
Foi a primeira vez que Bruno assistiu a um jogo oficial desde julho de 2010, quando foi preso por participação na morte de Eliza Samudio. Condenado a 22 anos e 3 meses de prisão, foi posto em liberdade em 24 de fevereiro passado, por liminar concedida pelo ministro Marco Aurélio de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), depois de seis anos e sete meses de reclusão.
O arqueiro recebeu carinho do público logo na chegada, posou para selfies e deu autógrafos, mas não teve o nome gritado pela torcida durante a partida. Entrou no estádio com a camisa do Boa, 15 minutos antes do início do duelo, na companhia de dirigentes do clube e de uma equipe da Inglaterra que faz um documentário sobre o goleiro. Chegou pelo portão principal e fez questão de apertar as mãos de funcionários.
Em pouco tempo, dezenas de torcedores foram ao encontro dele. Bruno, que anteontem acompanhou o treino dos companheiros, apostou na vitória. E falou como no tempo em que era capitão do Flamengo: “Estou aqui para passar uma energia positiva para a galera. Vim falar para a equipe que estaremos juntos para o que der e vier”.
O reforço do Boa, que custou ao time a debandada de todos os patrocinadores, assistiu à partida em espaço preparado pela diretoria, na arquibancada. Ao seu lado, apenas as pessoas mais próximas. Lá, ouviu de pé o Hino Nacional. “Se ganharmos de 1 a 0 está bom demais”, disse. O primeiro gol saiu aos 35 minutos. Depois de uma confusão na área, Daniel empurrou a bola para as redes. Bruno comemorou, erguendo as duas mãos.
Dez minutos depois, viu o camisa 9 Caio entrar pela direita e ampliar: 2 a 0. Bruno voltou a levantar os braços. Cobrou o juiz num lance em que acreditou ter sido falta, ignorada pelo árbitro: “Vamos marcar aí. Foi falta!”. Também ficou de olho na meta oposta, onde estava Luan Polly, arqueiro do Boa. Chegou a aplaudi-lo em uma defesa. Mas o atual titular da camisa 1 não teve muito trabalho no primeiro tempo.
Muita gente, porém, quer ver mesmo é o novo contratado debaixo da meta, como o torcedor Antônio Grilo, de 65. “Bruno merece chance como todo ser humano. Vamos apoiá-lo”, disse. O casal de aposentados Donizete, de 59, e Lucinéia, de 56, pensa da mesma forma. Eles foram ao Melão com a camisa do time. "É a primeira vez que venho ao campo em 2017. O time está em formação (o Boa, campeão da série C do Brasileiro em 2016 foi praticamente desmontado em 2017). O Bruno será um ótimo reforço", defendeu Donizete.

PÚBLICO Muitos torcedores fizeram questão de dizer que o público pagante (935 pessoas) não pode ser considerado baixo, embora menor do que o do Mineiro do ano passado (média acima de 1 mil), pois ontem foi uma quarta-feura atípica. Como em muitas cidades, houve manifestação no Centro de Varginha contra a proposta da reforma da Previdência, o que complicou o trânsito.
Também pesou o fato de canais da TV aberta terem transmitido jogos de maior expressão. A bateria da torcida organizada do Boa havia ensaiado mais cedo uma música de boas-vindas ao novo contratado. Mas os integrantes desistiram de cantá-la no estádio: “Não queremos desestabilizar o atual tilular”, explicou um dos integrantes.
