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Estado de Minas

Jovens de Soweto encontram na música clássica saída para violência


postado em 24/04/2019 20:16

Numa área cheia de lama em um bairro pobre da África do Sul, uma adolescente lava roupa numa bacia ao ar livre e sua bisavó pendura outras peças de roupa num varal improvisado. Ao fundo, é possível ouvir o violino de Xolani Zingeni.

"Tocar me ajuda a esquecer a minha história, a situação na qual me encontro", explica este sul-africano de 16 anos.

Ele não tem notícias do pai e a mãe, viciada em nyaope, uma mistura de maconha e heroína, não aparece há uma semana na casa onde mora, num bairro pobre de Soweto, nos arredores de Johannesburgo.

Há três anos, a música clássica se converteu na sua fuga da dura realidade, assim como para dezenas de jovens da localidade que aprendem a tocar violino, violoncelo ou contrabaixo numa escola fora do comum, Buskaid, reservada a crianças negras das áreas mais pobres.

Durante o regime racista do apartheid, este tipo de ensino era reservado para os brancos. Nesse período, as autoridades brancas afirmavam que os negros preferiam as "danças guerreiras".

Desde a queda do apartheid em 1994, algumas barreiras foram desaparecendo lentamente. Assim, em 1997, a britânica Rosemary Nalden fundou a Buskaid em Soweto.

Durante três meses, Xolani foi "todos os dias" às aulas, realizadas dentro de uma igreja presbiteriana.

- 'Tocar violino' -

"Só tinha visto um violino em um livro na escola e desejava tocar um", explica o jovem. "No primeiro dia não me selecionaram, então continuei vindo aqui".

Até o dia em que Rosemary Nalden o viu. "Eu coloquei um violino debaixo do queixo dele e me dei conta imediatamente de que encaixava. É talentoso, tem ouvido musical".

A bisavó de Xolani, que cuida dele e de seus quatro irmãos (todos filhos de pais diferentes) com apenas 170 dólares mensais de subsídios, sorri.

"Gostaria que seus irmãos e irmãs fossem também a Buskaid. Isso tiraria eles das ruas, onde ficam perambulando, brigando, bebendo ou usando drogas", afirma Flora Vuvama, de 83 anos.

Buskaid, que vive de doações, atende a 125 alunos de entre seis e 35 anos. É como um refúgio para crianças pobres, mas é sobretudo uma escola. "Um programa social que coloca a música num nível muito alto", insiste a diretora Rosemary Nalden, de 75 anos.

O resultado dos que perseveram é surpreendente.

Durante o ensaio semanal, a orquestra executa música clássica, com Mozart e Sarasate, jazz de Gershwin e música tradicional sul-africana.

"No meu bairro, tinha que me drogar para ser alguém. Eu tenho a sorte de ter outro objetivo", conta Mzwandile Twala, de 19 anos, instrutor dos mais novos e determinado a prosseguir seus estudos musicais em Londres, como outros seis alunos que passaram pela Buskaid, três deles profissionais.


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