Jornal Estado de Minas

SHE'S THE BOSS

O mês da mulher e o mergulho em mim mesma

Disseram que quando a gente se cuida, a gente previne aqueles problemas que nunca imaginamos que acontecerão, uma falência, uma doença grave, uma demissão repentina, um acidente, um desentendimento entre irmãos, sócios, amigos e a verdade é que, todo mundo enfrenta problemas diários.





Estes problemas, por vezes, vão e vêm como uma montanha russa. Esse último é meu caso, problemas em ondas, em altos e baixos, hora calmaria, hora furacão, navegando em estresse neutralizado em viagens rápidas na tentativa de descanso e com o telefone te lembrando sem parar que, mesmo que você não esteja presente, a empresa é sua. E vem o constante sentimento do túnel sem fim, e continua hora indignação, hora frustração. Sou uma pessoa inconformada, uma mente inquieta, uma mente diagnosticada com TDAH, e apesar dele, ainda capaz de criar, realizar, executar e inovar. É uma vulnerabilidade que entendi e admiti para mim mesma, aos 40 anos de idade. Sim, não sou uma super mulher.

Este artigo é uma carta aberta para expressar e contar sobre acontecimentos que me fazem refletir diariamente, questionar meu propósito e desenhar minha jornada para meu bem estar e da minha família. Todo mundo um dia se questiona: Será que estou fazendo certo? Será que é isso mesmo? Puxa, sou ser humano e tenho fraquezas, apesar da cultura antifrágil que você tenta se preparar para as incertezas, coisas incertas podem acontecer e você não estará preparado para isso.
 
Daí vem a Coragem de Ser Imperfeito e te faz entender que você não é perfeita e nem precisa ser, mas as pessoas não querem estar perto de quem não tem sucesso. Uma vez expus certa vulnerabilidade sobre meu negócio em um grupo de parceiras que pretendiam colaborar e depois disso, ninguém mais se interessou pela reunião de construção conjunta, colaborativa, visando a abundância no coletivo. Esqueci que mundo me ensinou isso. Errei em expor a verdade ou errei por confiar nas pessoas erradas? E nessa hora pensei que desse lado sou a primeira a oferecer escuta ativa, apoio e ideias para as pessoas dessa mesma rede. Irônico isso, mas continuo acreditando no ser humano e na mudança de atitudes para transformar o mundo.




 
Leia: Carta para uma comunidade de mulheres 

A vida tem sido uma sequência de ironias. Desde 2018 venho enfrentando problemas pessoais e profissionais que me causaram raiva, angústia, tristeza, estresse, medo, indiferença, burnout, depressão, falência, recuperação em meio à pandemia com muita estratégia e esforço e por fim um câncer. Pronto, sou eu e o fundo do poço. Mas sério universo, Deus, Deusa? O que foi isso? Onde me perdi pelo caminho? Será que foi tristeza, estresse, comi muito açúcar ou o fato de ter negligenciado minha saúde enquanto resolvia problemas que vivenciei e resolvi meio sozinha e outros que ainda não consegui resolver, mas que me perseguem à noite enquanto tento ter minhas merecidas 5 horas de sono? (não durmo mais que isso).
 
 Quando fiquei inerte a  conta chegou e não há nada a fazer. O governo, os sócios, os investidores, os filhos, os colaboradores, a rede de apoio que é paga, a escola, a saúde e os boletos não se importam, eles sempre cobram. E nesse momento,  até quem deveria te pagar, te cobra. Rede de apoio.
 
Leia: O despertar de uma leoa 

Receber diagnóstico de uma doença grave é bem “punk”. A gente pensa em morte. O estigma que tem tal doença pesa para todo mundo como se seu destino mortal estivesse escrito na testa. Vi que era grave a partir da expressão na face de cada pessoa que te atende, entre médicos e profissionais da saúde na jornada que fica interminável a partir do momento que você sente o caroço no peito. Daí pessoas te olham, avaliam seu resultado da mamografia, da ultra sonografia e você vive fica no suspense, até que por fim, no resultado da biópsia, a palavra “maligno” aparece. Calma! Hoje os tratamentos são eficazes, e vai ficar tudo bem, respira. 




 
Não tenho como provar e só desconfio, de que o corpo somatiza e  manifesta seu desconforto em doenças a partir de um estilo de vida sufocante, agitado, com enormes responsabilidades ou, no corpo que guarda rancor, mágoa ou ódio. Eu não sinto nada disso, só muita pressão mesmo, e a única pergunta que fiz foi: Quem vai cuidar dos meus três filhos se eu morrer?!
 
