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Estado de Minas

Antigos e novos belo-horizontinos constroem a linha do tempo da cidade

Personagens de uma cronologia que começa quando a cidade ainda não se insinuava metrópole, passando pela época do glamour social até chegar ao anseio tecnológico


postado em 12/12/2014 06:00 / atualizado em 12/12/2014 08:27

Elizabetta Veneroso di Spirito, de 96 anos, primeira feirante do Mercado Central, volta às origens da vida produtiva para contar sua história(foto: Juarez Rodrigues/EM/DA Press)
Elizabetta Veneroso di Spirito, de 96 anos, primeira feirante do Mercado Central, volta às origens da vida produtiva para contar sua história (foto: Juarez Rodrigues/EM/DA Press)


Em 117 anos, uma linha do tempo no rumo do inimaginável. Da peleja dos feirantes no lombo dos burros ao título de melhor ecossistema empreendedor do Brasil, pela Associação Brasileira de Startups, Belo Horizonte é incubadora de talentos. Metrópole das festas e da alta sociedade empreendedora, a capital cresceu. Seja pela vontade e força produtiva do passado, seja pela capacidade fora do comum da juventude imersa em inovação tecnológica, a cidade do futuro se faz polo além das fronteiras do país.


Foi com um pedaço de pano lançado ao chão, em 7 de setembro de 1929, que a italiana Elizabetta Veneroso di Spirito delimitou o ponto e se tornou a primeira feirante do Mercado Central de BH. Menina ainda, ela conseguiu ser a primeira a passar pela fita de inauguração do quarteirão comercial mais famoso de Minas Gerais. No quadrante da família, as verduras da melhor qualidade, plantadas no quintal.

O trabalho está no sangue e na saúde de Elizabetta, que, aos 96 anos, ainda vende na loja da filha, Silvana, no Bairro Luxemburgo, na Região Centro-Sul. “O que mais gosto de fazer é vender”, sorri a matriarca. A comerciante, vinda aos 6 anos de Pisciotta, na região da Campania, província de Salerno, tem nove filhos, 18 netos e 6 bisnetos. Aos 10, ela já ajudava a família.

“Pensa que a gente ficava à toa? Ficava não. Tinha sempre muita coisa para fazer”, conta. Elizabetta relembra com orgulho da vez em que ajudou o pai com as economias do suor do trabalho. “A gente levava as verduras para vender em um burro. Ele quebrou a perna. Papai precisou e usou o meu dinheiro para comprar outro burro, chamado Triunfo.”

Primeiro, a família italiana viu crescer a Região Central. Depois, a Região da Pampulha, de onde muitas vezes “foi a pé ou de carroça para o Mercado Central”. Elizabetta rememora com alegria as mangueiras da Avenida Alfredo Balena, na Região Hospitalar. Foi aluna do Grupo Escolar Pedro II. O trabalho sempre presente nas lembranças da italiana: “Chegava do grupo correndo para molhar a horta”.

Já Ildeu Koscky tem na lembrança a elegante época da efervescência social(foto: Juarez Rodrigues/EM/DA Press)
Já Ildeu Koscky tem na lembrança a elegante época da efervescência social (foto: Juarez Rodrigues/EM/DA Press)
ALTA SOCIEDADE Ildeu Koscky já figurou no livro dos recordes como “o mais convidado do mundo”. O decorador é a personificação da história das grandes festas de BH. Chegou a participar de sete eventos por dia. O casarão em que Ildeu mora com o irmão, no Bairro São Bento, é palco único. No endereço de amizades, ele já recebeu empresários, autoridades e artistas de diversas partes dos mundo. Cita com orgulho, entre tantos, estrelas e dirigentes do Balé Bolshoi. “Outro grande momento da casa foi uma recepção ao presidente Collor. Ele pensou que sairia daqui à meia-noite e foi embora às 5h30.”

Na Rua Gururi, badalar o sino virou tradição de homenagens. “A ideia do sino veio da primeira vez que estive no Japão. Quando eu entrava em um templo, alguém tocava um sino. Soube que era para chamar a atenção dos deuses para a presença do visitante. Resolvi copiar e trazer o ritual para a minha casa”, sorri.

Ildeu destaca noites inesquecíveis no Minas Tênis e no Automóvel Clube. Cita as recepções na Pampulha, no Iate e no Pic; os “garden parties” nos tempos do governador Milton Campos e, especialmente, o Glamour Girl e o Showçaite – eventos que “escreveram a história dos melhores acontecimentos na cidade”. Elegante, conta ainda que viu a transformação da moda em BH.

