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Estado de Minas

'Quem julga é a Justiça', diz diretor do Boa sobre contratação de Bruno

Rildo Morais destacou que não cabe às pessoas o julgamento do goleiro e ele tem o direito de recomeçar depois de pagar pelos erros


postado em 11/03/2017 06:00 / atualizado em 11/03/2017 07:59

Luiz Ribeiro, Guilherme Macedo e João Vitor Marques

Bruno posou nesta sexta-feira com a camisa do novo time e promete se apresentar na segunda-feira(foto: Boa Esporte/Divulgação)
Bruno posou nesta sexta-feira com a camisa do novo time e promete se apresentar na segunda-feira (foto: Boa Esporte/Divulgação)
Solto no fim de fevereiro, depois de ficar preso por seis anos e sete meses, acusado de ser mandante do assassinato de Eliza Samudio, Bruno das Dores Fernandes, de 32 anos, está de volta ao futebol. O goleiro chegou ontem a um acordo para defender por dois anos o Boa Esporte, time de Varginha (Sul de Minas) que é o atual campeão brasileiro da Série C e disputa o Módulo 2 do Campeonato Mineiro.

LEIA TAMBÉM: "Bruno fecha com Boa por dois anos", "Técnico do Boa Esporte evita 'assunto Bruno'", "O dia do goleiro Bruno em Varginha""Após acerto com Bruno, Boa vira alvo de duras críticas nas redes sociais" e "Esposa do goleiro Bruno comemora negócio em rede social"

A negociação foi confirmada à tarde pelo advogado de Bruno, Lúcio Adolfo da Silva, e pela diretoria do Boa Esporte. O anúncio provocou reações entre torcedores do time, muitos deles contrários à contratação. A página do time em uma rede social recebeu vários comentários negativos e uma petição online chegou a ser feita na internet contra a negociação.


O acerto entre Bruno e o Boa ocorre duas semanas depois da soltura do atleta, por decisão do ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF). O magistrado considerou que, mesmo condenado pelo Tribunal do Júri de Contagem a 22 anos e três meses de reclusão pelo sequestro, morte e ocultação do corpo de Eliza, o goleiro deveria aguardar em liberdade decisão de recurso apresentado pela defesa dele no Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) há mais de três anos. Bruno, que estava na Associação de Proteção e Assistência ao Condenado (Apac) de Santa Luzia (Grande BH), foi liberado em 24 de fevereiro.

Depois de viajar no início de março ao Rio de Janeiro, onde vive a atual mulher, Ingrid Calheiros, Bruno chegou ontem pela manhã em Varginha para acertar detalhes do contrato. A reunião do goleiro com dirigentes do Boa Esporte, seu advogado e Ingrid no restaurante Pinga com Torresmo, em frente ao hotel onde o clube costuma se concentrar para o jogos, no Bairro Jardim Andere, não passou despercebida. Houve quem pedisse para fazer selfies com o atleta, mas, segundo testemunhas, algumas pessoas do lado de fora gritaram palavras de ordem contra o goleiro.

À tarde, o advogado Lúcio Adolfo confirmou acordo com o time, informou que a minuta do contrato já está pronta e que o jogador deverá se apresentar ao clube de Varginha na segunda-feira. Antes do anúncio do acordo, o goleiro comentou a negociação e elogiou o clube do Sul de Minas. “É um time que está sempre em alta, sempre surpreendendo muitos outros clubes por aí”, disse à TV Alterosa. “Eu não vim aqui à toa”, completou. Ao EM, o diretor de futebol do Boa, Rildo Morais, definiu Bruno como um “goleiro de altíssimo nível”.

Sobre a repercussão negativa do acordo com Bruno, inclusive entre parte da torcida do Boa, Rildo argumentou que o clube tem o “espírito de colaborar com a recuperação das pessoas”. “Todos nós estamos sujeitos a errar e também a pagar pelos erros, e depois poder voltar ao convívio da sociedade” afirmou. “Não podemos julgar ninguém. Se as pessoas cometem erros, quem julga é a Justiça. E depois de pagar pelos erros, ela tem direito de ir e vir”, acrescentou.

A contratação de Bruno também rendeu reações nas páginas de alguns patrocinadores nas redes sociais. “Patrocinador de assassino”, foi apenas uma das postagens críticas. A empresa Nutrends, uma das que apoia o time, respondeu que não participa do processo de contratação. “Pra nós foi também uma surpresa e ainda não foi definida uma posição sobre esse assunto”.

Morais não revelou detalhes do acerto financeiro com Bruno. “Foi fechada uma proposta dentro da realidade financeira do Boa Esporte, nada a mais do que os outros jogadores recebem”, informou.

