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Estado de Minas

Foi ruim, mas foi bom: veja artistas que conseguiram se dar bem em 2019

Difícil para a maioria dos profissionais do setor cultural, ano termina com balanço positivo para mineiros que conseguiram realizar bons trabalhos e ser reconhecidos por isso


29/12/2019 04:00 - atualizado 29/12/2019 09:32

(foto: Fotos: Túlio Santos/EM/D.A.Press)
(foto: Fotos: Túlio Santos/EM/D.A.Press)
A crise institucional que atinge a área cultural nos últimos anos chegou a pontos críticos em 2019, com ataques pessoais, extinção de órgãos, troca-troca de cargos estratégicos, cortes de patrocínios. O meio está em suspenso, sem planejar muito. A despeito disto (tudo), houve também realizações no ano. O período que termina agora foi determinante para a carreira da atriz Bárbara Colen, que ganhou o mundo com a personagem Teresa, do filme Bacurau. Gestada em 2018, a banda Rosa Neon fez de 2019 o seu ano, configurando-se como a mais atraente novidade da música pop mineira – que atravessou as montanhas com canções solares e divertidas. Outros exemplos: o ator Odilon Esteves encenou três espetáculos neste ano; a poeta Bruna Kalil Othero lançou dois livros; e o cenário teatral de Belo Horizonte ganhou uma nova sala, voltada para a produção local. Ainda que não haja muitas flores no caminho, nem tudo é tempestade.

Bárbara Colen

(foto: Fotos: Túlio Santos/EM/D.A.Press)
(foto: Fotos: Túlio Santos/EM/D.A.Press)
A atriz trabalhou como nunca em 2019. Rodou duas séries – Onde está meu coração, da Globoplay, e Hit parade, do Canal Brasil, ambas com estreia prevista para 2020 – e o longa-metragem Fogaréu, de Flávia Neves. “Contra todos os prognósticos, foi um grande ano para mim. Foi bom começar uma nova experiência (em TV), pois é uma diferença de ritmo. O volume de trabalho em uma série é grande, você grava das sete da manhã às sete da noite”, afirma.

Mas o que deu visibilidade à carreira de Bárbara foram três filmes, rodados em anos anteriores, em especial Bacurau, a produção nacional mais comentada do ano. De acordo com ela, o longa-metragem de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles é um divisor de águas.

“A partir deste filme as pessoas começaram a saber quem eu sou, passaram a relacionar com o que já tinha feito”, diz ela, que esteve no elenco de outros longas lançados neste ano: o mineiro No coração do mundo, de Gabriel e Maurílio Martins, que também chegou ao circuito comercial, e Breve miragem do sol, de Eryk Rocha, lançado há pouco no Festival do Rio. “Os três filmes saíram quase ao mesmo tempo. Foi interessante, pois os personagens são bem diferentes.”

Bárbara se dividiu entre os sets e a participação em festivais. “A carreira do ator é mais crítica quando você está começando. Depois de chegar a um estágio, os convites começam a aparecer”, conta ela, que agora se preocupa em estar ativa. Por ora, tem confirmada participação no novo longa do mineiro Marcos Pimentel.

Odilon Esteves

“Quando a gente repassa a história da arte e do próprio teatro, vê que existem poucos períodos de estabilidade. É como se a atividade estivesse sempre em crise. Às vezes algumas conquistas permitem períodos de maior dignidade, mas lutar em meio às crises é uma constante na história”, afirma o ator Odilon Esteves, referindo-se não somente à sua própria carreira – dentro e fora da companhia Luna Lunera – como à atividade teatral como um todo.

Em 2019, ele trabalhou bastante. Fez temporada, em BH e em São Paulo,  com o monólogo O importado; integrou o elenco da peça Nastácia (que está indicada a vários prêmios, inclusive o de melhor ator no Cesgranrio); gravou a série Hit parade. “A gente está colhendo agora investimentos que houve antes dos cortes na cultura. Mas só daqui a dois, três anos, vamos conseguir mensurar os cortes deste ano, de projetos que deixaram de existir.”

Esteves ainda viajou com a Luna Lunera para Portugal para apresentar o espetáculo Aqueles dois (2007). A viagem foi viabilizada via financiamento coletivo. “É outra forma de subsistência (para o artista) que, obviamente, não substitui a obrigação do Estado de fomentar cultura, educação e saúde. Mas é muito bonito ver esta participação popular”, destaca Esteves.

Para o ator, a tempestade é também um bom momento para uma autoavaliação. “Tenho me perguntado, para além dos contextos internos, o que eu fiz e o que deixei de fazer nos últimos 20 anos em que estive no teatro. Tenho que saber qual é a minha parcela de contribuição e de omissão para o cenário que existe agora. Acho que o momento é de um exercício importante de conscientização.”

