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Estado de Minas

Papa denuncia o desmatamento excessivo em Madagascar e no mundo

O pontífice argentino fez um alerta sobre o desmatamento e incentivou o país a lutar contra a corrupção e a especulação, que aumentam a desigualdade social


postado em 08/09/2019 04:00 / atualizado em 07/09/2019 20:07


O papa Francisco lançou ontem um alerta por causa do "desmatamento excessivo" de Madagascar e sugeriu que as autoridades criem empregos que respeitem o meio ambiente para tirar as pessoas de uma precariedade "desumana". Após sua visita de menos de 48 horas a Moçambique, o papa abordou diretamente a questão em seu primeiro discurso em Madagascar, também um dos países mais pobres do planeta.

O pontífice argentino incentivou o país a lutar contra "a corrupção e a especulação, que aumentam a desigualdade social". "Devemos enfrentar as situações de grande precariedade e exclusão que ainda produzem condições de pobreza desumana", afirmou Francisco. O papa, muito sensível à questão da preservação do planeta, que ele chama de "lar comum", estava especialmente preocupado com o "desmatamento excessivo em favor de alguns" na ilha.

Incêndios florestais, caça furtiva, exploração desenfreada de florestas preciosas, exportações ilegais: as causas são muitas, disse o papa, para quem "isso compromete o futuro do país". Em Madagascar, a quinta maior ilha do mundo, com 587 mil quilômetros quadrados e 25 milhões de habitantes, nove em cada 10 pessoas vivem com menos de dois dólares por dia. E as atividades das florestas "às vezes garantem sua sobrevivência", reconheceu o pontífice.

A única solução, em sua opinião, é "criar empregos e atividades geradores de renda que respeitem o meio ambiente e ajudem as pessoas a sair da pobreza". "Não pode haver uma abordagem ecológica real, nenhum trabalho concreto para proteger o meio ambiente, sem a integração da justiça social", afirmou. "Cerca de 200 mil hectares de floresta são perdidos todos os anos em Madagascar", disse Philip Boyle, embaixador britânico na grande ilha, que ouviu o discurso do papa. "Algumas projeções falam até do "desaparecimento da maior parte da floresta úmida até 2040", acrescentou.

O "papa dos pobres" chegou na sexta-feira à noite a Moçambique, outra nação muito desfavorecida. Na noite de ontem, se encontrou com cerca de 12 mil jovens escoteiros católicos malgaxes, para uma vigília de oração em um campo preparado para a ocasião.

DESEMPREGO DOS JOVENS

O papa disse aos jovens que "todos sabemos, mesmo por experiência pessoal, que vocês podem se desviar e correr atrás de miragens que prometem e encantam com uma felicidade aparente, rápida, fácil e imediata, mas que, no final, deixa seu coração, olhar e alma a meio caminho".

Ele alertou para "aquelas ilusões que, quando jovens, nos seduzem com promessas que nos entorpecem, retiram nossa vitalidade, alegria, nos tornam dependentes e presos em um círculo aparente, sem saída e cheio de amargura".

Uma amargura, segundo o pontífice, que ocorre "quando não se tem o mínimo necessário para lutar todos os dias, quando as oportunidades efetivas de estudar não são suficientes ou quando se sente que seu futuro está parado devido à falta de trabalho, à precariedade, às injustiças sociais e, em seguida, ficam tentados a desistir", afirmou.

"É verdade que podemos fazer grandes coisas sozinhos, sim; mas juntos podemos sonhar e nos comprometer com coisas inimagináveis", acrescentou o pontífice. "Através de vocês, o futuro entra em Madagascar e na Igreja", acrescentou.

Mais da metade da juventude local não encontra trabalho, mesmo que possua vários diplomas. A recente instabilidade do país não favoreceu seu desenvolvimento econômico, baseado principalmente na agricultura e na exportação de baunilha e cacau. O presidente Andry Rajoelina, de tendência liberal, voltou ao poder no ano passado depois de uma campanha na qual prometeu emprego e moradia à população.

Na manhã de ontem, Rajoelina se encontrou com o pontífice. Desde sua independência da França, em 1960, os malgaxes "afundaram em desespero, perderam suas referências", reconheceu Rajoelina perante o papa, e prometeu "endireitar o país" e "prestar atenção aos menos favorecidos". Por outro lado, ao falar sobre "os abundantes recursos" da ilha, ele não mencionou o desmatamento.

VALE A PENA

Um dos destaques da visita do papa argentino será a grande missa hoje, quando são esperadas cerca de 800 mil pessoas, que já começaram a chegar à capital, Antananarivo, cheia de enormes cartazes com a imagem do pontífice. Fiéis de todo o país convergirão para um imenso campo de 60 hectares de vinhas, recondicionado e batizado "Soamandrakizay" (Um bem para a eternidade).

Prospère Ralitason, um agricultor de 70 anos, fez a viagem com outros 5 mil peregrinos de Ambatondrazaka (Centro-Leste), a 200 quilômetros da capital. "Estamos cansados, mas vale a pena fazer todos esses sacrifícios para ver o papa com nossos próprios olhos e receber sua bênção", disse. Ele espera com impaciência para ouvir a homilia do papa. "Gastamos 65 mil ariary (US$ 18) e trouxemos três quilos de arroz para fazer a viagem até Antananarivo", contou outro peregrino do grupo, Jean-Claude Rabemanatrika, de 40, e também agricultor. "Em casa não temos dinheiro suficiente, então tivemos que escolher: apenas uma família poderia fazer a viagem", acrescentou.


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