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Estado de Minas

O 'apocalipse' da indústria têxtil em Bangladesh


postado em 17/04/2020 10:25

De um dia para o outro, Parvin, que com muito esforço trabalhava para fabricar roupas para as grandes marcas ocidentais, encontrou-se entre os milhares de operários desempregados do setor têxtil de Bangladesh, por conta do coronavírus.

Obrigadas a fecharem suas lojas no mundo inteiro para respeitar as medidas de confinamento, as grandes marcas de prêt-à-porter cancelaram pedidos que chegam a milhões de dólares em Bangladesh, um dos centros mundiais de produção de vestuário.

Com o fechamento em série das fábricas, muitos trabalhadores bengalis estão nas ruas, e os empregadores temem uma quebra.

"A situação é apocalíptica", afirma Asif Ibrahim, proprietário de uma fábrica e diretor da Associação de Fabricantes e Exportadores de Roupa em Bangladesh (BGMEA, na sigla em inglês).

A indústria têxtil é vital para a economia deste país do Sudeste Asiático e constitui um dos principais motores do boom econômico experimentado nas últimas duas décadas.

O setor de vestuário representa 80% das exportações nacionais, empregando mais de quatro milhões de pessoas - sobretudo, mulheres das zonas rurais mais pobres.

Parvin, uma costureira de 28 anos, esperou em uma longa fila junto com outros milhares de colegas, respeitando a distância de um metro, para receber o salário de março na fábrica Al-Muslim. É uma das maiores do país, produzindo para algumas das marcas mais famosas do prêt-à-porter. Fechou as portas até novo aviso.

"Não sabemos quando voltará a abrir", lamenta Parvin, que não tem outra fonte de renda e descreve sua situação financeira como "catastrófica".

"Muitas fábricas fecharam. Meu marido também está sem trabalho", desabafou.

Nos últimos tempos, milhares de operários - muitos ganhando apenas 100 dólares por mês - protestaram em várias cidades do país para para exigir o pagamento dos salários atrasados.

"Muitos de nós não temos comida em casa neste momento. Sequer podemos sair às ruas para pedir. Os mais pobres ririam de nós, já que temos trabalho", diz Didarul Islam.

"O que temos que fazer? Morrer de fome?", desabafa este operário de 38 anos, pai de dois filhos.

- Máquinas paradas -

A BGMEA e as associações equivalentes na China, Vietnã, Paquistão, Camboja e Mianmar pediram às marcas de prêt-à-porter que não cancelem seus pedidos.

"É a hora de as empresas mundiais manterem e honrarem seus compromissos com os direitos trabalhistas, a responsabilidade social e as cadeias de abastecimento sustentáveis", declararam estas organizações em um comunicado conjunto.

Algumas grandes empresas como a H&M; e a Inditex - matriz da Zara - prometeram manter as encomendas já feitas. Outras reduziram seus pedidos, segundo a BGMEA. E nenhuma promessa foi feita para o futuro.

A situação já é terrível em Ashulia, centro industrial da periferia de Daca, capital. Cerca de 600 fábricas estão instaladas nesta cidade, onde os operários vivem em favelas de concreto perto do local de trabalho.

Dono de uma fábrica que emprega 250 pessoas, Rubel Ahmed diz ter perdido 50% de sua atividade.

Para ele, esta pandemia é "100 vezes pior" do que o drama do Rana Plaza, em 2013. Ele se refere ao desabamento do prédio, onde funcionavam várias oficinas de confecção, que deixou 1.130 mortos e expôs ao mundo as precárias condições de trabalho dos operários do setor têxtil do país.

Os grupos de defesa destes trabalhadores exigem responsabilidade social dos atores deste setor.

"Quando a crise terminar, as pessoas vão se lembrar das marcas que responderam ao apelo para proteger estes trabalhadores, e as que não", afirmou Dominique Muller, da ONG britânica Labour Behind the Label.


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