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Estado de Minas FOTOGRAFIA

Exposição mostra a Pampulha vista pelas lentes de Marcel Gautherot

Casa do Baile abriga registros que o fotógrafo com formação em arquitetura fez também da construção de Brasília


09/09/2021 04:00 - atualizado 09/09/2021 07:27

O registro da construção de Brasília, feito entre 1955 e 1960, resultou num acervo de cerca de 4 mil fotos, que foi incorporado pelo Instituto Moreira Salles
O registro da construção de Brasília, feito entre 1955 e 1960, resultou num acervo de cerca de 4 mil fotos, que foi incorporado pelo Instituto Moreira Salles (foto: Fotos: Marcel Gautherot/IMS/ Divulgação )

“Uma pessoa que não entende de arquitetura não é capaz de fazer uma boa foto”, afirmou certa vez Marcel Gautherot (1910-1996). Nascido na França, com formação em arquitetura , ele descobriu o Brasil por meio da literatura de Jorge Amado. Foi o romance “Jubiabá” (1935) que lhe abriu as portas do país. Radicou-se aqui a partir da década de 1940 e explorou, como fotógrafo , boa parte do território.

“Foi mais do que um fotógrafo da arquitetura modernista, pois era uma pessoa com curiosidade antropológica em relação às manifestações populares do Brasil”, afirma o arquiteto Carlos M. Teixeira, que assina com Marconi Drummond a curadoria da exposição “Marcel Gautherot – Registros modernos da invenção da Pampulha: Depois e além”, em cartaz na Casa do Baile – Centro de Referência da Arquitetura, Urbanismo e Design.

A mostra é parte de um projeto mais abrangente, “ Pampulha Território Museus ”, que contempla mais duas exposições em museus municipais: “Graficografia”, que leva parte do acervo de gravuras e fotografias do Museu de Arte da Pampulha (MAP), atualmente em reformas, para o Abílio Barreto; e “Outras habitabilidades”, com objetos de design, obras de arte, maquetes, fotografias e documentos, no Museu Casa Kubitschek. 

Formado em arquitetura, Gautherot foi 'o mais artista' dos fotógrafos, segundo o arquiteto Lucio Costa
Formado em arquitetura, Gautherot foi "o mais artista" dos fotógrafos, segundo o arquiteto Lucio Costa

ATIVIDADES 

As exposições, realizadas pela PBH por meio da Secretaria Municipal de Cultura e da Fundação Municipal de Cultura, em parceria com o Instituto Periférico, são complementadas por atividades (debates, cursos, vídeos).

Dois painéis curvos, que acompanham a planta circular do salão da Casa do Baile, reúnem 126 fotografias de Gautherot. Cada lado dos painéis trabalha um tema do acervo do fotógrafo, que foi incorporado pelo Instituto Moreira Salles em 1999 (IMS), três anos após sua morte, em decorrência de câncer, no Rio de Janeiro.

“A curadoria foi feita a partir da representação da arquitetura brasileira que permeia a obra dele”, comenta Teixeira. Cada um dos lados dos painéis trabalha um tema. “Um mais específico, local, reúne as fotografias que ele fez da Pampulha, de todos os prédios na orla da lagoa. Do outro lado do mesmo painel, apresentamos algumas das fotos mais conhecidas dele, que são da construção de Brasília.”

Gautherot atuou ao lado de grandes nomes da cultura brasileira do século 20. Colaborou com Rodrigo Melo Franco de Andrade no Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Sphan, atual Iphan); com Edison Carneiro na Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro; com Roberto Burle Marx em inúmeros projetos paisagísticos, e com Oscar Niemeyer. Era o fotógrafo predileto de Niemeyer.

O Santuário de Bom Jesus de Matozinhos, em Congonhas, foi um dos aspectos da arte brasileira que atraíram o fotógrafo francês
O Santuário de Bom Jesus de Matozinhos, em Congonhas, foi um dos aspectos da arte brasileira que atraíram o fotógrafo francês

BRASÍLIA 

“Ele fotografou tanto o processo da construção quanto os prédios já construídos. E na construção de Brasília há também imagens que ele fez de um assentamento informal, a chamada Sacolândia. Era uma vila erguida com os sacos de cimento utilizados para a construção da cidade. Tem um olhar atento tanto para a arquitetura monumental que o modernismo idealiza quanto para a arquitetura dos excluídos”, observa o curador. O fotógrafo realizou cerca de 4 mil fotos da capital federal entre 1955 e 1960.

