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Estado de Minas

A laicidade francesa, um modelo difícil de explicar fora da França


17/11/2020 09:49

O presidente francês Emmanuel Macron gerou recentemente uma polêmica no mundo muçulmano ao defender a laicidade francesa após uma série de ataques jihadistas, incluindo o assassinato de um professor que havia mostrado em sala de aula caricaturas do profeta Maomé publicadas pela revista satírica Charlie Hebdo.

Mas suas declarações também despertaram críticas de alguns meios de comunicação anglo-saxões, o que ilustra a dificuldade de explicar esse modelo francês fora de suas fronteiras.

"A França está alimentando o terrorismo muçulmano ao tentar evitá-lo?", questionou o New York Times, enquanto o Washington Post aconselhou Macron a lutar contra o racismo em vez de tentar "reformar o Islã".

O Financial Times também publicou uma coluna criticando a posição francesa, que foi rapidamente retirada devido a "erros factuais", segundo o jornal.

Em contrapartida, o semanário The Economist defendeu a posição francesa.

Para os analistas, isso ilustra o contraste entre a abordagem francesa da integração dos imigrantes e a dos países anglo-saxões, que agrupam as comunidades em um enfoque multiculturalista.

Isso, no entanto, não poupou os países anglo-saxões de ataques jihadistas, embora a França tenha sido particularmente atingida por eles desde que a revista Charlie Hebdo republicou caricaturas do profeta Maomé, quando o julgamento dos ataques de 2015 começou.

- "Assimilação" -

"O modelo francês foi pensado para ser assimilativo, embora na prática nem sempre o faça bem", estima François Heisbourg, da Fundação para a Pesquisa Estratégica de Paris.

"Há uma França, não um grupo de muçulmanos, sikhs e outros. Não estamos no Canadá", diz ele, explicando o objetivo da assimilação.

Precisamente, no Canadá, o primeiro-ministro Justin Trudeau adotou o ponto de vista oposto ao de seu aliado francês, avaliando que a liberdade de expressão tem "limites" e não deve "prejudicar arbitrariamente e desnecessariamente" certas comunidades, o que causou uma feroz controvérsia no país.

Na França, o apoio à exigência de que os imigrantes adotem os valores franceses parece mais forte do que nunca desde a decapitação do professor Samuel Paty em outubro, que havia mostrado a seus alunos caricaturas do profeta Maomé durante uma aula sobre liberdade de expressão.

Na homenagem nacional a Paty, Macron defendeu a laicidade francesa e sua longa tradição de sátira. "Não vamos abandonar as caricaturas", assegurou.

A posição foi aclamada pelo The Economist: "Os herdeiros de Voltaire... a França tem razão em defender a liberdade de expressão", disse o semanário.

Mas o presidente francês teve que mostrar sua cara várias vezes para defender suas posições, especialmente depois de seu discurso no início de outubro sobre um Islã "em crise" e contra o "separatismo islâmico" na França.

O Financial Times, jornal britânico bastante favorável ao presidente francês, publicou um artigo de um especialista francês sobre o Islã, Olivier Roy, intitulado "A batalha francesa contra o 'separatismo' islâmico está em contradição com o compromisso com a liberdade".

Em uma carta ao Financial Times, Macron negou ter estigmatizado os muçulmanos e defendeu sua posição: "A França - estamos sendo atacados por isso - é igualmente laica para os muçulmanos quanto para os cristãos, judeus, budistas e todos os crentes".

- Identidade -

A ideia de que os recém-chegados devem se integrar harmoniosamente à sociedade francesa remonta aos tempos coloniais, quando a adoção dos costumes franceses, incluindo a vestimenta ocidental, era um dos critérios para a concessão da cidadania.

O ex-presidente conservador Nicolas Sarkozy (2007-2012) foi um defensor ferrenho da assimilação. Este descendente de imigrantes afirmou em 2017 que "assim que alguém se torna francês, seus ancestrais são os gauleses".

A laicidade está enraizada na França. A Revolução Francesa (1789) quis romper entre a ordem política e a ordem divina; O anticlericalismo era muito forte no século XIX e seu ápice veio em 1905 com a lei que levou à separação entre Igreja e Estado.

Os defensores da laicidade costumam citar essa lei para desafiar os símbolos religiosos na esfera pública, como em 2004, quando o uso de lenços de cabeça e outros símbolos religiosos foi proibido nas escolas públicas. Também tem sido usado para defender o direito à blasfêmia.

Mas alguns muçulmanos e analistas que apoiam o modelo anglo-saxão acreditam que essa laicidade é um pretexto para atacá-los.

"Sob o pretexto de um debate sobre valores, trata-se na verdade um debate sobre a identidade", disse à AFP Christophe Bertossi, diretor do Centro para a Migração e Cidadania do Instituto Francês de Relações Internacionais.


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