(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas LONDRES

Reino Unido, entre divisões e mudanças após Brexit


01/01/2021 13:05 - atualizado 01/01/2021 13:07

Depois de completar, no dia 31, o longo e turbulento processo do Brexit, o Reino Unido começou o ano, nesta sexta-feira (1o), como país "independente", pela primeira vez em quase meio século, com novas regras fronteiriças, importantes desafios e profundas divisões.

Sua saída da União Europeia, que dominou a política britânica desde o polêmico referendo de 2016, completou-se uma hora antes da meia-noite, quando, com o fim do período de transição pós-Brexit, o país abandonou completamente o bloco em que havia entrado em janeiro de 1973.

"Estou realmente muito triste de não ser mais europeu", lamentou hoje o londrino Julian Clarke. "Por fim, saímos, mas não acho que as coisas vão mudar enormemente na realidade", comentou Ron Withers, também nas ruas da capital.

Há, no entanto, mudanças práticas: terminou, por exemplo, a livre-circulação de pessoas entre as duas margens do Canal da Mancha.

Com a separação da UE, terminou na sexta-feira a livre-circulação de pessoas entre as duas margens do Canal da Mancha. A partir de agora, cidadãos de todos os 27 países europeus precisarão de visto para trabalhar e estudar no Reino Unido, embora aqueles que residiam lá antes da separação manterão seus direitos.

Também nas fronteiras de um país que importa grande parte do que consome voltam a ser realizados controles aduaneiros esquecidos durante décadas, apesar da assinatura de um acordo comercial com Bruxelas que evitou o caos nas trocas.

- Fluidez nas fronteiras -

Durante a noite, quase 200 caminhões cruzaram sem problema o túnel subaquático que liga o continente europeu à Grã-Bretanha.

"Todos os caminhões cumpriram as formalidades" agora impostas pelo Brexit, "não houve recusas", disse um porta-voz à AFP.

Natacha Bouchart, prefeita da cidade francesa de Calais, onde fica a entrada continental do túnel, apertou simbolicamente o botão que autorizou a passagem do primeiro caminhão após a meia-noite.

"Este é um momento histórico (...) são 48 anos de retrocesso com consequências para as quais ainda não temos todas as dimensões", declarou.

Também chegaram de madrugada ao porto britânico de Dover, sem atraso e sem confusão, os primeiros veículos pesados transportados por balsa.

"É bom ver que o porto foi preparado e que não há atrasos", disse Alan Leigh, 52, enquanto caminhava ao longo das falésias com vista para o cais.

O romeno Alexandru Mareci, de 29 anos, desembarcou com seu caminhão carregado com 23 toneladas de tomates marroquinos. "Foi tudo normal", disse ele à AFP, destacando, porém, que o tráfego está reduzido pelo feriado.

"Quantas pessoas vocês conhecem que trabalham no Ano Novo? Não sabemos como vai ser (o Brexit) no futuro", completou, reconhecendo que desconhece as novas formalidades introduzidas progressivamente.

A associação setorial britânica de transporte rodoviário estimou que, agora, cerca de 220 milhões de novos formulários terão de ser preenchidos a cada ano para permitir que o comércio flua com os países da UE.

"Esta é uma mudança revolucionária", disse o diretor-geral da associação, Rod McKenzie, ao The Times esta semana.

Outra mudança histórica foi anunciada ontem pela ministra espanhola dos Assuntos Exteriores, Arancha González Laya: Londres e Madri chegaram a um acordo de último minuto para deixar aberta a fronteira entre Espanha e Gibraltar.

O pequeno território britânico situado no extremo sul da Península Ibérica será integrado ao espaço Schengen europeu para, ao contrário do restante do Reino Unido, manter a liberdade de circulação das pessoas.

Desaparece, assim, o "portão" histórico, a fronteira fechada em 1969 pelo ditador espanhol Francisco Franco, em que a passagem livre - sob controle - foi restaurada somente em 1985, dez anos após sua morte.

"Não temos um bom passado com os espanhóis. Vamos ver o que acontece", afirmou Jeff Saez, um funcionário de hotel de 43 anos, que percorria o Rochedo de Gibraltar de bicicleta.

- Separatismo escocês -

Também na Irlanda do Norte se vigiará de perto a fronteira com a vizinha República da Irlanda - um país-membro da UE -, para garantir que o movimento continue sem restrições. Este é um elemento-chave do Acordo de Paz da Sexta-feira Santa, que encerrou, em 1998, três décadas de um sangrento conflito entre republicanos católicos e unionistas protestantes.

Enquanto isso, na Escócia pró-europeia, a primeira-ministra pró-independência, Nicola Sturgeon, alertou sobre a batalha iminente que se aproxima para conseguir um novo referendo de autodeterminação. Os separatistas já foram derrotados em uma consulta em 2014.

"A Escócia estará de volta em breve, Europa. Deixem as luzes acesas", tuitou Sturgeon, cujo partido SNP espera que sua país possa um dia reintegrar a UE como um estado independente.

"O Brexit põe uma barreira entre a minha capacidade de ser escocês e minha capacidade de ser britânico", lamentava o aposentado Bruce Borthick, nas ruas de Edimburgo. "A consequência pode ser que a Escócia não possa continuar fazendo parte do Reino Unido", acrescentou.

Apesar das divisões e dos desafios, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, voltou a prometer a seus compatriotas uma nova era repleta de êxitos e um lugar mais forte no mundo para seu país como campeão do livre-comércio.

Com a Presidência britânica do G7 e a organização da grande conferência climática COP26, 2021 será "um ano muito importante" para a influência do Reino Unido, tuitou.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)