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Estado de Minas MEMÓRIA

Sean Connery jamais se limitou a James Bond

Legado do ator irlandês, que morreu ontem, extrapola o icônico agente 007. Ele brilhou como o frade franciscano de 'O nome da rosa', o pai de Indiana Jones e o policial de 'Os intocáveis'


01/11/2020 04:00 - atualizado 31/10/2020 21:43

Sean Connery como James Bond, ícone dos agentes secretos, no filme Moscou contra 007 (foto: MGM/divulgação)
Sean Connery como James Bond, ícone dos agentes secretos, no filme Moscou contra 007 (foto: MGM/divulgação)
Era batata. A cada lançamento de um novo ator no papel de James Bond, a imprensa corria para dizer que nunca haveria um 007 como Sean Connery. Cinco atores o sucederam na função de interpretar no cinema o mais charmoso e mordaz dos agentes secretos britânicos, mas todos (George Lazenby, Roger Moore, Timothy Dalton e Pierce Brosnan), à exceção de Daniel Craig, não fizeram muito além do célebre personagem de Ian Fleming.

Sean Connery foi maior do que a criatura. Lamentada em todo o mundo, a morte do ator, aos 90 anos, foi anunciada ontem (31) pela BBC e confirmada pela família. Ele morreu enquanto dormia, em sua casa nas Bahamas.

Primeiro dos 007, personagem que interpretou em seis filmes de 1962 a 1971 (houve um sétimo, de 1983, produção menor que não integra a franquia original), o ator teve carreira relevante e prolífica depois de James Bond.

Connery já havia saído de cena há tempos. Em 2005, anunciou sua aposentadoria das telas. Seu último filme, A liga extraordinária, fracasso de crítica e público, foi lançado dois anos antes. Mesmo sem filmar há tanto tempo, seu nome continuou relevante. Em agosto, o ator foi eleito o melhor intérprete de James Bond em uma pesquisa da tradicional publicação britânica Radio Times. Mais de 14 mil pessoas votaram e Connery obteve 56% dos votos.
Sean Connery com Kevin Costner em Os intocáveis, papel que lhe rendeu o Oscar (foto: Paramount Pictures/divulgação)
Sean Connery com Kevin Costner em Os intocáveis, papel que lhe rendeu o Oscar (foto: Paramount Pictures/divulgação)

ACASO 
Nascido em 25 de agosto de 1930 em Edimburgo, Escócia, em uma família pobre da classe trabalhadora, Thomas Sean Connery chegou ao cinema quase por acaso. Aos 16 anos, abandonou a escola para servir à Marinha. Tinha, na época, três paixões: futebol, boxe e mulheres.

Como todo bom marinheiro, fez tatuagens, duas no antebraço direito. Uma traz um esquilo e um pássaro com a inscrição “Mamãe e Papai”; a outra, com um coração e uma faca cravada, diz: “Escócia para sempre”. Família e Escócia, foram, desde então, duas prioridades.

Uma úlcera levou Connery para a vida civil. Para sobreviver, fez de tudo um pouco: foi professor de natação, polidor de caixões, entregador de carvão, pedreiro, motorista e guarda-costas. Dedicou-se ao fisiculturismo e conseguiu o terceiro lugar no Mister Universo 1950, em Londres.

Tinha 27 anos quando começou a carreira de ator, primeiramente na TV britânica. A grande chance, em 1962, com o primeiro filme de James Bond, O satânico Dr. No, foi conseguida graças a alguma insolência.

sem teste 
“Eles me aceitam como sou ou me esquecem”, afirmou, ao se negar a fazer teste para o espião. Levou 6 mil libras de cachê para viver na tela o personagem que dirigia a toda um Aston Martin, seduzia as mulheres e só bebia dry martini, “batido, não mexido”.

“É impossível ter vivido os anos 1960 e não ter lamentado, em certos momentos da vida, não ser Sean Connery”, escreveu Christopher Bray em Sean Connery: The measure of a man (A medida de um homem, 2010). “Um ícone secular que não participa de filmes, mas os filmes nascem em torno da ideia única de sua presença”, afirmou.

Em 1983, quando interpretou pela última vez o papel, em 007 – Nunca mais outra vez, o ator afirmou: “Ao contrário do que algumas pessoas pensam, sempre gostei de Bond, embora às vezes o achasse desagradável”.

Naquele momento, Connery já havia trabalhado com grandes cineastas – Alfred Hitchcock, Sidney Lumet, John Huston –, mas somente a partir dos anos 1980 ele tornou astro internacional, embora a crítica lhe conferisse essa reputação antes. Dois filmes de 1986 – Highlander: O guerreiro imortal e O nome da rosa – foram, em boa parte, responsáveis por sua popularidade.

O Bafta deu a ele o prêmio de melhor ator pela adaptação do romance de Umberto Eco. Connery recebeu seu único Oscar por Os intocáveis (1987). Naquele período, houve desacertos na carreira, claro, como no caso de Mais forte que o ódio (1988) e Negócio de família (1989). Mas foi uma bola dentro Steven Spielberg colocá-lo como o pai de Indiana Jones no terceiro filme da franquia (Indiana Jones e a última cruzada, 1989). O longa arrecadou quase meio bilhão de dólares.

