Uma estudante de medicina ambiciosa começa a enfrentar o período de residência hospitalar. Logo no primeiro dia, ela se envolve em um acidente e, misteriosamente, adquire o poder de ler a mente das pessoas. Essa é Lulli, a personagem-título do longa-metragem brasileiro que a Netflix lança no próximo dia 26, tendo Larissa Manoela como protagonista.  

Apesar dos muitos inconvenientes que vêm com seu novo “superpoder”, Lulli aprenderá com ele algo a respeito de sua dificuldade de escutar os outros, e isso a levará a uma reflexão sobre a natureza da profissão que escolheu, assim como a de sua verdadeira vocação. 





O tema de “Lulli” é, portanto, a dificuldade da sociedade contemporânea em ouvir e compreender o próximo, num ambiente em que as próprias ambições ganham caráter de prioridade máxima. 

“As pessoas estão cada vez mais querendo as coisas para ontem, do jeito delas. E sem disponibilidade para deixar a escuta aguçada e conversar de uma forma positiva, ouvir o próximo, ser empático. Então eu tenho a ambição de fazer com que Lulli toque o coração das pessoas”, disse Larissa Manoela, de 20 anos, em mesa-redonda virtual com a imprensa na semana passada.

TÍTULOS

Este é o terceiro título da Netflix estrelado pela atriz. Os anteriores são “Modo avião" (2020) e “Diário de intercâmbio” (2021). No catálogo da plataforma de streaming estão disponíveis também filmes de Larissa realizados por outras produtoras, como “Meus 15 anos” (2017), "Carrossel – O filme” (2015) e “As aventuras de Poliana” (2020). 

Alçada ao estrelato com a novela infantil "Carrossel", exibida pelo SBT/Alterosa, Larissa Manoela parece agora buscar a diversificação de papéis nesta nova fase de sua carreira, deixando para trás a imagem de estrela teen. 





Depois de interpretar uma debutante, uma intercambista e uma influenciadora digital, ela encarna uma estudante de medicina que sonha em se tornar cirurgiã, tendo para isso que vencer mais desafios do que a volumosa carga de estudos. O pai de Lulli é ausente do convívio familiar; sua mãe trabalha numa confeitaria, o que é alvo de preconceito de parte de seus colegas. 

Diferentemente do drama “M-8: Quando a morte socorre a vida” (2019), longa de Jeferson De cujo personagem central também é um estudante de medicina e no qual a crítica social é manifesta, “Lulli” é uma comédia romântica focada na rotina dos residentes e que não demonstra preocupação em se aprofundar em algum tema, embora, além da medicina, o roteiro aborde aspectos relacionados à sexualidade, juventude, conflitos familiares, alcoolismo, relações amorosas e de amizade, além da transição da universidade para o mercado de trabalho. A realidade dos médicos em meio à pandemia de COVID-19 também não faz parte da trama.


SÉRIES

Larissa Manoela conta que assistiu a tudo o que estava ao seu alcance para viver uma estudante de medicina. É o caso das séries "Grey's anatomy”, “The good doctor" e “House”. Antes do início das filmagens, ela acompanhou por determinado tempo a rotina de uma residente, com quem procurou esclarecer dúvidas. Para garantir a verossimilhança das situações, a produção manteve no set de filmagem um profissional de saúde atento ao roteiro e ao encaminhamento das cenas.  

“Foi bem interessante poder olhar para esse universo real, porque eu consegui trazer coisas muito verdadeiras (para o filme)”, disse a atriz.  “De quebra, aprendi a medir pressão, utilizar o estetoscópio e manusear alguns instrumentos básicos. Também tive a certeza de que  nunca vou ser médica, apenas na ficção”, comentou a atriz, entre risadas. 





Na trama, Lulli tem um romance com Diego (Vinicius Redd), seu colega de residência. O acidente que ela sofre está relacionado ao término do namoro. Depois desse episódio, Diego perde a memória do que ocorreu no dia fatídico da ruptura e também dos conflitos que o casal vinha enfrentando. Ele, portanto, ainda se considera namorado de Lulli, que, por sua vez, não é capaz de ler os pensamentos do “ex”.

SENSUAL

O papel romântico também inclui cenas sensuais, uma novidade na carreira de Larissa Manoela. Ela afirma ver com naturalidade esse desdobramento na carreira de sua entrada na vida adulta e diz não se preocupar com a reação da parcela do público que se acostumou a vê-la como uma garotinha.

“Eles tiveram muito cuidado, porque, de fato, é a primeira vez que faço uma cena mais sensual. Acho de verdade que as pessoas vão estranhar, é normal. E que bom que elas tenham essa primeira impressão de falar: ‘Meu Deus, a Larissa Manoela cresceu!’”, afirma. “Tenho muito prazer em ser essa menina que está crescendo, se descobrindo e fazendo novos personagens.”





No entanto, é o “superpoder” adquirido pela protagonista que rouba a cena e garante o viés cômico do filme. A possibilidade de ler a mente dos colegas, familiares, pacientes e médicos traz boas lições para a personagem, que tinha grande dificuldade de prestar atenção ao seu redor. Lulli acaba descobrindo segredos íntimos, mentiras, falsas impressões, a realidade da profissão e seu lugar no mundo.

“Acho que a história da Lulli retrata algo que é admirável de se ver, porque ela tinha dificuldade de escutar os outros. Ela foi amadurecendo e entendendo que precisava viver a vida de outra forma. Ela precisava ser mais empática e ouvir os outros”, aponta a atriz. “Para mim, a maior mensagem é que a gente não precisa tomar um choque numa máquina de ressonância magnética para tomar um choque de realidade.” 

Ela diz não invejar em nada a capacidade que sua personagem adquire no filme e duvida que iria usá-la caso estivesse ao seu alcance. “Antes de pensar em invadir a privacidade dos outros, eu ia pensar na minha sanidade mental, porque não teria capacidade nenhuma de lidar com o pensamento dos outros. Minha cabeça não para nunca, já tenho os meus pensamentos, imagina ter que lidar com os dos outros?”


O caráter de ‘comédia romântica com mensagem edificante’ de “Lulli” agrada a Larissa Manoela, segundo ela diz. “Quando penso em um filme, gosto de ter exatamente essas características muito presentes, sabe? Gosto de me emocionar num filme, assim como rir pra caramba e tirar uma lição de todo aquele contexto. Então a gente conseguiu unir tudo isso.”

A satisfação declarada com o novo longa não quer dizer, no entanto, que Larissa Manoela permanecerá nessa rota profissional. “Quando consigo trazer em uma só obra todas essas sensações, é muito especial. Mas é óbvio que isso não tira a minha vontade de fazer algo totalmente diferente, como um drama, suspense, algo do tipo.”





Em sua agenda a curto prazo já constam o lançamento de um álbum e de uma novela, além de mais um filme para a Netflix, sobre o qual ela despista. “Imagino que vá ser algo diferente, tendo em vista que eu tenho filmes com várias profissões, porque já fiz uma médica, comissária, estilista. Então, estou gostando dessa ideia de fazer várias profissões. Talvez pense em alguma outra para esse próximo filme da Netflix.”

“LULLI”
• (Brasil, 2021, 90min) Direção: César Rodrigues. Com Larissa Manoela, Sérgio Malheiros e Vinicius Redd. Estreia no próximo dia 26, na Netflix. 

*Estagiário sob a supervisão da editora Silvana Arantes

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