O álbum “Estrela”, que Laura Catarina dedica ao repertório de seu pai, Vander Lee, acaba de chegar às plataformas de streaming, mas pode-se dizer que ele começou a tomar forma pouco mais de um mês depois da morte precoce do cantor e compositor, em agosto de 2016, aos 51 anos, vítima de infarto. É um trabalho atende ao pedido do público.





Laura conta que em outubro de 2016, ainda sob o impacto da morte de Vander Lee, ela subiu ao palco do antigo Teatro Bradesco (atualmente Centro Cultural Unimed-BH Minas) para um show em tributo a ele. A apresentação, batizada “Amor de pai”, foi carregada de emoção.

“Tinha uma banca vendendo produtos do meu pai, CDs e DVDs, na porta do teatro. Todo mundo, na saída, passava perguntando se tinha o disco do show ‘Laura Catarina canta Vander Lee’. Entendi a mensagem como um pedido das pessoas”, diz.

“Vaquinha”

A primeira ideia foi gravar um álbum ou um DVD ao vivo. Paralelamente a esse projeto, ela seguiu com a carreira solo e lançou, em 2018, seu primeiro disco, “Amor em si”, com repertório autoral. Depois dele, Laura retomou a ideia da homenagem a Vander Lee e iniciou campanha de financiamento coletivo para bancar o show.




A campanha arrecadou 90% da meta, Laura complementou os recursos necessários com um empréstimo. Quando finalmente executaria o projeto, veio a pandemia. “Entendemos que teria de ser um disco de estúdio mesmo. No final das contas, achei bom, porque pude me aprofundar no trabalho”, diz, destacando que, dessa forma, teve a possibilidade de explorar novos arranjos.
 

Laura Catarina e Vander Lee na gravação do DVD que marcou os 20 anos da carreira dele

(foto: Marcos Hermes/Divulgação)
 

Em “Estrela – Laura Catarina canta Vander Lee”, ela reinventa em versões contemporâneas faixas emblemáticas do cancioneiro do pai, como “Esperando aviões” e “Onde Deus possa me ouvir”. “Mudamos de leve algumas coisas, pedaços de refrões, melodias, harmonias. A ideia era trazer as canções um pouco mais para perto da minha identidade artística”, explica.

Responsável pela produção musical, Baka teve papel fundamental no processo, segundo a cantora. O produtor, instrumentista e compositor acabara de sair do grupo Rosa Neon e, após hesitar um pouco, aceitou o convite. “Começamos as conversas em abril de 2021, buscando parceiros e pensando em como tudo ia funcionar”, pontua Laura.





Em maio daquele ano, ela se mudou para a Bahia e o processo de produção continuou à distância. “Gravei as guias de voz a capela, na vila praiana em que estava morando. Mandava para o Baka, com algumas referências de como queria que fosse a paisagem sonora, e ele me devolvia algumas ideias. Seguimos assim até chegarmos a um lugar de vislumbre mútuo”, conta.

Depois, durante as gravações – que contaram com os músicos Marcelo Dai, Chico Amaral, Gabriel de Mattos, Mateus Bahiense, Lucas Ladeia, Max Hebert e Davi Fonseca –, a cantora ficou na ponte aérea Bahia-Minas, passando cerca de dois meses em cada lugar. 

Desde o início, pretendeu fazer um disco enxuto: são apenas oito faixas – a primeira, “Bênção”, é a introdução apenas com a voz de Vander Lee.

A escolha do repertório atendeu ao desejo de contemplar tanto as expectativas do público, com músicas mais populares, quanto o próprio gosto de Laura. “Tem canções dele que amo muito, me identifico e acho que já têm naturalmente um pouco da minha linguagem, como ‘Pensei que fosse o céu’. Outras coisas poderiam entrar também”, destaca.




 
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Encontro eternizado

Ao selecionar o repertório de “Estrela”, Laura quis apresentar a obra de Vander Lee como o legado que carrega consigo, o registro de uma história que também é sua.

“A introdução é a fala do meu pai em um show meu no Teatro Alterosa, em 2015, um ano antes de falecer. Foi a primeira vez que ele participou de um show meu. Conseguimos a gravação e agora está eternizado”, ressalta.

Laura observa que, embora composta sob encomenda, a canção “Do Brasil” traz um pouco da história de sua família. “É como se o disco fosse uma página do livro da minha vida. Tem não só a presença do meu pai, mas de toda a minha família e de outras pessoas que já viraram estrelas também”, diz.




