Jornal Estado de Minas

SÃO JOAQUIM DE BICAS

Denúncia leva polícia a local onde crianças eram mantidas encarceradas

A descoberta de um cativeiro, em um lote que tinha construções atípicas e irregulares, em São Joaquim de Bicas, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, pode ter relação com a morte da criança de 4 anos, ocorrida em 6 de fevereiro, e também com o encontro de duas crianças, de 6 e 9 anos, num apartamento, no Bairro Lagoinha, região Noroeste de BH. As três crianças são filhas de Kátia Cristina Alves, de 30, presa acusada de maus-tratos contra o filho de 4 anos.



O terreno descoberto nesta quinta-feira (2/3), pertence a uma mulher, identificada como Terezinha, que teria aliciado e trazido Kátia e os filhos, de Goiás, para trabalhar em Minas Gerais. Ela está desaparecida e é a proprietária também do apartamento onde estavam as crianças. A mãe está presa e os filhos internados no Hospital Odilon Behrens, com desnutrição.


O encontro das casas, no lote vago em São Joaquim de Bicas foi possível graças a uma denúncia feita pela advogada de Kátia Cristina, Andressa Araújo, que procurou a Polícia Militar.

Assim como no apartamento da Lagoinha, as crianças eram mantidas sozinhas no local, cuja porta era fechada com cadeado e corrente. Policiais militares solicitaram a presença do Corpo de Bombeiros e da Polícia Civil, que deverá fazer uma perícia no imóvel.





No local, os militares estranharam, primeiro, um cheiro forte, que poderia ser de um cadáver, no entanto, com a chegada dos bombeiros, descobriu-se que se tratava de um cachorro morto. Também foram encontrados indícios de rituais de magia negra, aos quais Terezinha estaria envolvida.


Causou  estranheza o fato de que o acesso a alguns cômodos, no interior da casa, não tinha portas, mas entradas na parte superio. Todos os acessos a esses cômodos, são em lugares altos, próximos ao telhado, o que, na opinião de bombeiros e policiais, seria onde crianças eram mantidas sob cárcere. Um televisor foi encontrado em um deles.


A manicure Viviane do Nascimento Pereira Santos, de 29 anos, vizinha do apartamento onde as crianças foram encontradas abandonadas, esteve no local e disse ter ficado ainda mais apavorada com o que viu. Que o local é insalubre e a cada passo, via uma situação de horror.





Acusação de estupro


Um novo detalhe foi apontado na relação entre Terezinha e Kátia. Diego, filho da aliciadora, chegou a ser preso por ter estuprado Kátia. 


Como começaram as investigações 

Em 6 de fevereiro, médicos da Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) de São Joaquim de Bicas, na Região Metropolitana de BH, ligaram para o posto da Polícia Militar da cidade, por volta do meio-dia, denunciando a morte de uma criança de 4 anos com sinais de maus-tratos e desnutrição.


Ao chegar à UPA, os militares acionaram peritos da Polícia Civil, que, ao examinar o corpo, confirmaram as suspeitas dos médicos. A criança foi levada ao local pela mãe, que foi detida.


A Polícia Civil de São Joaquim de Bicas assumiu o caso e solicitou que a perícia deveria, também, seguir para a casa onde morava o menor, no Bairro Imperador.


No entanto, naquele dia, a residência estava fechada e os peritos aguardam por uma ordem judicial para entrar e examinar o local, o que nunca aconteceu.


Em 21 de fevereiro, a manicure Viviane pediu ajuda à Polícia Militar por ter encontrado duas crianças, de 6 e 9 anos, abandonadas e trancadas num apartamento na Lagoinha. Elas apresentavam quadro de desnutrição.





Kátia relata que chegou à capital mineira há cerca de um ano e meio, grávida e junto com o marido e os 4 filhos. De acordo com o representante legal da mulher, ainda na Rodoviária de BH a família teria sido abordada por uma mulher que lhe ofereceu trabalho em seu sítio em São Joaquim de Bicas. Ao chegar no local, os documentos da família teriam sido guardados pela suposta aliciadora, que seria Terezinha.


Outras acusações


Depois de algum tempo trabalhando no local, a mulher teria dito a Kátia que precisava ir até Belo Horizonte para arrumar seus documentos e, assim, continuar recebendo o Auxílio Brasil. segundo advogados de Kátia, mesmo recebendo o benefício o dinheiro seria recolhido pela dona do sítio em que a família morava.


“Na ocasião, Kátia e os dois filhos mais velhos, encontrados na casa na Lagoinha, foram trazidos pela mulher para BH. Mas, segundo ela, na volta para São Joaquim de Bicas, a aliciadora disse que as crianças voltariam em um carro separado. Desde então, Kátia não sabia do paradeiro dos filhos. Ela soube que eles estavam vivos ontem, quando nós contamos para ela”, relata Greg Andrade, defensor da mulher. 





Terezinha, segundo testemunhos, dizia ser a avó das crianças e assim fazia ser chamada pelos meninos.

Desaparecimento 

Ainda segundo o relato de Kátia, depois de dois meses de sua vinda para a capital, ao voltar para o lote em que vivia com a família, ela percebeu que seu marido não estava mais no local. Ela contou aos advogados que perguntou à dona do imóvel e seu filho sobre o paradeiro do homem, tendo sido informada, por Terezinha, que o homem havia fugido com uma mulher, mas, depois de duvidar da resposta e pressionar a mulher, foi avisada que o marido havia morrido em decorrência de uma infecção pela Covid-19, e que já havia sido enterrado.  

 

Desde então, a mulher afirmou que foi mantida em cativeiro e afastada dos outros três filhos, incluindo um recém-nascido. Conforme os advogados, ela conta que era alimentada por um buraco na porta, e que várias vezes desmaiou após comer a comida que era oferecida. 

 

“Eu posso estar muito enganado mas essa mulher não matou ninguém. Ela contou que o filho da mulher que fazia a comida e que muitas vezes após comer ela apagou e acordou com ele em cima dela a estuprando. Ela relatou que contou os episódios para a dona do lote,  que não fez nada”, disse o defensor da mãe das crianças.

 

Falsa avó

 

Ao serem resgatados, um dos garotos, o mais velho, contou à PM que ele e o irmão estavam sob tutela de uma avó de criação, mas ela saiu para uma consulta médica e não retornou. A mulher também os orientou a fornecer nomes falsos caso alguém tentasse contato. Segundo o menino de 9 anos, uma tia chegou a passar uma noite na casa, mas saiu e não voltou.