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Estado de Minas

Ali Khamenei coloca interesses do Irã à frente de sua aversão aos EUA


postado em 14/07/2015 11:25

A desconfiança do aiatolá Ali Khamenei em relação aos Estados Unidos gerou dúvidas em alguns momentos das negociações sobre o programa nuclear de Teerã, mas o guia supremo, o detentor da última palavra, colocou à frente os interesses de seu país.

Durante muito tempo, Khamenei deixou no escuro se tinha a intenção de aceitar o acordo negociado em grande parte com Washington, o inimigo histórico da República Islâmica fundada em 1979 por seu antecessor, o imã Ruhola Khomeini.

"Os Estados Unidos são o exemplo perfeito da arrogância, preparem-se para ainda mais combate contra a arrogância", afirmou no sábado, em plenas negociações sobre o acordo concluído finalmente na terça-feira.

A ala dura do regime, que grita "Morte aos Estados Unidos" em cada manifestação pública, não parou de denunciar as concessões aos Ocidentais, muito importantes para eles.

Mas para os iranianos o acordo de Viena põe fim a uma década de crise diplomática e a sanções internacionais que asfixiaram a economia.

"O importante não é a desconfiança do Guia em relação aos Estados Unidos ou a outro países, é sua vontade de resolver o problema", afirma Amir Mohebian, um analista político próximo às autoridades iranianas.

"O guia demonstrou que dirige o país de forma racional e pragmática" e deixa patente sua legitimidade após 26 anos no poder, acrescenta.

Menos tensões

A decisão de Khamenei de aceitar um acordo sobre o programa nuclear lembra a do imã Khomeini quando deu autorização, embora com reticências, ao fim de oito anos de guerra com o Iraque em julho de 1988.

Para Khomeini, a resolução 598 da ONU sobre um cessar-fogo era pior que veneno, mas a economia desmoronou.

O acordo não significa uma submissão às potências mundiais, mas, pelo contrário, um reforço do poder do número um iraniano, afirmou Davoud Hermidas Bavand, analista político da universidade de Teerã.

E, independentemente das contradições evidentes de um pacto com o "o grande Satã", o núcleo do programa nuclear do Irã foi preservado, explica Bavand.

O imperativo nacional para acabar com o impasse foi, finalmente, mais importante, explicou.

Segundo ele, "as sanções econômicas tiveram um impacto mais importante na população que no regime".

O acordo também concede ao guia supremo uma vitória sobre os países que acusam o Irã de ambições hegemônicas na região.

"Isso equivale talvez a uma pequena vitória sobre Israel, Arábia Saudita e Turquia", segundo Bavand, que acredita que em alguns anos este acordo será "um instrumento de redução das tensões" regionais.

A retomada das negociações sobre o programa nuclear iraniano com o grupo 5+1 (China, Estados Unidos, França, Reino Unido, Rússia e Alemanha) em setembro de 2013, depois de vários anos de bloqueio, também demonstrou a vontade de Teerã de colocar fim ao seu status de pária.

O presidente moderado Hassan Rohani defende uma "interação construtiva com o mundo", o oposto de seu antecessor, Mahmud Ahmadinejad.

O ministro das Relações Exteriores iraniano, Mohamad Javad Zarif, encarnou esta mudança de tom ao afirmar que um acordo pode impulsionar uma cooperação na luta contra o grupo jihadista Estado Islâmico (EI).

Menos isolado

Mas foi finalmente o guia supremo quem tornou possível este acordo, aceitando em 2012 negociações em segredo com emissários americanos.

A experiência da guerra contra o Iraque influenciou bastante, estima Siavush Randjbar-Daemi, especialista em Irã na Universidade de Manchester, na Inglaterra.

Voltamos a ver os mesmos atores que em 1988: quando o aiatolá Khamenei era presidente, Rohani se encarregava da defesa aérea e Zarif negociava a resolução da ONU. E a mesma necessidade de colocar fim ao estancamento.

"Este acordo não é uma decisão tomada com agrado, mas é a mais eficaz, embora isso tenha significado negociações diretas com os Estados Unidos", explica Randjbar-Daemi.

Segundo ele, "o Irã fez concessões, mas em troca obteve compensações, como o reconhecimento de seu programa nuclear, o fim das sanções econômicas, um papel internacional e uma posição muito menos isolada".


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