Com aposentadoria política pré-marcada para o fim do mandato, em 2021, e com a popularidade em queda, a chanceler (chefe de governo) da Alemanha, Angela Merkel, deslocou-se ao estado de Brandenburgo, no qual Berlim está encravada, para reforçar a campanha da União Democrata Cristã (CDU) ao governo local. A duas semanas da eleição, no próximo dia 1º, as pesquisas mostram um cenário preocupante nessa região da ex-Alemanha Oriental comunista – a mesma onde Merkel cresceu. Quem lidera as pesquisas de opinião é a Alternativa para a Alemanha (AfD), legenda de extrema-direita e anti-imigração.
Merkel visitou com a sucessora designada na CDU, Annegret Kremp-Karrenbauer, a emblemática Ponte de Glienicke, usada durante a Guerra Fria para trocas de espiões entre os países ocidentais e o bloco socialista pró-soviético. Assim como o Partido Social-Democrata (SPD), sócio na coalizão de governo federal, a chanceler procura reverter um quadro que projeta sombras em Berlim.
A última sondagem feita para a revista Der Spiegel mostra a AfD com 21% das intenções de voto, seguida pelo SPD (18,3%), que encabeça o atual governo de Brandenburgo e liderava as pesquisas até o fim de junho. Seu aliado local, a Esquerda, que incluí remanescentes do Partido Comunista da ex-Alemanha Oriental, aparecem com 14,8%. Para reeditar a parceria, precisariam ampliar a coalizão para incluir os Verdes (17,2%), praticamente empatados com a CDU (17%).
Os números sorriem para a extrema-direita também na Saxônia, outro estado ex-oriental que terá eleições em 1º de setembro. Lá, no mês passado, a democracia-cristã mantinha a tradicional liderança, com 29%, mas com a AfD em alta, marcando 25,4%. Mais dramático para Merkel, quem aparece em terceiro é a Esquerda (15%), descartada para uma eventual coalizão, seguida pelos Verdes (10,8%) e pelo SPD (8,7%).
Passados 30 anos da queda do Muro de Berlim, em novembro de 1989, que abriu caminho para o fim do bloco socialista e a reunificação da Alemanha, a ascensão da direita populista e anti-imigração na antiga metade oriental reflete o ressentimento da região com a disparidade econômica em relação à parte ocidental do país. Impulsionada em boa parte pelos votos do Leste, a AfD tornou-se em 2017 a terceira bancada do Bundestag (parlamento federal) e a maior da oposição ao governo de coalizão CDU-SPD. (SQ)