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Estado de Minas

Papa ataca 'ganância', com presença de indígenas no Sínodo da Amazônia

O Papa Francisco celebrou neste domingo uma missa de abertura do Sínodo da Amazônia na Basílica de São Pedro, com atenção voltada aos incêndios na floresta.


postado em 07/10/2019 04:00 / atualizado em 06/10/2019 19:31

O papa Francisco recebeu indígenas provenientes da Amazônia, alguns vestindo trajes típicos(foto: Tiziana Fabi/AFP)
O papa Francisco recebeu indígenas provenientes da Amazônia, alguns vestindo trajes típicos (foto: Tiziana Fabi/AFP)

 
 
O papa Francisco abriu ontem o sínodo de bispos sobre a defesa da Amazônia e seus habitantes com uma dura condenação dos incêndios e "novos colonialismos". "O fogo aplicado pelos interesses que destroem, como o que devastou recentemente a Amazônia, não é o do Evangelho", disse Francisco durante missa solene na Basílica de São Pedro.
 
O papa criticou os "novos colonialismos que querem levar adiante apenas as próprias ideias, fazer o próprio grupo, queimar o diferente para uniformizar todos e tudo". Mais de 200 prelados, entre bispos e cardeais, participaram da cerimônia, bem como indígenas provenientes da Amazônia, alguns vestindo trajes típicos.
 
"Quantas vezes o dom de Deus não foi oferecido, e sim, imposto. Quantas vezes houve colonização, em vez de evangelização", reconheceu o pontífice. "Deus nos guarde da avidez dos novos colonialismos", clamou, ao se referir à história da imensa e rica região da América do Sul atingida em agosto por incêndios florestais que provocaram uma crise internacional.
 
Considerado o pontífice mais sensível aos problemas ambientais desde que publicou, em 2015, a encíclica Laudato Sí, o papa argentino deseja mobilizar e sensibilizar os dirigentes do planeta sobre os grandes males do enorme território, que tem mais de 30 milhões de habitantes. O papa se dirigiu aos católicos para que "não se apague o fogo missionário", que, para ele, deve ser "fogo de amor que ilumina, aquece e dá vida, e não um fogo que se espalha e devora", comentou, ao abordar um dos temas mais espinhosos do encontro, a evangelização desses povos com culturas muito diferentes.

MÃE TERRA "Ajude-nos a defender nossa Mãe Terra, não temos outra", pediu a missionária indígena brasileira Laura Vicuña horas antes da cerimônia. Deter o desmatamento e a devastação das comunidades indígenas são pontos-chave para o movimento católico da Amazônia e são os dois pontos de partida dos debates que começarão amanhã no Vaticano.
 
No total, 113 "padres sinodais" provenientes da região pan-amazônica, além dos bispos da região, com especialistas, missionários e indígenas, participarão por três semanas, até 27 de outubro, das reuniões convocadas sob o lema "Amazônia: novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral".
 
Cerca de 87 mil indígenas amazônicos foram consultados sobre as principais ameaças que pesam sobre suas comunidades, assediadas pelos que cobiçam petróleo, gás, madeira e ouro e sonham com mais extensões de monoculturas agroindustriais, como a da soja. Com este debate histórico para a Igreja, Francisco quer dar uma resposta que chama a “ecologia integral", que leva em conta "o clamor da terra e dos pobres".

ULTRACONSERVADORES A posição do papa irrita o presidente Jair Bolsonaro, que defende a exploração comercial em áreas de preservação ambiental e indígena. Os trabalhos do sínodo se baseiam em um documento de trabalho de 80 páginas, em que se pede que se ouça o grito da Mãe Terra, invadida e gravemente ferida pelo modelo econômico baseado em um "desenvolvimento predador, que mata, saqueia, destrói e aniquila" e que foi classificado de "heresia" pelos setores conservadores.
 
Os chamados “padres sinodais” também debaterão a possibilidade histórica de ordenar homens casados como padres, muitos deles indígenas, tema que poderia gerar um cisma na Igreja. "Um erro teológico, paganismo", classificou o cardeal ultraconservador americano Raymond Burke, enquanto outro cardeal conservador, o alemão Gerhard Ludwig Müller, ex-prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, sustentou que o sínodo quer "demolir" as estruturas da Igreja. Além da falta de sacerdotes nas regiões amazônicas, o encontro discutirá o papel das mulheres, um tema delicado, e a perda diária de fiéis para as igrejas evangélicas.

TEMAS NO SÍNODO Devido à escassez de religiosos que possam ensinar os sacramentos na região, muitos bispos locais manifestaram, por meio de um documento, que são a favor da ordenação de homens casados, com uma vida cristã exemplar – os chamados "viri probati", os quais, neste caso, seriam indígenas. Pelo menos 70% das comunidades da região amazônica não têm acesso à missa dominical.
 
O assunto gerou críticas, em particular do cardeal africano Robert Sarah, administrador da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos. Ele alega que, com isso, apoiam-se projetos "típicos do cristianismo burguês e mundano", que destroem o sacerdócio.
 
Para um melhor diálogo com os indígenas, a Igreja deveria "integrar melhor sua espiritualidade" e seus símbolos, rompendo com uma "posição rígida", como pedem alguns bispos e missionários. Na assembleia, será questionado se o catolicismo deve se conjugar sempre e em todos os lugares como os símbolos da cultura romana e latina, ou se pode ser interpretado à sua maneira.
 
Para o cardeal alemão Walter Brandmüller, ex-presidente do Comitê Pontifício para as Ciências Históricas, é uma "heresia". Ele também critica a corrente que magnifíca as "práticas curativas indígenas" e "o diálogo com os espíritos". O cardeal Burke diz que são formas de "paganismo".
O texto de trabalho do Sínodo cita diretamente as comunidades indígenas que denunciam "grandes projetos" nesta reserva ambiental mundial, os quais acabam por "devastar territórios e populações" com o pretexto de levar desenvolvimento. No documento, aponta-se que estes projetos são, às vezes, apoiados pelos governos locais e federal, e outras, pelas autoridades indígenas.
 
Ex-presidente da Congregação para a Doutrina da Fé, o cardeal Gerhard Müller diz que o assunto não tem fundamento bíblico e que são temas sociológicos "do mundo globalizado". O cardeal Brandmüller rejeita que a Igreja aborde temas como "ecologia, economia e política" e que interfira nos assuntos do Estado brasileiro.


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