“É uma saudade. A moda de hoje não valoriza as delícias da mulher. Sinto falta dos belos decotes, dos rasgos de saia e dos chapéus”, comenta. Ildeu considera a capital mineira um dos melhores lugares para se viver. “Conheço festas de várias partes do mundo. Não se vê nada tão fabuloso como em BH. Se você vai a uma festa de verdade na cidade, esteja preparado para um acontecimento.”

A empresária Fabiana Árabe encara os desafios de um novo tempo(foto: Beto Magalhães/EM/DA Press)
A empresária Fabiana Árabe encara os desafios de um novo tempo (foto: Beto Magalhães/EM/DA Press)


Modelos de inovação


Apesar da pouca idade, ela está na sua segunda startup e soma 12 anos de empreendedorismo. Fabiana Árabe, empresária, CEO e fundadora da Web Reports, diretora de Inovação Tecnológica da Sociedade de Usuários de Informática e Telecomunicações de Minas Gerais (Sucesu Minas), acumula experiência e está segura de que, quando se falar em tecnologia no Brasil, todos vão pensar em BH.

Fabiana destaca, entre outras associações, iniciativas do estado e do Sebrae. Recém-chegada dos EUA, ela fala em mudança de modelo mental. “O que vemos nos EUA é uma cultura de formação de empreendedores. Bem diferente daqui, onde o pensamento é formar o filho para que ele tenha um bom emprego.”

Segundo Fabiana, o maior desafio da cidade é gerar um modelo de educação que favoreça o empreendedorismo. Especialista em business intelligence, a CEO chama a atenção para a cultura da confiança. “Vamos crescer ainda mais quando, no Brasil, a cultura do jeitinho perder espaço para a da confiança.” Na contramão do estereótipo do mineiro desconfiado, ela defende “compartilhar para crescer juntos”. “Tenho uma ideia nova. Devo contar isso a alguém? Sim. Claro”. Para quem quer avançar nos negócios, uma sugestão: “Contrate talentos que sejam melhores que você”.

Vinícius Mayrink, estudante de economia, aposta alto no talento(foto: Leandro Couri/EM/DA Press)
Vinícius Mayrink, estudante de economia, aposta alto no talento (foto: Leandro Couri/EM/DA Press)


Fabiana não é a única a fazer diferença na rota do futuro. “As pessoas davam mais valor à segurança de um emprego do que ao desafio de realizar algo significativo no mundo”. A frase é de Vinícius Mayrink, de 23. Ele já é gerente de produtos em empresa de projeção em inovação e tecnologia, a Samba Tech. O CEO Gustavo Caetano soube identificar no estagiário de outro dia o perfil do capital humano que ele reúne em seu grupo de reconhecimento internacional.

Este ano, BH recebeu o título de melhor ecossistema empreendedor do país da Associação Brasileira de Startups. Reconhecimento pelo conjunto de startups instalado no Bairro São Pedro, na Região Centro-Sul, apelidado de São Pedro Valley – referência ao Vale do Silício, na Califórnia, que abriga potências da grande rede: Apple, Google e Facebook. Vinícius entende que o sucesso global de BH se deve, especialmente, ao encontro de talentos e ao reconhecimento dessa força no exterior. “O primeiro passo para a cidade se firmar como polo de tecnologia foi a compra, pelo Google, em julho de 2005, da Akwan, startup criada por professores da UFMG.”

(foto: Marcos Michelin/EM/DA Press)
(foto: Marcos Michelin/EM/DA Press)


E tudo começou no Lagoinha

 

 A comissão chefiada pelo engenheiro e urbanista Aarão Reis (1853-1936) desenhou a nova capital, que seria inaugurada em 1897, limitada por uma avenida circular, a do Contorno. Para a construção, vieram imigrantes estrangeiros e migrantes da Região Central do estado. Como não podiam erguer alojamentos dentro do traçado da cidade, foram empurrados para um alagadiço ao sopé de um morro. Assim nasceu o Bairro Lagoinha para acolher italianos, espanhóis, turcos, portugueses e operários mineiros. Formou-se uma Babel, que, por necessidade de sobrevivência, se entrelaçou para conviver. Já o Bairro Funcionários, concebido dentro do perímetro da Contorno, abrigava os servidores públicos que movimentariam a máquina do estado montada na Praça da Liberdade. Esses moradores precisavam de serviços: alfaiataria, sapataria, marcenaria, barbearia, lavanderia, cozinheiras, jardineiros. E de produtos para a alimentação, como cereais, verduras, leite, pão. E foram buscar no Lagoinha, que se desdobrou em artes e ofícios. E cresceu.

Ver galeria . 104 Fotos Aspecto da Avenida Afonso Pena, vendo à direita as obras de construcao da Igreja Sao José
Aspecto da Avenida Afonso Pena, vendo à direita as obras de construcao da Igreja Sao José (foto: )


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