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Estado de Minas Estados Unidos

Trump é favorito em Valadares

Eleições na América dividem opiniões em cidade do Vale do Rio doce, mas o presidente surfa na onda do aliado Jair Bolsonaro, apesar da política de deportações do republicano


03/11/2020 04:00

Imagem da Estátua da Liberdade em rua do munícipio, cuja economia tem forte impacto do dinheiro dos imigrantes que foram para os EUA(foto: Tim Filho/Divulgação)
Imagem da Estátua da Liberdade em rua do munícipio, cuja economia tem forte impacto do dinheiro dos imigrantes que foram para os EUA (foto: Tim Filho/Divulgação)
A eleição presidencial nos Estados Unidos interessa muito aos mineiros de Governador Valadares, cidade do Leste de Minas que ganhou fama nacional por ter milhares de valadarenses morando naquele país. E na disputa entre o republicano Donald Trump e o democrata Joe Biden, Trump leva a melhor entre os valadarenses. Sua imagem é associada ao presidente Jair Bolsonaro, aliado de Trump, e que já se posicionou a favor da reeleição do candidato republicano.

Como na eleição presidencial de 2018 Bolsonaro obteve 71,07% dos votos válidos na cidade, contra 28,73% de Fernando Haddad, são majoritárias as opiniões favoráveis a Trump. Mas há um componente intrigante nessas opiniões: a maioria opina “off the records”, como dizem os americanos, evitando se expor ou expor os parentes que moram nos Estados Unidos.

Mas há quem fale abertamente sobre suas relações com os imigrantes, amigos e parentes e sobre  a preferência por Biden ou Trump. Ronan Morais Araújo, designer gráfico, tem muitos amigos nos Estados Unidos, todos muito próximos, “com se fossem irmãos”. E todos estão fechados com Trump. “Eles preferem a linha conservadora de Trump e veem nele as ideias de Bolsonaro”, disse Ronan, que ouve de seus amigos imigrantes que o partido Democrata se equivale ao PT nos Estados Unidos.

“Na última eleição nos Estados Unidos, que deu a vitória a Trump, todos os meus amigos diziam que a América, com Trump, bombaria na economia. E eles continuam sendo Trump, claro. Eles querem é ganhar dinheiro”, disse. Se pudesse votar para presidente dos Estados Unidos, Ronan daria seu voto a Trump.

"Acho que a maioria dos valadarenses não está preocupada com a eleição, e sim com o dólar. Valadares é a única cidade do Brasil que comemora a desvalorização do real em relação ao dólar. Os dólares que chegam aqui são investidos na construção civil"

Roberta Elena da Silva, funcionária pública


Política de deportações

Ainda que pareça contraditório, para alguns imigrantes, as pautas conservadoras de Trump interessam mais que o debate acerca das deportações de brasileiros. Maria Izabel Sobrinho, designer de moda, que tem parentes nos Estados Unidos, disse que eles preferem Trump. Ela comenta que seu cunhado, que mora na Flórida, disse a ela que o atual presidente dos Estados Unidos preza os valores cristãos, se posiciona contra o aborto e a união civil homoafetiva. Segundo ela, por isso Trump vai receber muitos votos dos brasileiros e hispânicos da Flórida. Izabel não sabe dizer pra quem torce. “Para mim, tanto faz”, disse.

Wilma Silva, comerciária, tem um irmão morando em Boston, e que nega o conservadorismo de Trump. Além disso, ele não aprova o discurso do atual presidente dos Estados Unidos contra os imigrantes. “Eu não votaria em Trump jamais”, disse Wilma, apoiando o irmão. Athos Reis, bombeiro civil, que tem um irmão e vários amigos morando nos Estados Unidos, disse que todos eles querem ver Biden na Casa Branca. “Eles já me disseram que Trump, mesmo no período eleitoral, está perseguindo os imigrantes”.

