Jornal Estado de Minas

FRIO EM BH

Altura máxima e temperatura mínima: o trabalho no alto da Serra do Curral


Em Belo Horizonte, o frio é assunto desde o início da semana e deverá seguir assim pelos próximos dias. Se os moradores da capital sentem na pele a queda brusca de temperatura, que pode cair até a 5º C nesta quinta-feira (19), imagine estar na rotina de quem ‘bate ponto’ em um dos pontos mais gelados da cidade. O Estado de Minas foi conhecer um pouco da rotina dos vigias do Parque da Serra do Curral, que trabalham a mais de 1.100 metros de altura.





Quem sobe pela trilha do parque até os mirantes se depara com uma vista exuberante de Belo Horizonte de um lado e, de outro, a típica paisagem mineira com um mar de montanhas verdes esburacadas aqui e acolá. Os visitantes mais atentos podem perceber também, uma pequena sala no meio dos cartões-postais. É onde trabalha Paulo Roberto da Silva.

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Com quase 40 anos de trabalho nos parques da capital, a maior parte no Parque das Mangabeiras, há meia década, Paulo Roberto ocupa o posto de vigia no mirante mais alto da Serra do Curral. Mesmo com uma paisagem agradável de pano de fundo, os dias mais frios exigem dedicação extra para o homem de 57 anos.

“Já peguei alguns invernos aqui, mas esse ano começou mais cedo e bem mais rigoroso. Moro em Sarzedo e inclusive comecei a sentir o tempo um pouquinho mais gelado quando cheguei aqui em BH”, conta Paulo Roberto.





O vigia contou à reportagem sobre sua rotina em dias frios como esta quarta-feira (18). Uma bebida quente e muitos agasalhos não podem faltar.

“Eu pego serviço mais ou menos 7h, chego lá embaixo, tomo um café quente para quebrar a friagem do peito e subo até aqui. Hoje foi um dos dias mais frios do ano, mas, geralmente, no inverno mesmo é pior. Como você pode ver, estou bem agasalhado, tem umas quatro camadas aqui”, brinca mostrando quantas peças de roupa acumula para se proteger das baixas temperaturas.
 
Café quente para tirar a 'friagem do peito' é uma das estratégias de Paulo Roberto (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
 

A situação não é muito diferente para quem trabalha ao sopé da serra. Colega de Paulo, Filipe Domingos, de 31 anos, é vigia da portaria principal do parque. O vento não sopra tão forte no ‘andar de baixo’, mas o frio está longe de poupar quem sai cedo da cama para ir até uma das regiões de maior altitude da cidade.

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“Esse tempo me pegou de surpresa, hoje para acordar foi uma luta. Para nós essa temperatura em maio é uma novidade. Chegando no Centro é totalmente diferente, a gente fica aqui com touca, com luva e temos que guardar. Eu chego aqui por volta das 6h30 e aí a gente vem naquela luta, né. Até dói até o coração sair debaixo da coberta. Se está assim agora, tenho medo de junho e julho.




 
Filipe fica na parte de baixo do parque, mas garante que não escapa do frio (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
 

Frio de uns, verão de outros


Se o inverno chegou mais cedo para os mineiros, há quem aproveite o dia ensolarado para colocar pernas e braços de fora. Foi o caso do engenheiro mecânico holandês Redmar van der Werf, que não achou a temperatura no Parque da Serra do Curral nem um pouco baixa.

“Isso é um clima para churrasco para nós, cerca de 16 º C quando saímos. É o que temos de mais próximo de um tempo de verão, por isso estou de camiseta e bermuda. Se o sol está no céu e eu vou caminhar, então não preciso de casaco. Nem trouxe um, na verdade, porque o Brasil é o país do sol”, brincou Redmar, que chegou a dizer que estava suando.

O holandês visita BH pela segunda vez e aproveitou para conhecer o parque acompanhado da esposa mineira Marcela Honorato. O casal vive na Alemanha, onde já chegaram a enfrentar - 13ºC durante o inverno.

Ainda assim, a consultora tributária brinca que não abandonou as raízes belo-horizontinas e tirou o casaco do armário para subir a serra.





“A gente veio ficar aqui duas semanas de férias. Meu marido é da Holanda e estava rindo que aqui quando faz zero grau, vira notícia no jornal e ele achou super engraçado.Eu ainda sinto um pouco de frio, a gente sempre traz um biquíni na esperança de nadar e vem esse tempo”, disse.
 
Mineira e holandês curtem passeio no parque: roupas indicam como cada um lida com a temperatura de BH (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)