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Estado de Minas O BRASIL VISTO DE MINAS

O grande risco que corremos

Os governos passam, mas alguns deixam cicatrizes que o tempo demora muito a curar. Algumas não se curam nunca!


postado em 05/08/2019 04:00 / atualizado em 04/08/2019 21:28


 




Sob a vertigem dos acontecimentos e não acontecimentos que invadem, pelas mídias, nossa vida cotidiana, é fácil perdermos a visão de conjunto, a que nos permite compreender, ou pelo menos intuir, a verdadeira História que estamos vivendo. Nosso passado e as nossas experiências são hoje de pouca valia para entendermos o presente e sondar o futuro. Com a atual velocidade das mudanças, as incertezas, que sempre nublaram a vida das sociedades, tornaram-se muito maiores e temos muito menos controle sobre o que pode nos acontecer.

Essa falta de controle sobre nosso destino já deveria ser suficiente para que a sociedade procurasse agir com muita prudência e humildade, abstendo-se de lançar-se em aventuras políticas que só ampliam as incertezas. Se os riscos da imprevisibilidade sobre o futuro fossem percebidos como uma ameaça real à própria integridade da nação, certamente as pessoas se moveriam em direção a uma maior unidade e a uma maior disposição para a compreensão e a cooperação. Essa percepção, no entanto, não existe para a maioria.

Em todo o mundo estamos presenciando uma redução do crescimento econômico, um grande aumento das desigualdades e a incapacidade dos governos de servir a todos os seus cidadãos. Os minguados frutos do crescimento das últimas décadas foram quase que exclusivamente para a parcela mínima dos muito ricos, mantendo-se quase toda a população num estado de estagnação ou de empobrecimento. Como hoje quase tudo é transparente, as maiorias sociais tornaram-se descrentes das instituições que produzem a injustiça, ou pelo menos, não são capazes de evitá-la. O resultado da desilusão é a ascensão, pelas próprias vias da democracia, de governos autoritários e sectários, ou até mesmo de lideres absurdos como Donald Trump ou Boris Johnson, todos frutos do desespero e não da esperança.

Se isso se passa no mundo, no Brasil as coisas andam muito piores. Nossa economia não cresce pouco. Ela não cresce nada. A renda por habitante que tínhamos em 2012 diminuiu e só voltará ao mesmo nível a partir de 2020, se tudo correr bem. Dez anos perdidos e com eles vidas que se frustraram, famílias que se desorganizaram, destinos que se perderam. E tudo isso obra de nós mesmos. Temos todas as riquezas possíveis, mas seus benefícios foram capturados por uma parcela mínima da população: as corporações do serviço público, que fizeram do Estado um fim em si mesmo, e uns poucos grupos de interesses que se organizam em redor do Estado, para desfrutar de seus recursos, suas leis e seu poder.

Nossa carga de impostos atingiu no último ano 35% de toda a renda nacional e 80% de tudo isso é gasto com salários de funcionários públicos e aposentadorias e pensões. Não temos infraestrutura, não temos boa educação, não temos boa assistência de saúde, não temos nem sequer segurança. Se não bastasse isso, mais de 25 milhões de brasileiros não têm emprego e não há crescimento econômico no horizonte.

É muito difícil que tudo permaneça assim sem que conflitos e distúrbios passem a ameaçar a nossa precária paz social. Os problemas que temos pela frente são desafios espetaculares que exigiriam, no mínimo, uma grande mobilização da sociedade, liderada por um governo que pregasse a unidade, a fraternidade e a tolerância, para nos guiar para um destino comum. Um governo que se orgulhasse de nossas diversidades e compreendesse com serenidade as vicissitudes de nossa história.

O que estamos vendo não é nada disso. Vemos um desejo inconsequente de nos dividir, de vingar a história, de fazer uma parte prevalecer sobre o todo e de combater a diversidade. Já vivemos grandes dramas políticos, vários momentos de ditadura e autoritarismo, outros momentos de mediocridade e de incompetência, mas hoje o sentimento que tenho é que a nossa própria ideia de nação esteja sob risco.

Os governos passam, mas alguns deixam cicatrizes que o tempo demora muito a curar. Algumas não se curam nunca! A história nos lembra que há nações e sociedades que se perdem para sempre! 
 

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