Fundado em 30 de abril de 1947, como Boa Vontade Esporte Clube, em Ituiutaba, no pontal do Triângulo Mineiro, o clube se transferiu para Varginha em 2010. Além do título brasileiro da Série C, de 2016, a equipe foi campeã estadual do interior, em 2009.

Com o acordo com o Boa, uma questão que terá de ser enfrentada por Bruno e seus advogados é a pendência com o Montes Claros Futebol Clube, que alega que o contrato assinado com o goleiro está em vigor. O presidente do Montes Claros, Ville Mocelin, reafirmou ontem que o atleta e seus advogados terão que conversar com ele antes de assinar contrato com outra equipe. “Estamos dispostos a negociar, mas primeiro terão que conversar com a gente”, afirmou.

Memória

Um crime com requintes de crueldade

Embora o corpo nunca tenha sido localizado, para a Justiça Eliza Samudio foi morta em 10 de junho de 2010, em Vespasiano, após ter sido levada à força do Rio de Janeiro para o sítio do goleiro, em Esmeraldas, na Grande BH. Ela tinha 25 anos e era mãe do filho recém-nascido do goleiro Bruno, de quem foi amante. O jogador não reconhecia a paternidade, o que teria sido a motivação do crime. O júri popular (cinco mulheres e dois homens) o condenou em 2013 a 22 anos e três meses por assassinato e ocultação de cadáver, além de sequestro e cárcere privado de Bruninho. A sentença citou “motivo torpe, asfixia e uso de recurso que dificultou a defesa da vítima”. A juíza Marixa Fabiane Lopes Rodrigues afirmou que “a execução do homicídio foi meticulosamente calculada”. Para os investigadores, Eliza foi morta com requintes de crueldade, num plano conduzido pelo braço-direito do goleiro, Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, que a trouxe do Rio, e executado pelo ex-policial civil Marcos Aparecido dos Santos, o Bola. Na visão dos policiais, havia suspeita de esquartejamento e de que partes do corpo tivessem sido jogadas a cães. Ocorreram buscas em vários locais, sem pistas.

Novo capítulo de carreira turbulenta

Veja trajetória esportiva de Bruno, interrompida com a acusação, e posterior condenação, de que ele participou do assassinato de Eliza Samudio.


1996
Aos 12 anos, Bruno entra na Escolinha do Palmeiras, de onde sai para rápidas passagens em categorias de base das equipes mineiras do Democrata de Sete Lagoas, Venda Nova, Tombense e Cruzeiro.

2001
Chega ao Atlético, para jogar nos juniores.

2004
Bruno é promovido ao profissional no Atlético

2005
Em 12 de junho faz sua estreia, em jogo pela 7ª Rodada do Campeonato Brasileiro, em que Atlético empatou em 1 a 1 com o Internacional, no Beira Rio.

2006
Em 29 de junho faz seu último jogo pelo Galo, de um total de 59 participações. No período, sofreu 67 gols, teve 24 vitórias, 18 empates e 17 derrotas.

2006
Em julho é vendido ao grupo MSI e repassado ao Corinthians

2006
Em setembro, sem chances no time paulista, foi negociado com o Flamengo, que dois anos depois pagou cerca de 3 milhões de euros pelo seu passe. Tornou-se ídolo da torcida, com atuações marcantes em defesas de pênaltis.

2009
Em 6 de dezembro, como capitão do Flamengo, ergue a taça de campeão brasileiro pela primeira vez e é eleito o melhor goleiro do campeonato.

2010
Em 5 de junho, no Maracanã, faz seu último jogo pelo Flamengo. Entra de folga, devido ao recesso da Copa do Mundo, quando viaja para Minas, segundo investigação do Ministério Público, para dar sequência ao plano de sequestro e morte de Eliza Samudio.

2010
Em 24 de junho a polícia recebe denúncias anônimas de que Eliza Samudio havia sido espancada e morta no sítio de propriedade do jogador, em Esmeraldas, na Grande BH. Com o início das investigações, que indicam a participação do goleiro no crime, Bruno Fernandes se entrega à polícia em em 7 de julho. Em 2013, ele foi condenado pelo Tribunal do Júri de Contagem.

2017
Por decisão do Supremo Tribunal Federal, Bruno deixa a cadeia em 24 de fevereiro e passa a aguardar em liberdade resultado de recurso contra a condenação do Tribunal do Júri de Contagem. Ontem, ele chegou a acordo com o Boa Esporte, time pelo qual poderá disputar o Módulo II do Campeonato Mineiro, em andamento, e a Série B do Campeonato Brasileiro.

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