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Estado de Minas

Referência em oncologia, Paulo Hoff se tornou amigo fiel de Alencar

Chamado de "meu médico principal", oncologista que tratou do ex-vice-presidente José Alencar desenvolveu uma relação de confiança e proximidade com o paciente


postado em 02/04/2011 09:17 / atualizado em 02/04/2011 09:28

Paulo Hoff, médico principal de Alencar e companheiro fiel(foto: Sergio Lima/Folhapress, Brasil.)
Paulo Hoff, médico principal de Alencar e companheiro fiel (foto: Sergio Lima/Folhapress, Brasil.)
A luta travada contra o câncer durante 13 anos pelo ex-vice-presidente José Alencar fez com que milhares de brasileiros passassem a ter uma grande admiração pelo político mineiro, que morreu na terça-feira e foi cremado anteontem, em Contagem, com honras de chefe de Estado, em clima de comoção nacional. A história dele animou outras pessoas no enfrentamento da doença. Em sua luta, o ex-vice-presidente contou com a assistência de um profissional que ganhou a confiança e a amizade do paciente: o oncologista Paulo Hoff, do corpo clínico do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. Paulo Hoff, de 42 anos, casado e pai de três filhas, tornou-se referência na oncologia brasileira, não somente pelo tratamento de Alencar, mas também por acompanhar os casos de centenas de outras pessoas, incluindo gente famosa. No entanto, ele salienta que não faz distinção de quem trata. ''Todo paciente tem suas características únicas, que devem ser reconhecidas e respeitadas. No entanto, é importante o médico sempre lembrar que o tratamento deve ser o melhor possível para todos os pacientes, independentemente de sua fama.'' No caso de José Alencar, era o próprio paciente que dava uma atenção especial ao especialista. O ex-vice-presidente sempre se referia a Hoff como ''meu médico principal''. ''Ele (Alencar) realmente me fazia esta deferência, o que eu recebia com muita humildade, pois alguns dos melhores médicos do mundo participaram dos seus cuidados'', afirma Hoff , também professor de oncologia clínica da Universidade de São Paulo (USP), com especialização em Miami. Hoff conheceu o ex-vice-presidente em julho de 2006, quando foi feito o diagnóstico de que o paciente tinha um sarcoma no retroperitônio (região do abdômen) e foi chamado pelos colegas Roberto Kalil, Miguel Srougi e Raul Cutait a opinar sobre o caso. ''Não foi uma tarefa fácil, pois se tratava do vice-presidente da nação - e justamente em época de eleição. Além disso, eu tinha acabado de chegar ao país e estava me familiarizando com o caso, enquanto os outros colegas já o conheciam havia muitos anos. Não é surpresa, portanto, que nosso relacionamento inicial tenha sido bastante formal'', relata o médico, no prefácio do livro José Alencar - amor à vida. transparência A partir de então, a confiança do ex-vice-presidente em Hoff se fortaleceu cada vez mais. O médico evita maiores comentários sobre sua relação com Alencar durante o tratamento. No entanto, faz uma revelação: ''Nem sempre foi fácil, especialmente porque ele fazia questão de ter uma transparência total com a mídia. Muitas vezes sugerimos que ele se preservasse mais, mas ele nunca aceitou e sempre disse que o conhecimento sobre a saúde do vice-presidente era um direito de todos''. Ao longo da sua luta contra a doença, o fundador do Grupo Coteminas passou por 17 cirurgias. Como acontece com outras pessoas, houve momentos em que os médicos tiveram que se reunir com familiares do paciente para decidir sobro o que fazer. Questionado sobre o que vale mais nessas horas, a decisão da família ou a deliberação dos médicos, Hoff resumiu: ''A melhor decisão é aquela baseada em sólida evidência médica e acordada por todos''. Durante o tratamento no Hospital Sírio-Libanês, José Alencar recebeu centenas de cartas e mensagens de todos os cantos do país, manifestando o desejo por sua recuperação. Muitas correspondências