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Estado de Minas

Vinte anos depois, retirada de Israel serve para recrutamento do Hezbollah no Líbano


postado em 24/05/2020 10:55

Jalal tinha apenas três anos quando Israel se retirou do sul do Líbano em 2000, após uma sangrenta guerra travada pelo Hezbollah. Duas décadas depois, essa "vitória" é o cerne da lealdade que dedica à organização xiita.

"Sinto honra e orgulho por esta vitória histórica", assegura, fazendo referência a 24 de maio de 2000, o dia da retirada do exército israelense após 22 anos de ocupação, apresentada pelo Estado hebreu como uma retirada estratégica.

A participação de Jalal no Hezbollah é um assunto de família: seu irmão lutou na Síria nas fileiras do movimento, que apoia o regime de Bashar al-Assad.

Influente ator regional, o "Partido de Deus" foi criado em 1982 sob o impulso da Guarda Revolucionária iraniana para liderar no Líbano uma guerrilha contra as tropas israelenses.

Peso pesado político no Líbano, é classificado como uma organização "terrorista" por Washington - o mesmo vale para a União Europeia em relação a sua ala militar.

"Todos nós gostaríamos de ter estado ao lado do Hezbollah durante a guerra de libertação, a fim de lutar e nos sacrificar por nossa pátria", afirma Jalal, que assumiu um pseudônimo.

Hoje, a retirada de Israel e a "resistência" do Hezbollah e seus aliados tornaram-se para a organização um mito fundador, cuja memória é exaltada para recrutar as novas gerações.

Esse mito se perpetua enquanto "o partido precisa se aprofundar no passado (...) para dar sentido à sua presença política e à sua visão", explica Bashir Saade, autor de um livro sobre o Hezbollah e suas políticas de memória.

- "Israel continua presente" -

Única facção que se recusou a abandonar as armas após a guerra civil (1975-1990), o Hezbollah se tornou mais poderoso do que o exército nacional libanês.

O movimento inaugurou em 2010 um museu nas alturas de Mleeta, erguido sobre uma antiga posição mantida pela organização durante sua guerra de guerrilha.

Na entrada, um tanque israelense Merkeva foi instalado, com o cano dobrado, perto de sepulturas falsas de soldados israelenses.

Sob carvalhos, um manequim de uniforme militar está deitado em uma maca. Perto dali, outros dois carregam uma pesada caixa de munição.

Sob seus pés, serpenteia um túnel de 200 metros de comprimento, usado pelo grupo em sua luta contra o exército israelense.

"O objetivo do museu é fornecer às gerações futuras evidências tangíveis do que aconteceu", diz o guia do museu Mohammad Lamah.

O memorial é incomum, pois "não imortaliza um caso resolvido", enfatiza. "Israel continua presente".

- "Geração após geração" -

A retirada de Israel marcou a entrada do Hezbollah na arena política. Agora representado no governo, ele e seus aliados têm maioria no Parlamento.

Sua influência na comunidade xiita (30% da população libanesa) continua apoiada por uma vasta rede de escolas, hospitais e associações.

Financiado e armado por Teerã, o grupo fortaleceu seu arsenal, ignorando as sanções de Washington e os avisos do Estado hebreu.

No verão de 2006, Israel lançou uma ofensiva devastadora contra o Líbano, em retaliação pelo sequestro pelo Hezbollah de dois soldados israelenses na fronteira.

A guerra de 33 dias matou 1.200 libaneses, a maioria civis. Em Israel, 160 pessoas, a maioria soldados, também morreram.

Mas o Hezbollah se manteve firme, o que lhe permitiu renovar sua popularidade.

Nos últimos anos, o movimento de Hassan Nasrallah viu sua imagem prejudicada no mundo árabe devido ao seu envolvimento em vários conflitos regionais, principalmente na Síria.

Também é apontado em seu próprio país por sua intransigência e pela ameaça de suas armas durante as brigas políticas que regularmente abalam o Líbano.

Desde 2006, Israel e Hezbollah têm evitado outra guerra generalizada, apesar dos incidentes transfronteiriços.

Se os dois campos multiplicam as declarações de guerra, sabem que outro conflito não serviria aos interesses atuais, acreditam os especialistas.

A disputa se deslocou parcialmente para a Síria, onde Israel intensificou ataques contra grupos pró-iranianos nos últimos anos.

Durante anos, Abbas, um jovem libanês que também escolheu um pseudônimo, diz que ouviu sua família contar a retirada de Israel. Ele tinha quatro anos na época.

"Não entendia o que estava acontecendo, mas sabia por meus pais que era algo grandioso".

Hoje, foi totalmente conquistado pela retórica do Hezbollah.

"Geração após geração, aprendemos a lutar contra tiranos (...). Cada um de nós tem a ambição de pegar em armas para defender os oprimidos", afirmou.


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