Estado de Minas

Na real: 10 anos depois, reencontramos personagens de série de reportagens

Nos últimos oito anos, a economia sacudiu os projetos de brasileiros que o EM acompanhou ao longo de 2010. hoje, eles vão do sucesso à decepção


postado em 13/07/2018 07:00 / atualizado em 12/07/2018 16:41

No fim da década passada, o topógrafo Antonio Passos vivia a expectativa de se aposentar e descansar depois de uma vida inteira de trabalho. Hoje, aos 73 anos, mesmo aposentado, Antonio não pensa em parar de trabalhar. “Com o dinheiro da aposentadoria não dá para sobreviver. Então, não posso nem pensar em perder o emprego. Parar de trabalhar só mesmo se eu ganhar na Loto ou na Mega-sena”, conta. Ele foi um dos personagens da série “Na Real”, publicada pelo Estado de Minas ao longo de 2010, que acompanhou a vida de belo-horizontinos para mostrar como a economia do Brasil interfere no cotidiano de cada um. Quase uma década depois, o EM volta a ouvir os personagens e mostrou o que mudou de lá pra cá.

Investir em imóveis é aposta do engenheiro Eduardo Duarte(foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)
Investir em imóveis é aposta do engenheiro Eduardo Duarte (foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)

Em janeiro de 2010, o cenário da economia era bem diferente do atual. O então ministro da Fazenda Guido Mantega apostava que o Brasil cresceria 5,2%, e o resultado foi ainda melhor: o país cresceu invejáveis 7,6%. O então ministro do Trabalho Carlos Lupi projetava a criação de 2 milhões de empregos, e o balanço superou a expectativa dele: foram criadas 2,86 milhões de vagas.

Acompanhando o clima de otimismo na economia, os personagens que tiveram seus passos mostrados pela reportagem do EM se dedicavam a novos projetos e faziam avanços na direção do sonho. Oito anos depois, a situação é bem diferente e vários planos ficaram pelo caminho.

“O Brasil passou por uma crise terrível, que afetou todo mundo. Independentemente de qual objetivo tinha cada pessoa, acho que todo mundo sofre quando a economia vai mal. Mas me considero um homem de sorte porque consegui criar minha família bem e quase não gasto com mais nada. Apesar de não ter condição de parar de trabalhar, não posso reclamar da vida não”, analisa Antonio. O aposentado trabalha no setor administrativo de uma empresa.


Para belo-horizontinos que buscavam empreender em 2010, a crise econômica representou um obstáculo intransponível. Os irmãos Henrique Marçal Duffles Teixeira e Thaís Marçal Duffles Teixeira esperavam turbinar as vendas na recém-aberta loja de artigos populares no Centro de BH. Como milhares de pequenos empreendedores, eles começavam a tirar do papel o sonho de ter um negócio próprio e ser patrões de si mesmos. A aposta era no crescente e ávido mercado consumidor das classes D e E, em franco crescimento nos anos 2000.

O sonho durou menos de dois anos. Em 2012, os irmãos fecharam a loja. “Infelizmente, a loja não estava se sustentando, com muitos gastos com impostos e outros custos. Percebi que a vida de empreendedor na área do varejo é muito complicada, pelo menos para quem anda sempre na linha, pagando os impostos certinho”, conta Thaís. Seis anos depois de encerrar a experiência como donos do próprio negócio, Thaís voltou a trabalhar como psicóloga e seu irmão retomou o trabalho na área de educação física. Sobre a possibilidade de voltar a abrir um negócio, ela afirma: “Não tenho vontade nenhuma. Foi só daquela vez mesmo.”

Para o engenheiro químico André Guilherme Guimarães Christófaro, de 43, a situação profissional de hoje é bem melhor do que há oito anos. Em 2010, ele buscava recolocação no mercado de trabalho após deixar o emprego para tentar abrir uma fábrica de produtos para piscicultura. Um ano depois, ele conseguiu uma vaga em uma empresa multinacional, onde trabalha até hoje.

Mesmo aposentado, Antonio Passos não pode deixar o emprego(foto: Jackson Romanelli/EM/D.A Press %u2013 21/12/10)
Mesmo aposentado, Antonio Passos não pode deixar o emprego (foto: Jackson Romanelli/EM/D.A Press %u2013 21/12/10)

“Voltei a trabalhar naquele mesmo ano e estou muito bem hoje. A empresa passou por dificuldades no período da crise e vários funcionários foram demitidos, mas continuei no emprego e a situação da economia parece que aos poucos voltará a melhorar”, diz André. De 2010 até hoje, o cenário do emprego no Brasil piorou significativamente. A taxa de desemprego passou de 6,7% para os atuais 12,9%, representando 13,4 milhões de brasileiros desempregados neste 2018, de acordo com dados do IBGE levantados entre fevereiro e abril.

‘Boom’

Um dos setores que ilustram bem as mudanças pelas quais o Brasil passou ao longo dessa década é o setor imobiliário. Em 2010, o preço de imóveis vivia fase de “boom”, com os preços praticamente duplicando a cada ano. Especialistas ouvidos pela reportagem do EM na série “Na Real” ressaltavam que a expansão imobiliária tinha motivos diferentes em cada região de Minas Gerais, mas trazia em comum a confiança de investidores e empresários no crescimento do mercado. Nos últimos anos, depois da grave crise econômica, a situação é bem diferente e os imóveis já não registram mais a valorização de antes – em muitos casos, o cenário é o oposto, com preços em queda.

O engenheiro mecânico Eduardo Duarte, de 56, passou parte de 2010 em busca de uma boa oportunidade para investir em um imóvel. Depois de muita pesquisa, escolheu comprar um apartamento em Cláudio, no Centro-Oeste do estado, apostando no crescimento do interior mineiro. Hoje, Eduardo considera acertada a escolha feita há oito anos.

O negócio próprio durou pouco para os irmãos Thaís e Henrique Duflles(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press - 16/12/10)
O negócio próprio durou pouco para os irmãos Thaís e Henrique Duflles (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press - 16/12/10)

“Sou da opinião de que investir em imóvel sempre vale muito a pena. Mesmo com o mercado imobiliário fora da realidade em vários períodos. Principalmente no interior, onde o déficit habitacional ainda é grande e os imóveis estão valorizados. Outra questão é que, hoje em dia, muitas pessoas preferem morar em apartamentos. Antigamente, nas cidades menores, as pessoas podiam deixar a casa aberta, não havia problema, mas, hoje, manter um apartamento é mais seguro do que uma casa”, conta Eduardo.

Acompanhando o clima de otimismo na economia, os personagens que tiveram seus passos mostrados pela reportagem do EM se dedicavam a novos projetos e faziam avanços na direção do sonho. Oito anos depois, vários planos ficaram pelo caminho.


Na Real


O Estado de Minas e o Portal Uai reuniram e acompanharam, durante todo o ano de 2010, uma dezena de histórias de moradores de Belo Horizonte, que tinham a intenção de realizar sonhos, como abrir o próprio negócio, conquistar a aposentadoria e conseguir emprego. A série de reportagens, publicadas no último dia de cada mês, não só mostrou o caminho de cada um deles para realizar seus planos, em meio aos percalços impostos pela economia, como ouviu especialistas de várias áreas sobre como enfrentar desafios e lidar com dificuldades

 


Publicidade