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Alerta cumprido

Testes comprovam que os anúncios de conteúdo forte exibidos antes de novelas e filmes ajudam espectadores a ficar menos ansiosos em relação às imagens que serão mostradas


postado em 02/11/2018 05:07

 

 

 

 








Espectadores deparam-se com alertas antes de assistir a um filme no cinema ou a uma novela na televisão. Isso ocorre porque as emissoras e as produtoras cinematográficas são obrigadas a avisar sobre a exibição de cenas de conteúdo forte, como violência e sexo. O anúncio corriqueiro virou alvo de estudo de cientistas americanos. Eles resolveram analisar os reais efeitos dessas mensagens e descobriram, por exemplo, que elas ajudam parte dos telespectadores a sentir menos ansiedade. As descobertas foram publicadas na revista Journal of Experimental Social Psychology.

Para os autores da pesquisa, apesar de esse tipo de alerta ser tema de debates, principalmente no ambiente acadêmico, a eficácia dele é uma das questões que merecem ser mais discutidas. “O problema é que ninguém estava usando nenhum dado para respaldar sua posição nessas argumentações. Não havia um trabalho empírico sobre os efeitos desses alertas”, explica ao Estado de Minas Izzy Gainsburg, estudante de doutorado em psicologia na Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, e um dos autores do estudo.

O cientista viu nesse cenário a oportunidade para uma pesquisa científica. “A natureza dos efeitos das advertências, bem como a maneira de testar esses efeitos, é algo muito consistente com os tipos de perguntas e métodos usados na psicologia social. Por isso, decidimos dar base para esse debate com uma pesquisa experimental original. Foi um novo território para nós e para o campo”, diz Izzy Gainsburg.

Em três experimentos, ele e a equipe analisaram como os alertas influenciam o público em cenários distintos. No primeiro, 80 pessoas responderam a perguntas sobre suas respostas emocionais e comportamentais em relação aos conteúdos de advertência. Também informaram sobre crenças, ansiedade geral e estilo de enfrentamento (a forma como encaravam dificuldades).

Os participantes indicaram que esperavam se sentir menos ansiosos quando assistiam a um conteúdo antecedido por um alerta. Além disso, aqueles que acreditavam que a advertência era protetora — em vez de uma atitude exagerada — apresentaram maior probabilidade de evitar a produção audiovisual.

Na segunda análise, cerca de 275 participantes tiveram que optar por assistir a dois vídeos de ficção tendo como base os títulos das produções audiovisuais — em um deles, havia um aviso sobre a existência de conteúdo angustiante. Os resultados mostraram que esses vídeos foram evitados com mais frequência do que aqueles com o título neutro.

No terceiro e último experimento, cerca de mil pessoas receberam, aleatoriamente, um vídeo com imagens de violência doméstica. Parte deles recebeu o vídeo apenas com um título. Outra parcela,  um que tinha título e um alerta indicando a existência de conteúdo angustiante. A um terceiro grupo foram entregues imagens com alerta no título e um aviso específico para violência doméstica. O grupo também respondeu ao questionário da primeira etapa.

Personalidade

O terceiro experimento revelou que os participantes que assistiram aos vídeos com algum tipo de aviso apresentaram menos reações negativas do que aqueles que não foram alertados para o potencial de angústia. Mas, de forma surpreendente, os indivíduos que acreditavam que os avisos de conteúdo eram protetores, não se sentiram melhores do que aqueles que não receberam os avisos. “Os resultados mais interessantes são que os alertas diminuíram as emoções negativas dos participantes diante do conteúdo angustiante. Ironicamente, porém, isso não foi verdade para as pessoas que acreditavam que eles fossem protetores. Entre as pessoas que acreditavam que esse recurso as protegia, os participantes não se sentiram melhor nas condições de alerta do que na condição sem aviso”, frisa o autor.

Para João Armando, psiquiatra do Instituto Castro e Santos (ICS), em Brasília, o estudo americano ajuda a confirmar reações esperadas diante desse tipo de aviso. “A pesquisa demonstrou que, ao avisar que um determinado conteúdo vai ser violento ou conter cenas fortes, existem dois tipos de respostas possíveis: evitar assistir à cena, para aqueles que, de fato, não toleram esse tipo de imagem; ou ver a cena, para quem é mais tolerável, mas se sentir mais tranquilo por já saber que haverá esse tipo de conteúdo”, diz.

O psicólogo também ressalta que a pesquisa revela traços comuns da personalidade humana. “Como, por exemplo, o de tentar estar sempre preparado para situações ruins, o de sentir insegurança com o inesperado ou mesmo o de tentar evitar situações que causam desconforto. Esses traços são bem descritos em estudos de análise de comportamento, e a pesquisa demonstrou uma aplicabilidade deles no cotidiano e no reforço dessas características humanas”, explica.

Os autores acreditam que a pesquisa mostra como os avisos são positivos para a maioria das pessoas. “É sempre importante não fazer afirmações que vão além dos dados obtidos, mas eu acho que os estudos demonstram que as pessoas estão cientes dessas advertências e que esses avisos influenciam as expectativas delas e a subsequente evitação. É importante lembrar, porém, que nem todos respondem da mesma forma às advertências e, no nosso caso, os efeitos foram diferentes, dependendo do fato de a pessoa acreditar que as advertências eram exageradas ou protetoras”, detalha Izzy Gainsburg.

João Armando também acredita que a diferença entre as respostas de uma pessoa está relacionada a quão impactante a cena é para ela, ou seja, há a influência de um fator individual. “Isso porque uma cena de violência pode causar menos incômodo em uma pessoa do que em outra. Assim como um conteúdo de nudez pode ser desconfortável para uns, mas normal para outros. Tudo isso está muito relacionado à personalidade e às experiências prévias. Todavia, o que fica claro é que o inesperado causa desconforto na grande maioria das vezes”, complementa.

Novas estratégias

 Os investigadores ressaltam que são necessários novos estudos. Dessa forma, a análise dos alertas de conteúdo poderá ajudar na criação de outras estratégias para veiculação das mensagens antes da exibição de filmes e programas televisivos. “Esses avisos compartilham semelhanças. Geralmente, alertam sobre violência ou conteúdo ofensivo. No entanto, não alertam especificamente sobre uma reação emocional negativa. Eles ocorrem em um contexto de entretenimento em que a violência costuma ser divertida e, muitas vezes, são rapidamente desconsiderados pelos telespectadores, que estão habituados a vê-los —  chamamos esse processo de habituação. Com base nisso, podemos pensar em alertas que possam ser ainda mais efetivos”, frisa Izzy Gainsburg.

Ele e a equipe pretendem dar continuidade à pesquisa e entender melhor as respostas emocionais geradas pelos alertas. “Por que os participantes se sentiram melhor quando foram apresentados os avisos? Quais são as outras maneiras de medir a resposta emocional que poderíamos usar para estudar os efeitos das advertências? Poderíamos usar a resposta fisiológica? Essas são perguntas a que queremos responder”, adianta o líder do estudo.

"Os avisos ocorrem em um contexto de entretenimento em que a violência costuma ser divertida e, muitas vezes, são rapidamente desconsiderados. Com base nisso, podemos pensar em alertas que possam ser ainda mais efetivos"


. Izzy Gainsburg,
estudante de doutorado em psicologia na Universidade de Michigan e líder do estudo

 

 


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