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Estado de Minas

Hotéis, restaurantes e locais turísticos de BH estão despreparados para receber visitantes


postado em 06/11/2011 07:40 / atualizado em 06/11/2011 07:40

Parece até piada, mas é caso real, ocorrido em plena Avenida Raja Gabaglia, no Bairro Cidade Jardim, Região Centro-Sul de Belo Horizonte. Um argentino pediu informação a um taxista. Queria apenas saber como chegar ao Mineirão, já que a sinalização não o ajudava. Atencioso, o motorista disparou numa velocidade incrível: “Vai toda vida, toda vida. No fim, você vira la direita, depois la esquerda e verá uma plaquita escrita Pampulha. É só seguir”. A intenção foi muita boa, mas o idioma deixou a desejar. Até porque plaquita, em espanhol, significa uma chapa de raios X ou aparelho dentário para bruxismo. Dessa vez, o portunhol falhou. Situações como essa fazem parte do cotidiano de estrangeiros em BH, cidade que pretende receber importantes jogos da Copa do Mundo. Seja na dificuldade para se comunicar ou na falta de sinalização, quem fala idioma diferente do português está sujeito a situações bizarras. No ramo dos serviços, histórias mostram que é o nível de preparação está longe do ideal. Não conseguir reservar um hotel, passar aperto em restaurantes e até ser preso são alguns riscos para estrangeiros na capital.

Indiana Manju Sharma tinha de recorrer ao marido, Avishek Nigam, que estava longe, para se comunicar com a recepção do hotel(foto: Marcos Vieira/EM.D.A/Press)
Indiana Manju Sharma tinha de recorrer ao marido, Avishek Nigam, que estava longe, para se comunicar com a recepção do hotel (foto: Marcos Vieira/EM.D.A/Press)
Nos restaurantes, os olhos dos garçons arregalam quando o cliente é estrangeiro. Eles sofrem por antecipação, prevendo a dificuldade no atendimento. Geralmente, estão tão armados que quando o freguês estrangeiro abre a boca em bom português nada é compreendido. Ao cliente resta esperar que o garçom se acalme e recupere forças para repetir o pedido. Final feliz se o estrangeiro falar um mínimo de português, mesmo com sotaque. Mas no outro cenário, em que o idioma do freguês não dá samba, instaura-se um pesadelo para ambos os lados.

Tudo poderia ser facilitado se o restaurante fosse o de um hotel. Mesmo nesse caso, é bom rezar para que haja alguém que fale alguma outra língua e possa ser tradutor. Parece exagero? O Estado de Minas comprovou que a realidade é mais dramática do que se imagina. Alguns serviços básicos, que todo viajante pensa em contratar para maior comodidade ou pode precisar em caso de emergência, são desafios para turistas estrangeiros na capital.

Três repórteres se passaram por turistas de língua espanhola, inglesa e francesa e pediram ajuda a personagens reais. Por telefone, tentaram obter informações sobre disponibilidade e preço de quartos em hotéis e de aluguéis de carro, sobre as atrações turísticas da capital, na Empresa Municipal de Turismo de Belo Horizonte (Belotur), o preço de uma corrida de táxi até o aeroporto internacional de Confins, o tipo de atendimento prestado no Hospital de Pronto-Socorro João XXIII e, no número 190 da Polícia Militar, qual procedimento deveria ser tomado depois de perder um documento. No caso de hotéis e locadoras de veículos, foram escolhidas empresas que são referência na cidade.

Os atendimentos foram bem variados: da completa falta de informação por pura incompreensão de quem estava do outro lado da linha a informações passadas em idiomas pouco fluentes ou ainda com a mistura típica de quem não fala um nem outro, mas no fim fala de tudo e consegue passar o recado, se quem ligou estiver também disposto a se abrir ao improviso. Em duas vezes apenas, os atendentes responderam fluentemente, sem titubear – uma em espanhol e outra em inglês.

DIFICULDADE

A indiana Manju Sharma Nigam, de 31 anos, sabe bem como é isso. Ela já passou por experiências curiosas. Num hotel de BH, era preciso ligar para o marido, que trabalha na cidade, para que ele telefonasse para a recepção todas as vezes que ela precisava de um serviço. “Havia apenas um funcionário que falava um pouco de inglês, e mesmo assim, era preciso esperar horas por eles”, conta. O cúmulo ocorreu no restaurante do estabelecimento. Pedir comida se tornou uma missão impossível.

Vegetariana, lhe foram servidos vários pratos, incluindo frango, até que algo realmente desse universo fosse posto à mesa. Mas, da forma como foi feito, o melhor talvez fosse ficar com fome. “Pedi uma salada e, depois de várias tentativas e explicações, o garçom chegou com um alface, cortou a raiz na minha frente e jogou no meu prato. Fiquei olhando sem entender”, conta. “Mesmo no hotel cinco estrelas não havia garçons falando inglês. Achei um absurdo, pois venho de uma família do ramo e, para se ter a licença dessa classificação o mínimo exigido são funcionários fluentes em outra língua”, relata.

No táxi, vale a mímica para indicar direitas e esquerdas e o velho hábito de anotar o endereço no papel. No supermercado, gestos entram sempre em cena quando necessário. O marido de Manju, o diretor-executivo Avishek Nigam, de 34, também estranha o despreparo. “Será terrível para a Copa. Se você quiser ir a pontos turísticos, como o Mercado Central e a feira de artesanato, ninguém sabe informar. Diferente do Rio, por exemplo. Na feira de Copacabana, táxis e hotéis, todos falam outro idioma. A Copa é oportunidade para BH se tornar uma cidade turística, mas é preciso interagir com quem visita a cidade, pelo menos em inglês”, completa.

O presidente do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Belo Horizonte e Região Metropolitana (Sindhorb), Paulo César Pedrosa, afirma que os profissionais estão em fase de capacitação em língua estrangeira. Mas cobra interesse dos funcionários, que devem se inscrever nos cursos, e dos empresários, que devem liberá-los para estudar. “Em 2012, entraremos a todo vapor com treinamento de garçons, recepcionistas, camareiras e barmans”, diz. (Colaborou: Alysson Lisboa)


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