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Estado de Minas À PROCURA DO "GENE GAY"

Estudo aponta como comportamento sexual é mais complexo do que se imaginava

Consórcio de cientistas analisa o DNA de 470 mil indivíduos e conclui que a atração por pessoas do mesmo sexo biológico tem influências genéticas e ambientais múltiplas


postado em 01/09/2019 08:40 / atualizado em 01/09/2019 08:59


Desde que a ciência começou a mapear o genoma humano, na década de 1990, pesquisadores utilizam as ferramentas de sequenciamento para tentar responder a uma pergunta ainda não esclarecida: haveria um “gene gay”? Alguns estudos sugeriram que sim. Contudo, nenhum deles foi realizado a partir de uma grande base populacional. Agora, um consórcio internacional investigou a questão a partir do DNA de 470 mil pessoas. O resultado, publicado na revista Science, pode frustrar quem espera uma explicação simples para algo tão complexo quanto a sexualidade.
 
As análises estatísticas revelaram que cinco locais do cromossomo humano foram associados com o comportamento homossexual em um nível significativo, disseram os autores. Contudo, essas regiões correspondem a uma parte inexpressiva do genoma: menos de 1%. Além disso, o estudo computacional revelou que milhares de outras variantes também têm pequenas participações nesse traço e, ao lado dos cinco locais do genoma, correspondem de 8% a 25% das variações genéticas dos participantes que afirmaram já ter tido parceiros do mesmo sexo.
 
A principal conclusão do artigo é que, assim como outros traços do comportamento humano, a atração por pessoas do mesmo sexo biológico tem influências ambientais e genéticas complexas que, ao menos por enquanto, não podem ser definidas claramente. “Esse não é o primeiro estudo que explora a genética do comportamento homossexual, mas os anteriores eram pequenos e, na maioria dos casos, não confiáveis”, disse Andrea Ganna, pesquisador do Broad Institute do MIT, em Harvard, e principal autor do artigo. “Acho importante destacar que é basicamente impossível predizer a atividade ou orientação sexual apenas pela genética. Então, questões como escore poligênico (número de variantes associadas ao comportamento homossexual que uma pessoa tem) não serão úteis para nenhuma predição significativa”, observou.
 
“Espero que a ciência possa ser usada para educar as pessoas um pouco mais sobre o quão natural e normal é o comportamento (de ter parceiros do mesmo sexo)”, disse Benjamin Neal, geneticista do Broad Institute do MIT, em Harvard, e um dos principais pesquisadores que participaram do estudo. “Está escrito nos nossos genes e é parte do nosso ambiente. Ou seja, isso faz parte da nossa espécie e é parte do que nós somos.”

CRÍTICA

Contudo, o estudo foi recebido com críticas pelo Out of Broad, o comitê LGBT do Broad Institute, ao qual os autores do artigo são afiliados. Em entrevista ao site do The New York Times, o geneticista Steven Reilly, que faz parte do Out of Broader, disse que uma das preocupações é que, ao atribuir amplamente aos fatores ambientais o comportamento homossexual, o artigo acabe encorajando pessoas e grupos que insistem na tese de que ser gay é uma opção e que, por isso, poderia ser alterada por meio de táticas como “terapias de conversão”. “Discordo profundamente da publicação desse artigo. Em um mundo sem qualquer discriminação, compreender o comportamento humano é um objetivo nobre, mas não vivemos nesse mundo”, afirmou.
 
A polêmica envolvendo o artigo fez com que o Broad Institute publicasse um esclarecimento em seu site, algo incomum nesse que é um dos mais renomados institutos de pesquisa do mundo. “Esse estudo não faz declarações conclusivas sobre em que grau natureza ou ambiente influenciam orientação ou comportamento sexual, mas indica que ambos provavelmente desempenham um papel”, diz o texto. “Esse estudo é sobre comportamento sexual, não sobre orientação sexual ou identidade de gênero. A questão central do estudo — se os participantes já tiveram um parceiro do mesmo sexo — reflete apenas um pequeno aspecto da complexidade do comportamento sexual humano. Os autores observam essa importante limitação no artigo”, continua.
 
Em artigo de perspectiva publicado na Science, a socióloga Melinda C. Mills, da Universidade de Oxford, ponderou que “atribuir orientação sexual à genética pode melhorar os direitos civis ou reduzir o estigma. Por outro lado, há receio de que isso forneça uma ferramenta para intervenção ou ‘cura’”. Ela lembra que ter parceiros do mesmo sexo já foi classificado como patologia e é crime em mais de 70 países, alguns deles punidos com pena de morte. “Trabalhos futuros devem investigar como as predisposições genéticas são alteradas por fatores ambientais, com esse estudo destacando a necessidade de uma abordagem multidisciplinar sociogenômica.”


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