Gautherot desembarcou no Brasil em 1939. Então um jovem simpatizante comunista, filho de um operário e de uma costureira, começa sua incursão pelo país pela Região Norte – acabou contraindo malária nessa viagem. Convocado de volta à França por causa da Segunda Guerra Mundial – atuou no Senegal, onde serviu o Exército por meses como desenhista, antes de ser liberado pelo primeiro armistício – retornou no ano seguinte para adotar o Brasil definitivamente como pátria. 

Paralelamente à sua dedicação à fotografia modernista, viajou bastante nas décadas seguintes pelo Brasil. O segundo painel da exposição trata desse viés da obra de Gautherot. Um dos temas são as palafitas. 

“Ele foi para o Amazonas várias vezes e registrou moradores ribeirinhos. Essas imagens mostram a flexibilidade que ele tinha não só para fotos mais geométricas, como são as de arquitetura, mas também do cotidiano, de lugares com muitas informações”, afirma Teixeira.

O outro lado do mesmo painel reúne imagens de romarias em Congonhas. “Ele registrou não só a arquitetura do Santuário de Bom Jesus de Matozinhos, como também manifestações populares. Em determinadas fotos, além das esculturas de Aleijadinho, ele soube registrar figuras de romeiros com o santuário ao fundo. Ele tinha essa sensibilidade, o que não é comum nos registros de fotografia de arquitetura”, diz o curador.

O complexo arquitetônico da Pampulha é um dos eixos da exposição, que reúne 126 fotografias de autoria de Gautherot
O complexo arquitetônico da Pampulha é um dos eixos da exposição, que reúne 126 fotografias de autoria de Gautherot

ADMIRADORES 

Além de Niemeyer, Carlos Drummond de Andrade e Lucio Costa estavam entre os admiradores da obra de Gautherot. O poeta mineiro afirmou que ele era “um dos mais notáveis documentadores da vida nacional”, enquanto o arquiteto e urbanista franco-brasileiro o considerava “o mais artista” dos fotógrafos.

O IMS, que cedeu não só as fotografias, mas também livros, revistas, documentos e vídeos para compor a exposição, conta com 25 mil imagens realizadas pelo fotógrafo. Ainda que muito admirado por seus pares, Gautherot só realizou sua primeira exposição individual no final de sua vida, em 1995, na Casa França-Brasil, no Rio de Janeiro. Na época, também foi lançado o livro “Bahia: Rio São Francisco, Recôncavo e Salvador”, com apresentação e notas de Lélia Coelho Frota.

Após sua morte, houve novas publicações e exposições. Em 2001, o IMS lançou o livro e a exposição “O Brasil de Marcel Gautherot”. Outros livros em torno de sua obra também publicados pela instituição são “Norte” (2009, organizado por Samuel Titan Jr. e Milton Hatoum, com exposição homônima de imagens na Amazônia e no Pará) e “Brasília, de Marcel Gautherot” (2010, com a mostra “As construções de Brasília”). Há cinco anos a Maison Européenne de la Photographie inaugurou em Paris a primeira retrospectiva dedicada ao fotógrafo em sua cidade natal: “Marcel Gautherot – Brasil, tradição, invenção”.

O francês viajou pelo território brasileiro e documentou a paisagem urbana nas diversas regiões, como as palafitas no Norte do Brasil
O francês viajou pelo território brasileiro e documentou a paisagem urbana nas diversas regiões, como as palafitas no Norte do Brasil


PAMPULHA TERRITÓRIO MUSEUS

O projeto reúne três exposições de longa duração, além de outras atividades como vídeos, aulas e debates. Confira em  www.pampulhaterritoriomuseus.com.br

“MARCEL GAUTHEROT – REGISTROS MODERNOS DA INVENÇÃO DA PAMPULHA: DEPOIS E ALÉM”   
Em cartaz na Casa do Baile – Centro de Referência da Arquitetura, Urbanismo e Design – Avenida Otacílio Negrão, 751, São Luiz, Pampulha, (31) 3277-7443. Visitação gratuita, mediante agendamento, de quarta a domingo, das 11h às 18h. 

“GRAFICOGRAFIA”
Em cartaz no Museu Histórico Abílio Barreto – Avenida 
Prudente de Morais, 202, Cidade Jardim, (31) 3277-8573. 
Visitação gratuita, mediante agendamento, de quarta 
a domingo, das 11h às 18h. 

“OUTRAS HABITABILIDADES”
Em cartaz no Museu Casa Kubitschek – Avenida Otacílio Negrão de Lima, 4.188, Pampulha, (31) 3277-1586.  
Visitação gratuita, mediante agendamento, de quarta 
a domingo, das 11h às 18h. 


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