Brasileira e norte-americana, a Endless que levar computadores para o mundo todo


Os computadores da Endless

Criando computadores e sistemas operacionais, a Endless poderia ser enxergada como uma ambiciosa empresa querendo brigar com Apple, Dell e Microsoft. Mas a missão deles talvez seja ainda mais complicada que confrontar gigantes da tecnologia: o desafio deles é levar a tecnologia para todos e transformar a vida das pessoas com o acesso a um computador.

“Sem acesso ao computador, as pessoas não conseguem empregos bons como os que nós gostaríamos que nossos filhos possam ter”, considerou Marcelo Sampaio, Chief Growth Officer e co-fundador da empresa. “Mas não tem nada a ver com assistencialismo, não somos uma ONG. Queremos usar o capitalismo a favor da nossa missão”, acrescentou o empreendedor brasileiro.

Apesar de ter nascido em um café de Stanford, a universidade que é o berço do Vale do Silício, a Endless conta com Marcelo como um dos seus fundadores. Em 2011, o atual CEO Matt Dalio estudava na escola de negócios da conceituada universidade e buscava um parceiro que entendesse bem o mercado brasileiro e também outras economias emergentes. Foi um convite que mudou os planos de Marcelo, que então estava focado em seus estudos.

 

 

 

“Eu estava começando um mestrado na University of Chicago. Na época foi uma decisão polêmica, já que eu tinha um emprego bom em uma empresa reconhecida, a Oracle, e larguei esse emprego para cursar o mestrado. Quando recebi o convite do Matt, larguei meu mestrado e fui para a Endless”, recordou ele.

O plano parece estar funcionando. Depois de mais de quatro anos de pesquisas e desenvolvimento dos seus produtos, hoje a Endless conta com um sistema operacional gratuito que pode ser instalado em qualquer computador do mundo e uma linha de computadores de baixo custo que saem a partir de 99 dólares nos Estados Unidos – aqui no Brasil o mais barato é R$ 899. “Ainda temos um problema com a carga tributária, mas o nosso maior valor está no sistema operacional, que é de graça”, explicou Roberta Antunes, diretora geral da Endless Brasil.

Assim como Marcelo, ela também mudou seus planos ao ser seduzida pela missão da empresa. Roberta estava em um período sabático após a venda da startup Hotel Urbano, que ela foi uma das fundadoras. Interrompeu o seu descanso para se envolver com a desafiadora ideia de levar computadores para quem nunca teve acesso a eles.

“Meu primeiro dia de empresa foi na rocinha, na casa de uma pessoa que tinha que montar um dos nossos computadores. Eu estava ali e tinha que deixar ela montar sem interferir. Ela me dizia muito que computador não era para ela, tinha muita insegurança, mas eu falei que, se ela não conseguisse montar, a culpa não era dela, mas minha. Em pouco tempo ela conseguiu instalar o dispositivo e ficou super orgulhosa, até chamou os vizinhos para mostrar. Foi uma sensação de empoderamento grande, de que agora ela pode sim ter acesso à tecnologia. Mexeu com a autoestima dela”, relembrou Roberta, emocionada. “E é bem claro que o acesso a tecnologia é também acesso a educação”.

Um dos exemplos de como a missão da Endless é importante está dentro do seu time de profissionais. Gilmar hoje faz parte da equipe de pesquisa da empresa, mas isso só foi possível porque, mesmo vivendo em uma comunidade pobre, a Favela da Rocinha no Rio, ele teve acesso a um computador com internet. Fã de rock, Gilmar buscava traduções em português para suas músicas favoritas e foi aprendendo inglês assim, já que ele teve que largar seus estudos formais na sexta série para trabalhar e ajudar a família. Quando a equipe de Marcelo precisava de alguém para abrir as portas da comunidade da Rocinha para a Endless, a vida de Gilmar mudou. “Um taxista falou dele para nós e foi um achado. Hoje ele é imprescindível para o time”, afirmou Marcelo.

 

Acessível

A Endless ainda está dando seus primeiros passos, mas a empresa tem planos enormes para seus produtos. Além do Brasil, a ideia é levar o acesso ao computador para muitos outros países. Mas a estratégia é dar um passo de cada vez. “Todos esses mercados emergentes são também complexos e requerem foco. Hoje estamos aprofundado no Brasil e no México. Depois da América Latina, vamos para China, Índia, Indonésia e a Rússia”, pontuou Marcelo. “Mas nossa operação é global e nosso sistema operacional embarca em qualquer computador. Hoje estamos em mais de 20 países, dos Emirados Árabes à Colômbia”, considerou.

 

 

 

E além da logística e parcerias, a Endless também criou uma experiência acessível em seus computadores e no sistema operacional. “Toda nossa interface é baseada em uma interface de celular, que é mais acessível para quem nunca teve contato com um computador. Temos um campo de busca único no sistema operacional que vai dentro dos aplicativos e um conteúdo extenso que pode ser acessado mesmo por quem não tem internet”, descreveu Roberta.

“Para mim é o computador perfeito para a família. Ele é fácil de usar e não tem nenhum custo extra atrelado. Ele entra na família pela criança, já que é algo que pode mudar o futuro do filho. Mas não para por aí, em pouco tempo ele se torna acessível e todos começam a usar”, avaliou ela.

Para Roberta, a Endless é pioneira em um setor que pode se provar imenso e lucrativo. “Existe um mercado de três milhões de pessoas que é ignorado. Se conseguirmos provar que ele pode ser lucrativo, outras empresas podem vir. E então vamos trazer muito investimento para essa área”, disse ela. “Um exemplo que dou é o do Elon Musk. Admiro muito que ele conseguiu chamar atenção do investimento privado para algo que até então era exclusividade dos governos: a corrida espacial. Quando ele consegue provar que isso é algo que pode dar dinheiro, financia a missão dele”, completou.

Para quem quiser conhecer mais e se aprofundar, o Endless OS está disponível para download gratuito aqui.


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