Na década de 1990, estrelou outros sucessos, como A caçada ao Outubro Vermelho (1990). Sean Connery era tão popular que sua participação especial (sem créditos) como o rei Richard em Robin Hood: O príncipe dos ladrões (1991) se tornou um dos destaques do filme, que não era lá grande coisa.

CÂNCER 
Com salário de US$ 5 milhões por produção, o ator fez parte também dos elencos de Highlander 2: A ressurreição (1991), O curandeiro da selva (1992) e Sol nascente (1993). Nesta época, foi diagnosticado com câncer na garganta. Ao se recuperar, continuou na ativa, principalmente em filmes de ação, como A rocha (1996), no qual viveu um personagem muito calcado em sua experiência como James Bond.

Quando completou sete décadas de vida, o poder da estrela de Connery permaneceu tão forte que ele era constantemente solicitado e bem remunerado. Em 1999, foi escolhido “o homem mais sexy do século” pela revista People. E os dias de 007 serviram de inspiração para seu personagem em Armadilha (1999), contracenando com a muito mais jovem Catherine Zeta-Jones. A idade parecia apenas intensificar seu apelo sexual e virilidade.

Em Encontrando Forrester (2000), recebeu boa cotação dos críticos ao viver alguém fora de sua zona de conforto. No drama, interpretou o escritor recluso que se torna mentor de um jovem jogador de basquete que também quer se dedicar à escrita.

Alguns acreditam que a luta do ator pela autonomia da Escócia adiou até 2000 a concessão de um título de nobreza pela rainha Elizabeth II. Sir Sean Connery viveu “no exílio” entre o Sul da Espanha, os Estados Unidos e as Bahamas – afirmou que só retornaria à Escócia quando o país fosse independente.
Com Christian Slater em O nome da rosa, adaptação do livro de Umberto Eco(foto: Constantin Film/divulgação)
Com Christian Slater em O nome da rosa, adaptação do livro de Umberto Eco (foto: Constantin Film/divulgação)

GOLFE 
Nos últimos anos, foram poucas as aparições públicas do ator, que morava principalmente em Nova York com a segunda mulher, a francesa Micheline Roquebrune, que conheceu jogando golfe. Os dois se casaram em 1975.

“Como ela não falava inglês e eu não falava francês, havia poucas chances de termos discussões estúpidas. Por isso nos casamos tão rapidamente”, explicou o ator, que também foi casado com a atriz australiana Diane Cilento, com quem teve seu único filho, o ator Jason Connery. (Com agências)

O eterno 007
» O satânico Dr. No (1962)
» Moscou contra 007 (1963)
» 007 contra Goldfinger (1964)
» 007 contra a chantagem atômica (1965)
» Com 007 só se vive duas vezes (1967)
» 007 – Os diamantes são eternos (1971)
» 007 – Nunca mais outra vez* (1983)
* A refilmagem de 007 contra a chantagem atômica não é considerada uma produção da franquia original

MUITO ALÉM DE 007

» Assassinato no Expresso do Oriente (1974)
Direção: Sidney Lumet. Juntos, Connery e o cineasta norte-americano realizaram cinco filmes. Nessa adaptação do romance de Agatha Christie recheada de estrelas (Ingrid Bergman, Lauren Bacall, Vanessa Redgrave e Albert Finney), Connery interpretou o coronel Arbuthnot, militar britânico que vinha da Índia para um período de licença em casa.

» O homem que queria ser rei (1975)
Direção: John Huston. Um duelo de gigantes. Sir Sean Connery e sir Michael Caine interpretam soldados britânicos confundidos com deuses em um lugar perdido do Himalaia. Enquanto o personagem de Caine cai na real, o de Connery é tomado pela sede de poder e passa a viver uma grande mentira.

» O nome da rosa (1986)
Direção: Jean-Jacques Annaud. Umberto Eco, autor do romance, não gostou da adaptação. Mas não há como negar que o thriller ajudou a popularizar a obra do escritor. Connery é o frade franciscano William de Baskerville, religioso com ares de Sherlock Holmes que decifra uma série de assassinatos em um mosteiro italiano no século 14.

» Os intocáveis (1987)
Direção: Brian De Palma. O filme deu a Connery seu único Oscar, de ator coadjuvante (na única vez em que foi indicado). Ele faz o papel de Jim Malone, policial veterano que ao lado de Eliot Ness (Kevin Costner) encabeça o grupo que vai atrás de Al Capone (Robert De Niro) na Chicago dos anos 1930.

» Indiana Jones e a última cruzada (1989)
Direção: Steven Spielberg. Aqui, Connery está em raro papel leve e bem-humorado, em notável sintonia com Harrison Ford. A dupla, com apenas 12 anos de diferença, viveu pai (o professor Henry Jones) e filho (o aventureiro Indiana Jones).

» A caçada ao Outubro Vermelho (1990)
Direção: John McTiernan. As histórias do personagem Jack Ryan, agente da CIA criado pelo escritor Tom Clancy, ganharam vários longas e séries. Mas este é, sem dúvida, o melhor filme. Connery é Marko Ramius, comandante de um submarino nuclear russo que pode ou não estar desertando para os EUA. Ele rouba a cena de Alec Baldwin, que vive Ryan.


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