Eles querem dólar 

Biden é o “queridão” de Roberta Elena da Silva, funcionária pública, que considera Trump racista e negacionista. Elena tem uma prima morando nos Estados Unidos, que não entra em discussões relacionadas aos imigrantes quando o assunto é a disputa eleitoral americana.

“Acho que a maioria dos valadarenses não está preocupada com a eleição, e sim com o dólar. Valadares é a única cidade do Brasil que comemora a desvalorização do real em relação ao dólar. Os dólares que chegam aqui são investidos na construção civil. Mas isso tem um lado ruim: arroz, óleo e carne são cotados pelo dólar e o preço vai lá nas alturas, não é mesmo?”

Lino Leal, que tem um depósito de material de construção no Bairro Esperança concorda com Roberta Elena e diz que, nesse período de alta do dólar, quem recebe as verdinhas vindas dos Estados Unidos, aproveita para construir ou reformar. E está satisfeito com as vendas. “Eu acho que essa preocupação sobre quem é melhor para os imigrantes, Trump ou Biden, fica em segundo plano. Os imigrantes querem ganhar em dólar”, disse.

Mas a maioria dos valadarenses está mesmo com Trump e segue a linha de pensamento de Edson Delana, o imigrante conservador que mandou instalar em Valadares os outdoors de apoio ao presidente dos Estados Unidos. Muitos valadarenses que foram ouvidos pelo Estado de Minas, até mesmo aqueles que têm parentes sem documentos legais na região da Flórida, disseram apoiar Trump, independentemente da polêmica em torno das prisões e deportações. São conservadores e de direita, assim como grande parte do contingente que deu 71,07% dos votos válidos a Bolsonaro, na eleição de 2018.

Voto no Brasil

Segundo a embaixada americana em Belo Horizonte, cidadãos americanos no exterior podem enviar suas cédulas para os Estados Unidos ou deixar sua cédula em uma embaixada ou consulado dos EUA, que então envia as cédulas para os Estados Unidos, através de bolsa diplomática.  O Serviço Postal dos EUA, então, envia essas cédulas para os conselhos eleitorais locais. Para participar é preciso que cada indivíduo preencha o formulário do Federal Post Card Application (FPCA), no site do Federal Voting Assistance Program (https://www.fvap.gov/) ou na página da ONG Overseas Vote Foundation (www.overseasvotefoundation.org/). Os cidadãos americanos não precisam usar os serviços da embaixada para votar.  Segundo o órgão, até o momento, centenas de americanos no Brasil votaram pela Embaixada e consulados. “Muitos outros nos pediram informações sobre como votar ausente, e acreditamos que a maioria das pessoas votou por conta própria”, explicou a assessoria.


Com a palavra os eleitores
Ana Mendonça*

As eleições presidenciais americanas, que acontecem amanhã dividem opiniões em todo mundo. Desde a maneira como lidar com a pandemia do novo coronavírus até as medidas internas americanas, os dois candidatos têm planos para o governo da maior potência mundial, em grande parte, diferentes. De um lado, o republicano e atual presidente Donald Trump apresenta ideias mais conservadoras. Do outro, o democrata e ex-vice-presidente Joe Biden, reluta para impor ideias sociais e liberais. Pondo em vista a diferença dos discursos dos candidatos, o Estado de Minas conversou com dois eleitores norte-americanos para entender um pouco sobre do cenário americano.

 *Estagiária sob supervisão do subeditor Marcílio de Moraes



Um republicano
Luis Alejandro Aristeiguieta, venezuelano naturalizado norte-americano

"Para mim, o pessoal do Biden está totalmente errado. Não ele em si, mas o que ele representa e a vice-presidente, Kamala Harris, também. É um corrupto"

O atual presidente Donald Trump tem 74 anos e nasceu em Nova York. Em 2016, foi eleito o 45º presidente dos Estados Unidos, como um candidato republicano de fora do meio político. Isso porque, Trump ganhou fama sendo apresentador de reality shows e como empresário. Caso seja reeleito, será o presidente mais velho a assumir um novo mandato.

