Montevidéu – Pesquisas sugerem que nenhum dos dois principais candidatos à Presidência do Uruguai, de 3,7 milhões de habitantes, conquistará a maioria dos votos válidos na votação de hoje, levando a disputa para um segundo turno no dia 30 de novembro. A coligação Frente Ampla, do atual presidente José Mujica, de 79 anos, que ganhou notoriedade internacional por reformas sociais que incluem a legalização da maconha e do casamento gay, enfrenta o Partido Nacional, de centro-direita. O candidato da Frente Ampla, Tabaré Vazquez, de 74 anos, foi presidente do Uruguai entre 2005 e 2010. Seu principal oponente, o candidato do Partido Nacional, Luís Alberto Lacalle Pou, de 41 anos, é filho de um ex-presidente. Em um distante terceiro lugar está Pedro Bordaberry, do Partido Colorado, cujo pai foi eleito presidente e se tornou um ditador. A pesquisa realizada pela Factum com 2.008 entrevistados entre 4 e 19 de outubro mostra Vazques com 44% das intenções de voto, seguido por Lacalle Pou, com 32%. Bordaberry tem 15% da preferência dos 2,5 milhões de eleitores.
Pouco aberto a convencionalismos, este ex-guerrilheiro de 79 anos, que chegou ao poder em 2010 para um mandato de cinco anos, atraiu as atenções do mundo com seu estilo humilde e com um discurso contra o consumismo. Ele ganhou um lugar de destaque – que o levou a ser indicado ao Prêmio Nobel da Paz – com a descriminalização do aborto, a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo, a regulação do mercado de maconha, o refúgio a famílias sírias e seu plano de receber presos de Guantánamo. O problema daquele que é popularmente conhecido como Pepe “é que prometeu muitas coisas que não conseguiu cumprir”, avaliou Doyenart. “Não houve reforma da educação, não houve reforma do Estado, não houve investimentos em infraestrutura, não há porto transoceânico”, nem trens, diz, referindo-se a vários projetos do mandatário.
Nem tudo foi culpa, no entanto, do governante, segundo esse analista, que ressalta o estilo conciliador “que não permitiu que muitas coisas pudessem ser concretizadas tentando agradar a todas as partes”. Além disso, a coalizão de esquerda Frente Ampla, que reúne 12 partidos, promoveu as políticas em torno das quais já havia consenso durante o primeiro governo de Tabaré Vázquez (2005/2010), novamente candidato nestas eleições. “Mujica procurou melhorar a educação e a competitividade do país”, questões que causavam uma forte divisão entre seus próprios aliados. “Nas duas coisas ele não conseguiu nada”, diz Doyenart.
CRESCIMENTO Mujica deixará para seu sucessor, que vai assumir em março de 2015, um país que soma 11 anos consecutivos de crescimento, com uma taxa de desemprego em torno de 6% e uma forte queda da pobreza. “Ter mantido a economia em crescimento, os indicadores sociais, o desemprego sob controle e a agenda de novos direitos são conquistas dignas de destaque”, salienta o cientista político Daniel Chasquetti. “Não pude cumprir meu programa eleitoral. Mas isso não me frustra”, afirmou o próprio Mujica em maio deste ano. Anteontem, ele admitiu a jornalistas que chega cansado ao fim de seu mandato. “Estou cansado de uma longa viagem, mas preciso seguir.”