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Depois, comecei a questionar meu trabalho, minhas ideias investidas, meu tempo dedicado a cada projeto e às pessoas. Perguntei porque algumas me interpretam mal,  porque me acham arrogante, porque se aproveitam sem dar nada em troca, porque pensam que sabem quem sou, porque pensam que sou fechada demais ou ocupada demais e não se aproximam, porque sou mal interpretada,  porque me chamaram de racista sendo eu aliada das causas, porque me acham meio mandona. Questionei porque as organizações, que oferecem dinheiro para projetos de equidade de gênero, me consideram inaplicável? Porque os editais me enquadram no percentual de ser menos minoria que as outras minorias e não me qualificam, e para todos aqueles que me julgam de tantas formas eu pergunto, por que? Logo eu que sou inclusiva, que pratico a escuta ativa, que busco aprender, que sou verdadeira quando ofereço meu apoio, meu voluntariado, minha sororidade, que sou mediadora, conselheira, pragmática mas com bom senso acima da média,por que ainda sou ainda julgada das formas mais diversas. Talvez por ser mulher? Por ser mulher e mãe? Por empreender sem ter sucesso?

Eu pareço ter poder e dinheiro, porém sempre me achei inadequada, fora da caixa, da bolha, do conformismo, do consciente coletivo, da direita radical, do extremo liberalismo, da esquerda radical, da resignação. Inadequada por ser indomável. Inadequada por ser uma mulher “afrontosa”, como me identificaram certa vez ao oferecer uma palestra para mulheres lá em João Pessoa, estado extremamente paternalista. Eu achei graça no adjetivo. 
 
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Eu tenho consciência de ter trilhado uma jornada foda demais, e ainda assim, não me sinto competente o suficiente por conta da tal impostora. Ela sopra no meu ouvido diariamente, todas as minhas falhas e vulnerabilidades, e me faz duvidar de mim mesma. Acordo pensando que ao longo do dia, vai aparecer um homem ou uma mulher para questionar minha competência e ou questionar meu trabalho, me fazer sentir como a impostora.

Mergulhei em mim e me tornei ativista pela equidade de gênero, contra o patriarcado que mata mulheres e desqualifica e depois de entender porque, desenvolvi  uma forma análitica de reconhecer injustiças em acontecimentos, falas e outros comportamentos das pessoas  que identifico como um problema a ser discutido. Exemplo, na semana passada a propus, pela terceira vez em dois anos, uma solução administrativa e estratégica para salvar um dos negócios que administro e, para salvar o próprio dinheiro desses caras  investidores de uma empresa que começou a caminhar para o temido “vale da morte” então, nesse caso, seria possível salvá-la, com um único movimento do tabuleiro do xadrez.  O investidor, homem branco cisgênero, empresário, conservador e endinheirado, ouviu a proposta e depois me informou que consultaria outro homem branco cisgênero do mesmo mercado que eu atuo,  para avaliar minha solução para o problema. Adivinha? Para surpresa #sqn dos caras do dinheiro, a Mulher impostora,  resolvedora de problemas e “fucking CEO”  da empresa, estava certa. Mas ela é mulher então, precisaram validar minha solução com um cara. 





Daí as questões continuam, mergulho em mim, olho para a jornada, vejo que muitas coisas não fazem sentido porque, mais uma vez, estou fora do timing, estou indo além, estou visando um mundo ideal, mais colaborativo, menos competitivo entre mulheres, menos violento, onde os esforços conjuntos podem gerar prosperidade, podem gerar renda para mulheres, onde a engenharia social pode ajudar um grupo bem intencionado de pessoas, onde a comunidade salva quem precisa, onde a comunidade salva todo mundo e onde a comunidade me salva. 
A comunidade que não paga, não compreende, não abre a mente, não te contrata, passa por cima, não pagam a comissão, que se beneficia mas não te dão os créditos. E avalio que o mundo continua egoísta desmontando meu conceito ideal de negócio de impacto. 
 
Ninguém está interessado? Só as grandes empresas de tecnologia poderão tornar as economias colaborativa,  compartilhada, circular, renovável, reciclável, orgânica, vegana, da moeda digital e demais futuros concretos? Já existem aplicações que tornam a inovação possível e acessível. Mas na minha bolha, ninguém entendeu. Timing.





Pessoas com seus julgamentos, suas crenças limitantes, seus apegos, seus preconceitos, suas ambições individuais e impossíveis, seus nãos recorrentes, seus elefantes brancos encalhados que esperam o fim se aproximar, suas arrogâncias. Diante de um diagnóstico de câncer, você só pensa em cuidar da saúde e resgatar sua fé e espiritualidade. Estou determinada a reorganizar minha vida para que, quando o mundo acabar, eu possa ser elegível para uma das naves espaciais do Elon Musk, que me levará até marte ou outro mundo qualquer, onde, quem sabe?! O mundo novo e ideal para o ser humano, pode ser construído a partir da intenção verdadeira, da crença e da fé nas pessoas de bem. E para você que se encontra nessa bolha escassa, entenda que você precisa acordar para o Futuro, e ele é feminino.