Médico também pode ser empreendedor

Gerir uma clínica ou consultório também exige noção de administração e marketing. Para crescer, é preciso planejamento


Plantões, mais de um emprego e longas jornadas semanais. Essa é a realidade de pelo menos 78% dos médicos, conforme a publicação Demografia médica brasileira, feita pelo Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Quase 38% deles, segundo a pesquisa, também acumulam cargos de gestão. “Não raramente, profissionais de saúde se veem exercendo posições de gestores, sem sequer ter sido preparados para tal. Isso pode acarretar consequências sérias, como prejuízos e descontrole financeiro”, pondera Silvane Castro, MBA em finanças pelo Ibmec Business School.

Para não passar por maus bocados, Bruno Vargas procurou consultoria. O dermatologista tinha um negócio pequeno, sonhava com uma clínica de grande porte, mas não sabia como administrar a parte financeira, jurídica e contábil. Com a consultora Silvane, aprendeu a traçar metas. “A clínica que tinha 30 metros quadrados (m2), hoje tem 330m2 e cerca de 20 pessoas trabalhando. Não é grande, mas pular de dois funcionários para 20, em cinco anos, foi um crescimento razoável”, diz. Com o progresso, Silvane vê a gestão de consultórios como uma oportunidade. “O mercado de saúde passa por uma transição e está deixando de ser amador para ser profissionalizado. O médico passar por uma faculdade de medicina não é garantia. É preciso pensar na gestão”, avalia ela.

Empreendedorismo e carreira médica combinam e muitos contam ainda com instinto e prática. Fernando Marsicano, membro da Sociedade Brasileira de Urologia, começou a empreender na prática, sem conhecimento prévio das ferramentas de administração. “Comecei meu negócio como sócio de uma clínica de urologia. Na ocasião, comprei uma cota em um hospital de Belo Horizonte e atendia em um consultório com outros colegas. Para uma administração coerente, é importante também estudar a concorrência, usar ferramentas de marketing e conceitos de gestão mesmo, que, quando ignorados, aumentam as chances de erros”, observa o médico, ressaltando que um médico empreendedor tem o grande desafio administrativo pela frente. “Não aprendemos na faculdade de medicina nada sobre isso. Enfrentamos problemas relacionados à falta de conhecimento na área de administração e à importância de fazer parte de um mercado em que a concorrência é acirrada.”
De acordo com Silvane, a gestão financeira de uma clínica ou consultório envolve diversas etapas e demanda tempo e, por isso, acaba sendo deixada de lado. “Como não são identificados, alguns erros se repetem, virando uma bola de neve. Por fim, ao serem percebidos já é tarde demais”, alerta. Medir o retorno é uma das medidas para ter cautela. No caso de Bruno Vargas, a checagem dos números é feita semanalmente. “Às vezes você planeja, mas no meio do caminho o plano muda, por isso é preciso uma revalidação com o tempo”, opina o profissional.

Para começar a tirar do papel o projeto da clínica própria, os especialistas aconselham a elaboração detalhista do projeto e da profissionalização. “Tenha um planejamento, pois um passo errado pode comprometer todo o fluxo. Um passo a passo é importante pra não haver quedas”, aconselha Vargas. Para Fernando Marsicano, a especialização é um dos caminhos. “É preciso fazer cursos de gestão. Se não for possível, procure trabalhar com uma boa consultoria”, indica. A consultora Silvane concorda e avisa que, além disso, é necessário pensar com clareza. “Isso não é só para grandes negócios. Mesmo no início, é importante ter metas, objetivos e planejamento de onde se pretende chegar e, se necessário, buscar alguém para complementar o trabalho.”

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