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Estado de Minas

Um Nobel para Tunísia, único 'sobrevivente' da Primavera Árabe


postado em 09/10/2015 16:07

A atribuição do Nobel da Paz ao Quarteto do Diálogo Nacional tunisiano é uma "exaltação democrática" ao país ainda frágil, único "sobrevivente" da Primavera Árabe, mas também uma mensagem aos países onde a revolução foi esmagada - esta é a avaliação do especialista francês Vincent Geisser.

A Tunísia "é o único país da Primavera Árabe que continua num processo democrático. Tem um saldo muito positivo, com verdadeiros sucessos: uma nova geração entrou para a política, novos espaços de protesto floresceram", afirmou Geisser, pesquisador do Instituto de Pesquisas e Estudos sobre o Mundo Árabe e Muçulmano, em entrevista à AFP, quando perguntado se o país é "a última esperança" da democracia na região.

"Há uma sociedade civil pós-revolucionária, contrapoderes, instituições, um Parlamento eleito democraticamente", mas "apesar destes trunfos, a Tunísia ainda está numa zona cinza" e tem "uma situação frágil", explicou.

"Há uma coalizão de grandes partidos hegemônicos no Parlamento, sem real oposição" e "tendências autoritárias", aponta Geisser, sublinhando que "a grande reforma prometida do aparato de segurança nunca foi realizada", "sem contar o contexto externo", o caos na Líbia e a ameaça jihadista.

A Tunísia, berço da onda revolucionária de 2011, "continua na zona de turbulência. Mas dada a situação dos outros, podemos dizer que a Tunísia é a única sobrevivente da Primavera Árabe", acredita.

O especialista destaca, além disso, que "os grandes ausentes deste prêmio Nobel são os deputados constituintes" - eleitos em 2011 nas primeiras eleições após a queda do regime do ex-presidente Zine El Abidine Ben Ali - "que trabalharam durante três anos e criaram a primeira Constituição democrática do mundo árabe".

- Autoritarismo de "curto ou médio prazo" -

Sobre as perspectivas dos outros países, Geisser considera que o autoritarismo só prevalecerá a "curto ou médio prazo".

Hoje "há uma resiliência autoritária no mundo árabe, cujo mais flagrante exemplo é o Egito, com o presidente al-Sissi e seu regime, em certos aspectos mais autoritário que o do ex-presidente [Hosni] Mubarak", disse.

"Mas acredito que este retorno ao autoritarismo é de curto e médio prazo, porque houve um despertar das sociedades", uma "libertação da palavra". "O mundo árabe conheceu uma espécie de audácia democrática que será impossível de calar, foram conquistados espaços de liberdade apesar das lógicas repressivas", argumenta Vincent Geisser.

O analista considera que "levará tempo", mas que foi iniciado o "período pós-ditaduras dos anos 1960-70". "Por enquanto, as mudanças estão no plano da sociedade, e não dos regimes".

É possível falar em esperança diante do que ocorre na Síria?

Geisser acredita que a "Síria é um caso particular, de um lado com regime excessivo e de outro intervenções externas que mudaram a natureza do conflito".

Mas na Síria também há "espaços de contestação, que são eclipsados pela amplitude e pela atrocidade do que ocorre". Mesmo assim, "muitos sírios resistem a ficar na alternativa 'Assad ou Estado Islâmico'".

"Acredito que a atribuição do Nobel da Paz ao Quarteto do Diálogo Nacional tunisiano também pode ser uma mensagem de que a democracia é possível no mundo árabe. No reconhecimento é tanto uma exaltação democrática à Tunísia, quanto um recado aos países onde a Primavera terminou mal", concluiu o especialista.


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