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Cura com foco nos detalhes

Oncologia de precisão é a nova aposta no tratamento do câncer e leva em conta a variedade de genes, o meio ambiente e os estilos de vida, visando impedir o crescimento do tumor


postado em 13/04/2019 05:04

Isabela Werneck da Cunha, patologista da rede D%u2019OR-São Luiz, de São Paulo:
Isabela Werneck da Cunha, patologista da rede D%u2019OR-São Luiz, de São Paulo: "A primeira coisa de que a gente precisa é educar os oncologistas e toda a comunidade médica para saber que a droga e a possibilidade desse tipo de tratamento existem" (foto: FOTOS: Diego Mejia/ Divulgação)


“A vida de quem trabalha com oncologia mudou muito nos últimos 20 anos. Eu, por exemplo, como patologista, bastava dar um diagnóstico e falar: esse é um carcinoma de pulmão. Atualmente, tenho que dar o nome, sobrenome, CPF e endereço.” A fala da médica patologista da rede D’OR-São Luiz, de São Paulo, Isabela Werneck da Cunha evidencia o atual caminho para o tratamento do câncer: a oncologia de precisão.

A nova abordagem para o tratamento da doença, que segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca) deve registrar 600 mil novos casos por ano no Brasil no biênio 2018-2019, leva em conta a variabilidade individual em termos de genes, meio ambiente e os estilos de vida, e propõe terapias direcionadas que impedem o crescimento e disseminação do câncer ao identificar a alteração genética que provoca aquele tumor para, em seguida, atacar esse alvo específico. Dessa forma, nem todos os casos terão que necessariamente passar pelo tratamento-padrão de cirurgia, radioterapia e quimioterapia, normalmente guiados pelo resultado de uma biópsia, que nem sempre revela toda a forma do tumor.

“Acho que fica muito evidente que hoje, perto de 2020, não cabe mais um sapato para todos quando vamos falar de um tratamento de medicina em geral e, na oncologia, isso é um paradigma”, explica o médico oncologista clínico da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, Gilberto Castro Junior. Segundo ele, um mesmo câncer pode acometer pessoas que responderão de forma diferente a um mesmo tratamento proposto. Por isso, a heterogeneidade tumoral deve ser levada em conta no combate à doença. “Nós temos que encarar o câncer que vai aparecer em nossos pacientes levando em conta cada tumor, cada órgão e cada paciente. Assim, teremos sempre um câncer diferente”, diz.

Diante dessa nova realidade fortalecida pela divulgação, no fim do ano passado, do estudo do genoma do câncer – The Cancer Genome Atlas (TCGA) –, que sequenciou cerca de 35 mil tumores, descrevendo mais de três milhões de mutações, diversas pesquisas estão sendo realizadas para desenvolver drogas que atendam à prática da oncologia de precisão. Os principais resultados obtidos com um desses medicamentos, desenvolvido pela Bayer Pharmaceuticals, foram apresentados em uma Conferência sobre Oncologia de Precisão para a imprensa latino-americana, organizada pela divisão regional da farmacêutica, e realizado no início do mês em Miami, com as participações do oncologista Gilberto Castro Junior e da médica patologista Isabela Werneck da Cunha.

NOVO MEDICAMENTO Durante o evento, a empresa farmacêutica apresentou a Larotrectinib, medicamento oral usado no tratamento de pacientes adultos e pediátricos com câncer de fusão de receptor de quinase troponiosina (TRK). Na prática, crianças e adultos que apresentam esse tipo de tumor sofrem uma alteração no gene NTRK, que se funde a outros genes e produz uma proteína de fusão TRK. A produção descontrolada dessa proteína pode levar ao desenvolvimento de tumores em várias partes do corpo, como no pulmão, tireoide, intestino, sistema nervoso central, cabeça e pescoço, glândula salivar, entre outros. Ao todo, 17 tipos diferentes de tumores podem apresentar essa mutação, mas o número pode aumentar conforme o avanço dos estudos.

Essa condição é frequente em tumores considerados raros. Com o avanço das pesquisas desenvolvidas até o momento, descobriu-se que a mesma mutação também ocorre, com menor frequência, em tumores comuns. “Nos tumores raros, a mutação do TRK é frequente, e em tumores comuns, a mutação é mais rara, mas acontece. Juntando tudo, o número é expressivo”, explica a patologista Isabela Werneck.

O medicamento, já aprovado no fim do ano passado pela FDA, agência federal do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, e submetido no Brasil à análise da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), com expectativa de liberação até o fim do ano, tem registrado bons resultados, segundo a vice-presidente de assuntos médicos da divisão farmacêutica do laboratório Bayer para a América Latina, Luz Cubildlos Garzón. “Durante os estudos que precederam a aprovação da Larotrectinib, 75% dos que receberam a medicação tiveram boas respostas ao tratamento, e em 22% houve um controle definitivo sobre a doença.”

A incidência em diversos tipos de câncer e a possibilidade de poder tratá-los com um mesmo medicamento é visto por especialistas como uma mudança de paradigma. “Pela primeira vez, tivemos a aprovação pelo FDA de uma droga da qual, independentemente do tipo e local do tumor, se tem um defeito específico, pode ser tratado pela mesma droga. Todos se beneficiam do mesmo medicamento”, comemora a médica patologista Isabela Werneck.

Mas diante dessa falta de padrão da ocorrência da alteração do gene NTRK, como diagnosticá-lo? Qual paciente está propenso a desenvolver a deficiência genética e, consequentemente, poderá vir a se beneficiar com a nova droga? As respostas a essas questões são obtidas por meio dos testes específicos.

TESTES E REALIDADE BRASILEIRA A alteração do gene de um paciente pode ser identificada por meio de testes genômicos. Com eles, médicos e pesquisadores conseguem prever com maior precisão quais tratamentos funcionarão em cada grupo específico de pacientes com câncer.

Para o caso da mutação do gene NTRK, Isabela Werneck apresentou os dois testes mais usados: o NGS (sigla em inglês) é um sequenciamento genético de última geração que proporciona ampla informação sobre grande número de genes e pode identificar casos de fusão dos genes NTRK; e a Imuno-histoquímica (IHQ), que usa anticorpos para detectar a presença de proteínas em uma amostra.

 As duas opções estão disponíveis no Brasil apenas na rede particular e a custos bem discrepantes. Enquanto o NGS chega a custar cerca R$ 8 mil, o IHQ tem preço estimado pela patologista entre R$ 100 e R$ 200. “Não é por falta de teste que paciente do Brasil não poderia ser submetido ao tratamento com a Larotrectinib. Apesar do alto custo do NGS, o médico oncologista pode pedir primeiramente um teste de imuno-histoquímica. Se o exame identifica que um paciente produz a proteína, o oncologista pode solicitar o NGS tanto no Brasil quanto mandar o caso para os EUA, por exemplo, e solicitar que se faça o sequenciamento genético por lá. Se der positivo, o paciente pode até se candidatar a entrar em um trial clínico (participar como voluntário do estudo), que ainda está aberto globalmente e sendo realizado em vários países”, explica.

A médica ainda acrescenta que, como o medicamento ainda não foi aprovado no Brasil, o momento no país é de divulgação da nova possibilidade de tratamento. “A primeira coisa de que a gente precisa é educar os oncologistas e toda a comunidade médica para saber que a droga e a possibilidade desse tipo de tratamento existem. Os profissionais precisam saber que se ele tiver um paciente metastático que já esgotou as opções terapêuticas, independentemente do tumor que ele tenha, deve-se lembrar de testar o NTRK”, conclui.


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