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Mesmo com Ricardo Darín brilhando, 'Um amor inesperado' decepciona

Longa argentino sobre casal que se separa depois de 25 anos de união se arrasta em clichês das comédias românticas, embora os protagonistas estejam ótimos em seus papéis


postado em 15/03/2019 05:07

O casamento de Ana (Mercedes Morán) e Marcos (Ricardo Darín) entra em crise quando o casal se vê sozinho, após a partida de seu filho único para a Espanha (foto: PANDORA FILMES/DIVULGAÇÃO)
O casamento de Ana (Mercedes Morán) e Marcos (Ricardo Darín) entra em crise quando o casal se vê sozinho, após a partida de seu filho único para a Espanha (foto: PANDORA FILMES/DIVULGAÇÃO)


Quando o professor de literatura Marcos (Ricardo Darín) tenta decifrar as razões que fizeram com que ele e Ana (Mercedes Morán) pusessem um ponto final ao seu casamento de 25 anos, é em Herman Melville que ele encontra a melhor tradução de seu gesto. Mais especificamente nos parágrafos iniciais de Moby Dick: “Faz alguns anos – não importa quantos exatamente –, com pouco ou nenhum dinheiro na carteira e nada em particular que me interessasse na terra, pensei em me jogar no mar e ver a parte líquida do mundo. É meu jeito de dissipar a melancolia e regular a circulação. Toda vez que sinto um gosto amargo na boca, toda vez que minha alma atravessa um novembro úmido e chuvoso, compreendo que chegou a hora de me atirar no mar, o quanto antes. Não há nada de assombroso nisso. Poucos sabem, mas quase todos os homens, independentemente de sua condição, alimentam, em determinado momento, esses sentimentos que me impelem ao oceano”.

Assim começa Um amor inesperado, primeiro longa-metragem do argentino Juan Vera, em cartaz desde quinta-feira (14) em Belo Horizonte. A partir desse ponto, veremos, em retrospectiva, como Marcos e Ana navegaram, respectivamente, as águas inéditas (e surpreendentemente calmas) do rompimento de uma relação tão longa e as marolas provocadas por suas sucessivas tentativas de estabelecer um novo vínculo amoroso que tenha alguma solidez.

A situação financeira do casal o poupa de outras preocupações além de dar um sentido para sua existência no trecho da vida em que o filho jovem adulto saiu de casa e a perspectiva de tornarem-se avós dentro de alguns anos surge como o próximo grande acontecimento. Dessa crise de meia-idade, Vera faz um misto de comédia romântica e crítica de costumes que se ancora tão completamente no talento de Darín e Morán que esse se torna o maior mérito e também o principal problema do filme.

CLICHÊS

Quando o casal não contracena, o longa se arrasta em cenas que, de tão comuns entre as comédias românticas, já se tornaram clichês do gênero. Entre elas estão os diálogos de ambos os recém-separados com o(a) melhor amigo(a), a curiosidade com que encaram as novas experiências proporcionadas pela vida de solteiro,  as estabanadas primeiras vezes com outros parceiros e a nostalgia que chega com “os detalhes tão pequenos” que se revelam “coisas muito grandes pra esquecer”, como diria Roberto Carlos.

Parêntese: a trilha de Um amor inesperado inclui uma derretida canção brasileira, mas não do Rei. É Wando quem embala uma cena de aniversário com os versos de Fogo e paixão, aquela que diz “você é luz/ é raio, estrela e luar”. Octogenários e viúvos, o pai de Marcos e a mãe de Ana oferecem aos filhos uma nova perspectiva em relação às suas turbulências e ao valor relativo do desejo de mudança que os impulsionou à separação.     

Talvez devido à pouca intimidade de Vera com a direção, Um amor inesperado sofre às vezes de um artificialismo ausente no bom cinema argentino ao qual o público brasileiro se acostumou. Mas compensa essa fragilidade com a qualidade de seus diálogos recheados de uma ironia ácida. “Para ser feliz neste país, é preciso sempre rebaixar as expectativas”, comenta a primeira mulher com quem Marcos marca um encontro (pelo Tinder), três meses depois de estar novamente solteiro. A expectativa frustrada a que ela se referia especificamente era a de ser servida com uma taça de espumante gelada no restaurante em que os dois decidiram se conhecer.

É pena, mas, para sair feliz do cinema depois de ver Um amor inesperado é preciso rebaixar as expectativas em relação a esse filme em que dois atores gigantes estão sob a batuta de um diretor ainda distante do ponto ideal.


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