 

Desde cedo, Vander Lee passou o amor pela música para Laura Catarina

(foto: Acervo pessoal)
 

Grande sucesso de Vander Lee, “Esperando aviões” está presente porque aborda a saudade. A cantora diz que o tomo final do álbum, com “Do Brasil”, “Pensei que fosse o céu”, “Sonhos e pernas” e “Onde Deus possa me ouvir”, representa a ressignificação do luto pela perda do pai.

“É um disco que começa na memória, na nostalgia, e vai caminhando para o segundo capítulo da minha vivência do luto, nos últimos dois anos, talvez. ‘Pensei que fosse o céu’ tem letra fantástica, que, no meu entendimento, se relaciona com o que foi esse período. Depois tem ‘Sonhos e pernas’, que diz: ‘Lembre que sua consciência é seu grande farol’. Também é uma música muito forte”, ressalta.

Pagode e celebração

“Onde Deus possa me ouvir”, que fecha “Estrela”, ganhou levada de pagode dos anos 1990, o que, segundo Laura, é uma forma de celebrar sua própria história e a de seu pai.




 
“Esta foi uma das canções que o levou mais longe. Gal Costa gravou. Pensamos na levada de pagode porque quis terminar o disco bem para cima, com o coro cantando o refrão. Eu e meu pai sempre gostamos muito de pagode”, diz.

“Estrela” conta com participações especiais do cantor e compositor paulista Dani Black, em “Românticos”, e da baiana Mariene de Castro, em “Do Brasil”, com quem Laura mantém amizade desde meados da década passada.

“Mariene faria um show em Belo Horizonte e foi visitar meu pai, a gente morava no (bairro) Santo Antônio. Então, a conheci na minha casa, onde ela me ensinou umas amarrações de turbante”, recorda.





Laura Catarina e Mariene voltaram a se encontrar na gravação do DVD “Vander Lee 20 anos”, no show realizado em julho de 2016, pouco antes da morte do cantor e compositor.
 

 

O fato de ser “fã desde sempre” de Dani Black justificou o convite. “A música é ‘Românticos’, grande sucesso na voz do meu pai. Quis ter a energia do homem ali na história, essa energia do romântico autêntico”, explica Laura.

Os outros músicos que se revezam ao longo das faixas de “Estrela” são, em sua maioria, velhos conhecidos de Laura. Catarina.

Matheus Bahiense a acompanha há seis anos. Gabriel de Mattos, há quase nove. Davi Fonseca e Marcelo Dai ela conheceu na banda Dom Pepo, que integrou antes da carreira solo. A relação com Chico Amaral, amigo de Vander Lee, remonta à infância. Laura já havia se encontrado com Max Hebert e Lucas Ladeia em outros contextos artísticos.

“O Baka, convidei por causa da admiração pelo trabalho dele. É um músico e produtor muito polivalente. As faixas ‘Do Brasil’, ‘Esperando aviões’ e ‘Estrela’ trazem arranjos em que ele tocou todos os instrumentos”, destaca.




 
 

A sonoridade busca aproximar as canções de Vander Lee do universo de Laura Catarina, mas a essência delas foi mantida, diz a cantora.

As letras têm grande peso nessa essência, aponta, ressaltando a capacidade do pai de abordar temas aparentemente banais com elegância poética e muita propriedade. “É o lugar de fala em que ele se coloca com olhar muito sincero, autêntico e presente. As pessoas se identificam com a profundidade que as letras têm, o que, na verdade, vem da simplicidade”, destaca.

Show com sessão extra

Laura fará o show de lançamento de “Estrela” no próximo dia 27, às 21h, no Sesc Palladium, em BH. Estará acompanhada por Richard Neves (teclados), Mateus Bahiense (bateria) e Salvador Agustin (violões e cavaco). A cantora comemora o fato de os ingressos estarem praticamente esgotados. Por isso, foi aberta sessão extra às 18h.

“O show vai emocionar muito o público, porque contempla a fase do luto, mas de forma leve. As músicas de Vander Lee têm muito dos ciclos da vida, das perdas e da saudade. Vai ter o momento de emoção e vai ter o momento de alegria também”, promete.





(foto: Reprodução)

“ESTRELA – LAURA CATARINA CANTA VANDER LEE”

• Álbum com oito faixas
• Independente
• Disponível nas principais plataformas
 

SHOW

Lançamento em 27 de maio, às 18h e às 21h, no Grande Teatro do Sesc Palladium (Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro). Plateia 1: R$ 95 (inteira) e R$ 47,50 (meia). Plateia 2: R$ 75 (inteira) e R$ 37,50 (meia). Plateia 3: R$ 55 (inteira) e R$ 27,50 (meia). Ingressos à venda no site Sympla e na bilheteria do teatro. Informações: (31) 3270-8100.

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