também foram destinadas a Paulo Hoff. O médico destaca que foi engrandecedora a convivência com o vice de Luiz Inácio Lula da Silva e que aprendeu muito com ele. ''Além da coragem e da força de vontade conhecidas por todos, (José Alencar) era um grande contador de histórias e tinha um conhecimento de história invejável'', afirma o oncologista. Ele ressalta que o ex-vice-presidente deixou aos brasileiros a lição para ''amar o seu país e, sempre, esforçar-se para fazer o seu melhor''. Lembra que Alencar, ''mesmo nos momentos mais difíceis'', fazia questão de cumprir com o seu dever. ''Com ele, aprendi também que é possível para uma pessoa de grande sucesso manter-se humilde e gentil, mesmo com as pessoas mais simples'', relata. Por outro lado, ele salienta que a luta do político e empresário serviu para encorajar outras pessoas a encarar a doença. ''Ele ajudou a derrubar o mito de que não se pode enfrentar o câncer. O fato de ele ter enfrentado a doença em público fez com que muitas pessoas se sentissem mais confortáveis em discutir seus próprios problemas com familiares e amigos. Além disso, ele conseguiu enfrentar um câncer avançado por muitos anos, mantendo suas atividades normais, que não eram poucas, mostrando que é possível, sim, prolongar a vida mantendo sua qualidade'', observa. Precocidade em comum A simplicidade é uma das marcas de Paulo Hoff, que também tem outra característica: a precocidade. Filho de um fazendeiro e uma comerciante, integrante de uma família de três irmãos, nasceu em Paranavaí (interior do Paraná), morou em Passo Fundo (RS). Aos 16 anos passou no vestibular para medicina na Universidade de Brasília (UnB). Durante um ano e meio, fez estágio como aluno visitante na Universidade de Miami. Aos 22 anos, terminou o curso médico. Aos 37 anos, após outra temporada de estudos nos Estados Unidos, ganhou destaque numa pesquisa, aparecendo como o mais novo entre os especialistas mais renomados do país no tratamento do câncer. A jornalista Eliane Cantanhêde, autora do livro José Alencar - amor à vida (Editora Sextante, lançado em novembro de 2010), conta que, além da própria distinção dada a ele pelo biografado, duas qualidades de Hoff fizeram com que ela o escolhesse para assinar o prefácio da obra. ''Percebi que, além de um médico extremamente simples, que nunca faz questão de aparecer, o doutor Paulo Hoff tem a característica da precocidade. Ele conquistou as coisas muito cedo. E simplicidade e a precocidade eram as mesmas marcas de José Alencar'', conta Cantanhêde. O cirurgião oncológico Ademar Lopes, que integrou a equipe que cuidava do ex-vice-presidente, enche o colega de elogios. ''O Paulo Hoff é um médico jovem, com uma excelente formação em oncologia clínica. É uma pessoa extremamente simples e afável, com uma ótima relação com os colegas e com os pacientes'', avalia Lopes. Hoff, também especializado em clínica médica e hematologia, conta que decidiu seguir a oncologia porque teve casos de câncer na família, por causa da ''grande oportunidade de pesquisa que o campo oferecia e pelo desejo de participar da luta contra a doença''. Para ele, médico que se especializa na área tem como desafio enfrentar uma doença cercada de medo e desconhecimento. ''Precisamos de muita pesquisa para realmente compreendermos e derrotarmos a doença. Além disso, como o desfecho do tratamento nem sempre é favorável, a carga emocional é sempre bastante pesada'', observa. O profissional que foi ''Cmédico principal'' de José Alencar considera que o Brasil tem uma oncologia moderna, com grandes instituições e excelentes profissionais na área . Mas, pondera: ''Podemos melhorar muito, particularmente no sistema público, mas estamos avançando. Um dos nossos maiores problemas é a escalada de custos. Os avanços nesta área costumam ser bastante caros e temos uma carência reconhecida de recursos na saúde''. (LR)

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