Jornal Estado de Minas

OPINIÃO

Moro e Doria trabalharam bastante para Bolsonaro

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O principal beneficiário do bate-cabeça da chamada terceira via foi o presidente Jair Bolsonaro, mas talvez não da forma como a maioria pensou em um primeiro momento. A desistência do ex-juiz Sergio Moro da sua candidatura à presidência e o esdrúxulo blefe de Doria entregam ao presidente bem mais do que a migração de alguns votos.





Mas essa transferência não parece ser tão relevante. Pelo menos essa é a conclusão que se chega observando as principais pesquisas divulgadas até então. A pesquisa Quaest de março mostra que em um cenário sem Moro e outros candidatos de terceira via, Bolsonaro herdaria três pontos percentuais, saindo de 25% para 28% das intenções de voto. Nesse mesmo cenário, Lula ganha quatro pontos percentuais, saindo de 44% para 48% das intenções. Ou seja, o saldo líquido imediato pode até ser negativo.

Esse efeito ocorre porque parte desses eleitores de Moro ou de outros nomes da terceira via não migram de forma automática nem para Bolsonaro nem para Lula, preferem responder que não votariam em ninguém. Essa tendência pode ficar mais clara na pesquisa da XP/Ipesp, segundo a qual 40% das pessoas que disseram que votariam em Moro migram para o não-voto quando o ex-ministro é retirado da simulação. Isso equivale a mais ou menos três pontos percentuais a mais para indecisos. 

Sendo assim, não é por causa da saída de Moro que Bolsonaro ou qualquer nome da terceira via passa a ser mais competitivo. Segundo a mesma XP/Ipesp, Doria tem a preferência na segunda opção de apenas 12% dos eleitores do ex-juiz, o que equivale a um ponto percentual do eleitorado total. Para quem, como no caso do governador paulista, patina na casa dos 2%, esse ganho não chega a ser nenhum alento nesse novo cenário.





O governador de São Paulo, aliás, foi protagonista de uma das cenas mais constrangedoras da história recente do Partido da Social Democracia Brasileira. A fisionomia de contrariedade do presidente do partido, Bruno Araújo, de mão dadas com ele no evento de descompatibilização do cargo para a disputa da eleição foi a representação de um partido dividido e sem nenhuma convicção de que seu candidato possui qualquer viabilidade política.

Doria tomou a cadeira do Palácio dos Bandeirantes de refém. Caso não saísse do governo de São Paulo, implodiria as chances de o PSDB ganhar a eleição no estado, tendo Rodrigo Garcia como candidato – a rejeição de Doria é imensa, Garcia não teria como se descolar dele na campanha. Então veio o blefe: Doria vazou que não sairia do governo de São Paulo caso não tivesse garantia que seria o candidato do PSDB à presidência. Sem muita alternativa, Bruno Araújo respondeu com uma carta contendo a garantia e com o sorriso amarelo no evento de descompatibilização.

Em São Paulo, o candidato ao governo de Bolsonaro é o ex-ministro Tarcísio de Freitas, recém-filiado ao partido Republicanos. Tarcísio busca a vaga da direita em um provável segundo turno com o nome da esquerda, possivelmente Fernando Haddad (PT-SP). Dessa forma, o circo armado por Doria enfraquece a candidatura de um concorrente do mesmo segmento eleitoral que Tarcísio. Ponto para Bolsonaro.

A desistência de Moro e a confusão em torno de Doria acabaram drenando a atenção da mídia e tiraram o foco dos escândalos de corrupção no Ministério da Educação, preço da gasolina e do gás, greve de servidores. Até mesmo as declarações absurdas quanto ao golpe militar de 1964 ficaram em segundo plano. Sem querer, Moro e Doria trabalharam bastante para Bolsonaro na semana passada.