Bruna Kalil Othero

(foto: Maria Thereza Pinel/Divulgação)
(foto: Maria Thereza Pinel/Divulgação)
Fazer literatura no Brasil não é nada fácil, autores veteranos não se cansam de dizer. Poesia então, ainda mais difícil. Aos 24 anos, Bruna Kalil Othero publicou não um, mas dois livros em 2019. E para 2020 pelo menos mais um virá a público.
Em outubro, saíram Oswald pede a Tarsila que lave suas cuecas, seu terceiro livro de poesia, e Carne, livro-objeto que marcou a estreia de Bruna na prosa. Ao comentar sua imersão no universo dos modernistas, ela admite que teve que “não ter respeito” por monstros sagrados. Virou do avesso Drummond, Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Pagu, Oswald e Tarsila.

E no apagar das luzes de 2019 Bruna recebeu a notícia de que um novo livro seu foi premiado. Tinha um Pedro no meio do caminho foi selecionado para o Prêmio Nacional de Incentivo à Publicação Literária, 200 Anos de Independência, da Secretaria Especial de Cultura.

Nesta nova incursão pela poesia e pelos modernistas, Bruna faz mais uma reverência a Drummond. “Pensei também no tanto de Pedros que apareceram na nossa história: desde o Álvares Cabral, os Pedros 1º e 2º, o Pedro Américo. É um livro sobre o momento da formação histórica da nossa identidade social”, comenta ela. A publicação está prevista para o próximo ano.

“A literatura não é minha principal fonte de renda. Sou acadêmica, estou fazendo mestrado. Mas, diante da situação política que nos encontramos, é ainda mais importante produzir, dizer coisas, publicar. Nós precisamos ser ouvidos”, ela diz.

Rosa Neon

(foto: Sarah Leal/divulgação)
(foto: Sarah Leal/divulgação)
“2019 foi o ano. Até agora”, comemora Marcelo Tofani, um dos quatro integrantes do Rosa Neon. A banda surgida em meados de 2018 – o grupo traz ainda Mariana Cavanellas, Marina Sena e Luiz Gabriel Lopes – lançou nove clipes e 10 músicas. Em setembro, saiu seu álbum de estreia, Rosa Neon. Milhares de likes renderam uma turnê nacional, tudo feito de maneira independente.

“Acho que nos períodos difíceis, e no Brasil a gente tem vivido todos, é que nascem as coisas mais bonitas. A arte é a única coisa que pode te tirar do lugar da adversidade”, comenta Tofani. É como diz a letra de Estrela do mar: “Não tenho gasolina pra botar na minha moto/Eu vou de bicicleta, logo mais eu te encontro”. “A gente encontrou uma maneira de seguir em frente, falar de coisas que as pessoas precisavam ouvir. Somos como um raio de sol no meio de tanta treta.”

De férias até o início de fevereiro – “A gente tem o festival Sensacional (nos dias 8 e 9, no Mineirão), mas pode ser que façamos algum show surpresa no fim de janeiro” – a banda, mesmo com a virada de ano, não vai mudar a sua maneira de trabalhar. “Não paramos nunca, lançamento é sempre. Já temos coisas preparadas para sair em janeiro e fevereiro, inclusive novas parcerias. O caminho já está todo meio traçado”, diz Tofani.

Teatro Feluma

(foto: Feluma/Divulgação)
(foto: Feluma/Divulgação)
Convidado para ser o curador de um novo espaço cultural da Fundação Educacional Lucas Machado (Feluma), mantenedora da Faculdade Ciências Médicas de Minas Gerais, Jair Raso, neurocirurgião, dramaturgo e diretor teatral, fez uma exigência: que o espaço não fosse um auditório, como previa o projeto original, mas um teatro.

No início deste mês, foi inaugurado no prédio da instituição, na Alameda Ezequiel Dias, o Teatro Feluma. Com projeto de Felício Alves, que morreu em agosto, antes de ver o teatro pronto, o espaço conta com 400 lugares, sala de ensaio e galeria de arte.

“Em um ano tão bicudo para a cultura, é um alento terminá-lo com um novo teatro”, comenta Raso. O espaço estreou com uma montagem inédita, O palco iluminado, e já está com a agenda cheia para os dois primeiros meses de 2020, com seis espetáculos da Campanha de Popularização do Teatro.

“O conceito do Feluma é fomentar as artes cênicas mineiras”, diz Raso. Para tal, não há cobrança de aluguel para os espetáculos daqui, só uma porcentagem da bilheteria. Para as montagens de fora, a cobrança é feita normalmente, como é a praxe de qualquer sala.














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