Jornal Estado de Minas

TRANSFOBIA

Ações de marca de cerveja americana caem após campanha com influencer trans

No começo de abril, a influenciadora transgênero Dylan Mulvaney publicou um vídeo no perfil do Instagram promovendo a marca de cerveja estadunidense Bud Light, pertencente à AB InBev (Anheuser-Busch InBev). O retorno, no entanto, não foi muito positivo para a empresa, que viu suas ações caírem na Bolsa de Valores dos EUA e perdeu cerca de US$ 5 bilhões de valor em poucos dias após um suposto boicote de consumidores conservadores.





Dylan é uma TikToker que ganhou boa parte de seu reconhecimento durante a pandemia. Na rede social, ela compartilhava sua vida como pessoa pertencente à comunidade LGBTQIAP+ e, em março de 2022, foi à público anunciar que se identificava como mulher transgênero, ao mesmo tempo em que deu início à sua saga de “365 of Girlhood” (365 dias de “meninice”, em tradução literal).


Pouco tempo após completar a saga, publicou o vídeo promovendo a marca de cerveja brincando sobre não saber o que era o “March Madness”, um torneio universitário de basquete muito popular nos Estados Unidos, mas que ainda planejava aproveitá-lo com uma lata de Bud Light.


No mesmo vídeo, que faz parte de uma promoção em que os consumidores concorrem a um prêmio de US$ 15 mil, ela também mostra uma lata exclusiva que foi personalizada com seu rosto, recebida pela marca como um presente.





A campanha acabou gerando revolta entre o público conservador da Bud Light, que chegou a afirmar que a empresa estaria “cedendo à pressão do público LGBTQIAP e à patrulha do cancelamento da internet”. No perfil de Dylan, uma onda de comentários transfóbicos inundaram as suas publicações, incentivando um boicote à marca.


Analistas creditam a queda de US$ 5 bilhões às críticas deste público. Os papéis da AB InBev na Nasdaq (National Association of Securities Dealers Automated Quotations), uma das bolsas de valores mais importantes dos Estados Unidos, estavam sendo negociadas a US$ 66,99 no dia 31 de março, valor que, nesta quinta-feira (13/4), caiu para US$ 64,16.


A empresa precisou soltar uma nota explicando que a lata que Dylan mostra no vídeo com seu rosto estampado era uma edição exclusiva e que nunca esteve à venda. “De tempos em tempos, nós produzimos latas comemorativas exclusivas para nossos fãs e influenciadores da marca, como a Dylan Mulvaney. Essa lata comemorativa foi um presente por uma conquista pessoal e não esteve à venda para o público geral”, escreveu a AB InBev em nota.





Histórico

Dylan Mulvaney chegou a protagonizar campanhas publicitárias de outras marcas, como a Nike e a Olay, pelas quais também recebeu comentários transfóbicos. Ela não costuma responder a essas interações em seu conteúdo, mas quando o faz, é de maneira educativa e bem-humorada.


Apesar da confiança, Dylan chegou a ficar apreensiva quanto à sua transgeneridade, já que, durante a pandemia, chegou a se assumir como uma pessoa não-binária. Para ela, voltar à binaridade de gênero a assustava, mas também significava honrar a Dylan criança que já sabia, há anos, que era uma garota.


Atualmente, considera-se em paz em relação à sua identidade. Em entrevista à Rolling Stone, ela afirmou que chegou a tentar dar uma chance para as pessoas que faziam comentários transfóbicos em seus vídeos, mas acabou percebendo que não mudaria o pensamento delas.





“Agora, já estou um pouco mais em paz com o fato de que as pessoas têm um problema com a minha transgeneridade ou com a minha alegria, e isso é problema delas. Não tem nada a ver comigo. Então, tenho que pensar nas pessoas que me apoiam e celebram essa versão de mim. São essas pessoas que devo escutar”, declarou Dylan.

 

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