Em seu discurso, Trump prega ideias como o relaxamento das medidas contra o novo coronavírus, o corte do fluxo migratório do México e dos países América Central, além de defender uma política externa que coloca a “América” primeiro nas relações com outros países e uma política de “tolerância zero” com os imigrantes sem documentos. Trump é cético em relação à mudança climática e busca dificultar ao máximo o acesso ao aborto, retirando proteções federais às mulheres que optam por realizar o procedimento.

Eleitor de Trump e morador da cidade de Miami, o venezuelano naturalizado americano, Luis Alejandro Aristeiguieta, de 46 anos, mantém uma relação com a cidade de Belo Horizonte. De acordo com ele, as eleições presidenciais americanas afetam o Brasil de forma expressiva. Ele explica que, por ter passado por um governo socialista em seu país natal, ele nunca votaria em “nada que viesse da esquerda”. “Eu sei como governos de esquerda funcionam e não votaria jamais em nenhum. Eu não uso nem minha mão esquerda”, brincou.

“Para mim, o pessoal do Biden está totalmente errado. Não ele em si, mas o que ele representa e a vice-presidente, Kamala Harris, também. É um corrupto, inclusive com escândalos, como o caso do filho dele na Rússia. Trump não é um santo, mas nos quatro anos de governo a economia bombou. Nunca foi tão boa”, conta. Apesar disso, Luís diz que a única coisa que ele não aprova no Governo Trump é “ele”. “Ele pega o Twitter e começa a falar demais. É um cara antipático e prepotente. O cara é assim, mas faz as políticas que eu gosto.”


Um democrata
Tylere Golembeski, norte-americano

"Não sou a favor dos interesses do presidente Trump, não acho que ele coloque os interesses do povo na agenda dele. Ele lidera mais por ele"


Joe Biden nasceu na Pensilvânia e tem 77 anos. Atualmente, vive em Delaware, estado pelo qual foi eleito seis vezes senador democrata desde 1972. Ele foi vice-presidente dos EUA, entre 2009 e 2017, no governo Barack Obama. Caso ele seja eleito, será o presidente mais velho a assumir o cargo nos Estados Unidos.

Em seu discurso, o democrata fala sobre a pandemia do novo coronavírus, do ponto de vista da ciência e aprova o desenvolvimento acelerado de uma vacina contra a COVID-19. Além disso, já afirmou que quer oferecer ao Brasil um fundo internacional de US$ 20 bilhões para deter o desmatamento na Amazônia e quer retirar a “grande maioria” dos soldados americanos do Afeganistão. Biden também propõe aumentar o salário mínimo de US$ 7,25 para US$ 15 por hora e evitar cortes à seguridade social, além de apoiar a imigração. O democrata é a favor do aborto legal e propõe que os EUA alcancem “uma economia de energia 100% limpa com resultado líquido zero de emissões”.

Morador de Belo Horizonte, o americano Tyler Golembeski, 48 anos, vai votar no democrata. De acordo com ele, o democrata tem as crenças políticas mais alinhadas com as dele. Ele explica, que a escolha do voto vem muito de frente aos pensamentos do adversário Donald Trump. “Não sou a favor dos interesses do presidente Trump, não acho que ele coloque os interesses do povo na agenda dele. Ele lidera mais por ele”, explica.

Tyler explica que Biden tem um lado social que o convence melhor. “Acho que tem muito mais a ver com as ideias sociais. Por exemplo, os direitos humanos”, diz. Segundo ele, Biden cede muito as demandas do partido democrático, o que acaba sendo um defeito. “Acho que ele poderia se beneficiar um pouco dos dois lados. Nem todos os republicanos são ruins e nem todos os democratas são bons”, explica.

Apesar disso, Tyler afirma que o ex-vice-presidente é a melhor escolha para 2020. O americano ainda diz que está confiante e que Biden deve vencer as eleições deste ano. “Tudo indica que ele vai ganhar e esse é um bom momento para uma mudança.”


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