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Estado de Minas

Mineiro é 'agraciado' com vacina contra a COVID-19 nos EUA

Apesar de já ter tido a doença. o sargento Eddie Anjos, não pensou duas vezes antes de tomar a dose da Moderna: 'E você acha que eu ia esperar tanto tempo?'


01/01/2021 04:00 - atualizado 31/12/2020 16:44

Profissional prepara dose do imunizante da Moderna: diretor de instituição que atende veteranos de guerra, o sargento Eddie Anjos (abaixo) foi um dos primeiros a receber a vacina (foto: Joseph Precioso/AFP )
Profissional prepara dose do imunizante da Moderna: diretor de instituição que atende veteranos de guerra, o sargento Eddie Anjos (abaixo) foi um dos primeiros a receber a vacina (foto: Joseph Precioso/AFP )

(foto: Arquivo pessoal)
(foto: Arquivo pessoal)

O sargento Eddie Anjos foi um dos primeiros mineiros a tomar a vacina Moderna, nos Estados Unidos. Natural de Sete Lagoas, zona metalúrgica de Minas Gerais, ele é diretor do Saint Joseph Clinic Health Care Center (SJC HCC), que atende veteranos de guerra, na cidade de Mishawaka, no estado de Indiana.

"Muita gente, com base em bobagens que vê na internet, não quer se vacinar. Eu, ao contrário, quis mostrar às pessoas da minha equipe que com esse gesto estou me protegendo, protegendo a comunidade onde moro e os pacientes que vêm nos procurar", afirma. "Vacinação não é coisa de outro mundo. É coisa séria e muito importante neste momento em que vivemos para ser desprezada", defende.

No início de dezembro, Eddie sentiu os primeiros sintomas da doença. Dezoito dias depois estava curado. Por ter anticorpos no organismo, poderia se vacinar em três meses. "E você acha que eu ia esperar tanto tempo?", disse, um dia depois de receber a dose.

Quem conhece Eddie sabe que ele é um homem forte não só pela estatura (122 quilos, divididos em 1 metro e 90 de altura) como pelas decisões da vida. Na juventude decidiu se mudar para os Estados Unidos onde ingressou no corpo de fuzileiros navais. No fim dos anos 1990 foi para a guerra da Bósnia. Daquela época, lembra a inspeção em campos minados como momentos tensos. "Eram mais de 2 mil minas enterradas. Um descuido e já era."

Mas na quarta-feira, durante chamada de vídeo para esta entrevista, o sargento se emocionou e, por duas vezes, chorou. Em casa, em Ohio, onde mora com o marido, o norte-americano Matt Guyette, Eddie recordou os 17 dias entre o diagnóstico e a cura da COVID-19. "Essa doença é muito pior que uma guerra. No campo de batalha, você tem estratégia. A vítima do coronavírus não sabe o que vai acontecer com ela. O vírus é traiçoeiro. Um dia te deixa mal, no outro, te engana com a sensação de bem-estar, volta e ataca novamente", diz, lembrando um dos piores momentos de sua convalescença. "Com a doença você pensa: será que estarei aqui, amanhã?"

Diferentemente da maioria das vítimas, ele não perdeu paladar e olfato. A falta de apetite durante duas semanas foi o sintoma mais forte, além de dor de cabeça e diarreia. Por isso, um dia, ao acordar mais bem-disposto, decidiu sair do quarto para ver TV na sala de estar. Naquele dia trocou a série Golden girls pelo noticiário na TV.

A volta para o quarto foi difícil. Faltou ar para subir os 20 degraus da escada que liga o primeiro ao segundo andar da casa. Ao respirar fundo, a sensação, ele conta, era de ter uma faca entrando no pulmão. Assustado, chamou Matt, que, sempre protegido por máscara, ficou ao seu lado. Naquela hora, Eddie pensou no pior.

A família do sargento mora na região central de Sete Lagoas. O pai, Edivaldo, tem 80 anos e a mãe, Ilma, 83. Juntos com o casal, moram duas filhas – Silvana e Isabel – e um neto, Gabriel. "Ainda bem que ninguém da minha família foi contaminado pela doença. Bato sempre na madeira para isolar", disse, emocionado. Eddie se preocupa com os pais, os seis irmãos e oito sobrinhos. Fica na dúvida de como será a vacinação no Brasil. "Vocês não têm nem seringas. E a logística para atingir áreas muito distantes como os ribeirinhos do Amazonas ou mesmo as pessoas que moram em regiões miseráveis, como será? Os ricos poderão pagar pela vacina. E quem não tem dinheiro?", questiona.

Eddie não tem a menor noção de onde pegou o vírus. "Pode ter sido em qualquer lugar, em uma farmácia, um restaurante. O que é mais assustador, pois sigo todos os protocolos, como uso obrigatório de máscaras". Matt não se contaminou. A mãe dele, Wini Burton, de 94, que não mora com o filho e o genro, teve a doença em sua versão branda.
O casal gosta e tem prazer em receber os amigos. Nesta época do ano, a casa ficava impecável com a decoração de Natal, que, por motivos óbvios, permaneceu guardada. Sobravam luzinhas coloridas para Tulip, Clyde e Lasso, cães collies adotados, parte da família. "Este ano, no Natal, eu só agradeci."

Eddie não acompanha os movimentos irresponsáveis das festas no Brasil. Sabe, no entanto, que nos Estados Unidos as pessoas começaram a perceber os riscos da doença. "Mas agora é muito tarde. As pessoas deveriam ter se tocado há muitos meses sobre a importância, por exemplo, do uso de máscaras". Sobre as festas e aglomerações pelo país, para Eddie parece que as pessoas querem morrer mesmo. “É como se fosse um suicídio lento e, quando essas pessoas perceberem o que é essa doença, vão orar para acabar logo com isso. Vão se perguntar, como pôde acontecer com elas." A segunda dose da Moderna, Eddie vai tomar no dia 26, com a esperança de que finalmente a pandemia encontre o fim.

Expectativa no Brasil
O Reino Unido autorizou na quarta-feira o uso emergencial da vacina contra a COVID-19 desenvolvida pela farmacêutica AstraZeneca em parceria com a Universidade de Oxford. A agência regulatória britânica (MHRA) aprovou o regime de aplicação de duas doses completas, com intervalo de um a 3 meses. No Brasil, o pedido de uso emergencial pode ser feito na semana que vem pela Fiocruz, que tem acordo com a AstraZeneca. A vacina de Oxford é a principal aposta do governo Jair Bolsonaro para vacinar a população. É a 2.ª vacina aprovada no Reino Unido, que já havia dado aval à Pfizer. O imunizante de Oxford era bastante esperado por ser mais barato e de mais fácil distribuição. Suas doses podem ser conservadas em freezers convencionais, sem a necessidade de guardar a -70 °C. A Argentina também liberou o uso emergencial do produto ontem. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) se reuniu na quinta-feira com representantes da AstraZeneca no Brasil para discutir uma previsão de pedido de uso emergencial. A Fiocruz diz que pode apresentar semana que vem a documentação necessária.



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