
Só o Ribeirão Ribeiro Bonito precisa suprir cerca de 34.400 habitantes de Caeté com os 80 litros por segundo que o Saae tem outorgados. Mas, no último ano, a vazão do manancial foi tão pequena que a captação não atingiu 60l/s, deixando cerca de 8.600 pessoas desabastecidas, parte delas submetidas a sistema de rodízio: água, só a cada três dias. O resultado foram dois bloqueios por manifestações em rodovias que dão acesso a Caeté, a BR-262 e a MG-435. “Sofreram mais os bairros altos, como o Campo do Miranda, o Cidade Jardim e o Europeu. Fomos até os produtores com a polícia e os órgãos ambientais, primeiro para garantir o abastecimento da cidade e depois para conscientizar, mas a situação chegou ao limite. É imprescindível uma solução”, disse o superintendente do Saae, Almiro Castro.

Na avaliação do biólogo e consultor em recursos hídricos Rafael Resck, um dos problemas revelados por situações como a da cidade da Grande BH é o acesso a técnicas de irrigação que consumam menos água. Nas lavouras de Caeté, por exemplo, o uso de aspersores – dispositivos que lançam água em jatos até as plantas – não é o mais adequado. “Vemos que falta conhecimento aos produtores, e mesmo aqueles que o têm não reúnem condições econômicas para obter equipamento adequado. Seria preciso que o poder público desse incentivos, como ocorre com o agronegócio, que tem financiamento”, afirma.
Segundo o superintendente do Saae de Caeté, a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG) prestou esclarecimentos e deu apoio aos produtores da bacia do Ribeiro Bonito. “Mas a resistência é grande. Muitos produtores dizem que a água que retiram volta para o rio, mas isso não é verdade. Além de a quantidade de água ser menor, a qualidade também é pior, porque vem com implementos agrícolas dissolvidos, agrotóxicos e tudo isso faz nosso tratamento sair mais caro”, disse Almiro Castro.
Eucalipto e o cicloda escassez
Quando a equipe do Estado de Minas esteve na região de Caeté, o nível do Ribeirão Ribeiro Bonito estava tão baixo que muitas captações nem sequer alcançavam a água. “Tinha uma cachoeira linda no rio. Muita gente se juntava para se divertir nela e nadar, mas, com a estiagem, a queda d'água nunca mais voltou a ser a mesma. Não dá mais para nadar”, conta a dona de casa Zenaide Barbosa. “Quem mora na cidade está sofrendo também. Fica sem água e nem tem onde buscar. A gente aqui na roça ainda pode procurar outro córrego para matar a sede”, considera. Um de seus filhos, o motorista Renato Fernandes dos Santos, de 33 anos, culpa também as plantações de eucalipto da região, que já foi polo siderúrgico, portanto grande consumidora de carvão. “Não são só as hortas. Muita mata foi devastada para virar plantação de eucalipto e depois disso o rio ficou muito mais baixo”, conta. O irmão dele, o auxiliar administrativo Roni Fernandes dos Santos, de 30, cobra mais investimentos em preservação. “Não protegeram as nascentes e muitas delas secaram. Com isso, menos água entrou no ribeirão. Não dá para dizer que a culpa é só dos produtores”, afirma.
Plantações de hortaliças sugam água da região de Caeté
