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Estado de Minas MÃOS QUE TECEM

Marca resgata ofício em extinção e cria no tear roupas contemporâneas

Fundadora da marca Urda, a designer Hélia Prates desenvolve um trabalho autoral e artesanal, criando peças que estão longe de seguir tendências


20/11/2022 04:00 - atualizado 20/11/2022 11:08

designer Helia Prates urda
'Quero mostrar a tecelagem em um lugar totalmente diferente. Essa é a minha identidade', aponta a designer Hélia Prates (foto: Igor Rotsen/Divulgação)

Entrelaçando fios de algodão, Hélia Prates tece sua própria história na moda. Depois de quase desistir da profissão, de tão desiludida com o mercado, ela encontrou na tecelagem uma ferramenta para se expressar.

Fundadora da marca Urda, a designer desenvolve um trabalho autoral e artesanal, criando roupas que estão longe de seguir tendências. Com orgulho, resgata e preserva um ofício em extinção.


Hélia é filha de costureira e cresceu cercada por linhas, agulhas e revistas de moldes. Desde pequena, gostava de desenhar croquis. “Não pensava em comprar roupa, pensava em comprar o tecido para fazer a roupa”, relembra a designer, que, sem titubear, escolheu estudar moda.
 
No início da carreira, ela trabalhou para algumas marcas, mas sentia que aquele não era seu lugar. Sem conseguir, de fato, criar roupas, começou a achar que não tinha talento para moda, que esse mundo não era para ela.

Blusa urda
(foto: Marcelo de Paula/Divulgação)

Estava tão decepcionada que decidiu mudar de profissão. Na busca por novos caminhos, fez vários cursos aleatórios, de serigrafia a branding e horta.
 
A designer voltou a sorrir depois de um curso de tecelagem. “Quando me sentei no tear, senti a liberdade de criar com mãos, muito diferente de quando trabalhava dentro de fábrica e só ficava na frente do computador”, conta, descobrindo um bem-estar quase meditativo ao tecer.

Tempos depois, ela se lembrou de que, na infância, teve contato com um tear na casa da tia.
 
Inicialmente, Hélia criava tapetes, mas não deixava de lado seu olhar de moda. Pensava na composição das cores e das tramas como se fosse roupa. Tanto que, quando estendia um tapete no chão, enxergava um look para vestir.

“Olha que top bonito que pode virar”, dizia, olhando para a peça, certa de que poderia ser muito mais do que tapete.
 
Dois anos depois, era lançada uma coleção de tops e coletes. Marcou o retorno definitivo da designer ao mercado de moda, mas do seu jeito, com um trabalho totalmente autoral e artesanal. Não existe a obrigação de seguir tendências.

blusa de frio urda
(foto: Marcelo de Paula/Divulgação)

“O meu trabalho é muito intuitivo e me sinto livre para criar. Até aquela confusão de linhas na tecelagem pode me inspirar.”
 
Hoje a marca também cria blusas, cardigãs, suéteres e vestidos. A nova coleção, pensada para o verão, traz uma novidade: saias. Com uma fenda nada discreta, mostram as pernas ao caminhar.

“Gosto muito de trazer para as peças da Urda a sensualidade da cigana, de revelar o corpo, mas se escondendo. Igual ao cardigã, acho um charme quando ele está mais caído e deixa ombro aparecendo”, comenta.

Lã no verão?

Para os dois de calor, os vestidos ficam mais decotados, trazendo uma proposta de moda resort. As cavas mais profundas podem deixar à mostra o biquíni que está por baixo.

Vestido urda
(foto: Marcelo de Paula/Divulgação)

Hélia fala que o tempo todo pensou na mulher na praia, o que não impede que as roupas sejam usadas na cidade. Os tops ganham fluidez com babados que se formam acompanhando o movimento do corpo.
 
As peças do verão chamam a atenção pela leveza. A designer buscou fios mais finos e apostou em tramas bem abertas. “Os tecidos ficaram bem suaves e delicados, chegando até a ter certa transparência”, descreve. Existe também um pouco de brilho.

Mantendo o colorido característico da marca, ela explora a combinação do off white com tons de verde, rosa, azul e vermelho. Sua vontade, no futuro, é trabalhar com tingimento natural para desenvolver sua própria cartela.
 
Hélia estuda bem as modelagens para aproveitar ao máximo os tecidos. “No início, quando tirava o tecido do tear, ficava estudando como fazer roupas sem desperdiçar nada”, diz. Dobrava, enrolava e evitava pensar em muitos recortes para não gerar muita perda.

Além de tecer, ela aprendeu a fazer torções diferentes, como se estivesse trabalhando com macramê. “Quero mostrar a tecelagem em um lugar totalmente diferente. Essa é a minha identidade”, aponta.
 
Para não ficar limitada, a designer incorporou ao seu trabalho tecidos sustentáveis com uma cara bem rústica, que até se parecem com o resultado no tear.

Com eles, cria calças, shorts e outras peças que envolvem uma modelagem mais complexa. Assim, consegue montar looks completos.

Desejo: preservar a tradição

Urd era uma das deusas que protegiam a “árvore sagrada” da vida. Segundo uma lenda nórdica, como representante do passado, ela guardava as tradições do mundo, incluindo saberes e costumes.

Blusa tecelagem urda
(foto: Marcelo de Paula/Divulgação)

Por coincidência, do universo da tecelagem, existe o termo urdume, que se refere ao processo de estruturar o tecido, definindo comprimento e largura, antes de criar as tramas.
 
O nome da marca, Urda, é diretamente inspirado nesta personagem Com o trabalho de tecelagem, Hélia se sente como aquela mulher imaginária: preserva uma técnica que tem ficado para trás.

“Quando comecei a tecer, a impressão era de ter chegado a uma festa que acabou. As pessoas estavam muito cansadas, reclamando que aquilo era muito trabalhoso e ninguém dava valor”, compara a designer, que é de Betim e hoje vive na Serra do Cipó.
 
Rapidamente, Hélia entendeu que precisaria motivar essas pessoas a seguir com o ofício. Como coloca a mão na massa, ela sabe que tecer não é fácil, que exige um preparo físico (e ainda assim o braço dói).

Em média, são três horas no tear para produzir uma única peça. Por isso, defende que o trabalho tem que ser valorizado como arte.
 
conjunto Calca top urda
(foto: Marcelo de Paula/Divulgação)

A designer tem três teares, sendo que dois estão em funcionamento. Por enquanto, trabalham apenas ela e mais uma tecelã (sua mãe, a costureira que deu início a essa história, finaliza as peças).

“Tecer é cansativo e exaustivo, mas no fundo gosto de me sentar no tear”, admite Hélia, já pensando que vai precisar aumentar a equipe para a marca crescer.
 
Em breve, será inaugurado um espaço na Serra do Cipó que vai funcionar como ateliê e loja da Urda. O plano da criadora é expor as suas roupas e outros trabalhos artesanais da região, entre eles crochê, cerâmica e bijuterias.

No andar de cima, os visitantes poderão ver de perto os teares em ação. Mais uma forma de perpetuar o ofício que ela abraça como propósito de vida. 

Serviço

Urda
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