síria retiraram cerca de trinta adolescentes do campo de Al Hol para levá-los a um centro de reabilitação para filhos de extremistas, informou uma autoridade local, que pediu ajuda internacional para criar mais instituições deste tipo.
O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICR) alertou, na quarta-feira, que havia centenas de menores, "principalmente meninos, alguns de apenas 12 anos" detidos em "prisões para adultos, onde não é seu lugar".
Depois de realizar várias ofensivas contra o grupo extremista Estado Islâmico (EI), as autoridades semiautônomas curdas do nordeste da Síria administram atualmente a presença de milhares de combatentes em suas prisões e de milhares de mulheres e crianças nos campos.
O responsável das Relações Exteriores do governo curdo, Abdelkarim Omar, reconheceu a detenção de menores, mas afirmou que estavam detidos em seus bairros e separados dos adultos, destacando a importância de criar centros de reabilitação.
"O lugar das crianças não é nem na prisão nem nos campos", disse à AFP.
"Entre 30 e 35 de mais de doze anos saíram de Al Hol, estamos preparando um centro de reabilitação em Hasake [nordeste], estará pronto nos próximos dias", acrescentou.
Nas barracas de Al Hol vivem quase 62.000 pessoas, incluindo cerca de 10.000 mulheres e crianças estrangeiras instaladas em um anexo cercado, segundo a ONU, que alertou que pode haver "casos de radicalização".
Nesse campo, "os meninos, especialmente, vivem com medo e desconfiança constantes. Quando alcançam uma certa idade, muitos são separados de suas famílias e são levados para centros de detenção para adultos", declarou Fabrizio Carboni, diretor do CICR no Oriente Médio.
BEIRUTE