Jornal Estado de Minas

OPINIÃO SEM MEDO

Aprendam: consciência social e empatia não são propriedades da esquerda



Que o Brasil e os brasileiros jamais foram o suprassumo da inteligência e da civilidade, isso não é surpresa para ninguém. Somos, muito além de analfabetos plenos e analfabetos funcionais, e de ignorantes crassos e imbecis notórios, uma sociedade sem cultura geral e o mínimo espírito de urbanidade e compaixão, não à toa nossa miserável condição sócio-econômica e os indicadores cada vez mais crescentes de violência descontrolada e piora estrondosa nos rankings internacionais de qualidade de vida.





Fazemos xixi e cocô nas ruas; burlamos leis e regras de trânsito como se não existissem; desrespeitamos as mais comezinhas etiquetas sociais; roubamos, brigamos, ofendemos e até matamos, sem perder um mísero segundo do nosso sono por isso. A sociedade brasileira sempre foi doente - escravocrata, autocrata, elitista, preconceituosa, segregadora, corrupta, violenta -, mas vem se tornando ainda pior a cada década que avançamos (o próprio presidente da República, mais uma vez, comparou negros a animais de corte).

Prova inequívoca da degradação assustadora da nossa condição moral, além dos piores números oficiais possíveis de Educação, Saúde e Segurança Pública, são os comentários na internet e em rodas de amigos, sobre assuntos de cunho social e político. Dias atrás, por exemplo, escrevi, ‘que saudade desses garotos’, me referindo aos Mamonas Assassinas, grupo de rock dos anos 1990, tragicamente morto em um acidente aéreo, e recebi como resposta: ‘puro lixo cultural, somos gratos à Cantareira’ (o local da queda do avião).

Por que ‘lixo cultural’? Bem, talvez pelo mesmo motivo da revolta com o ‘beijo gay’ do filho do Superman ou a tatuagem íntima da Anitta. O brasileiro médio não dá conta do próprio quintal, mas não abre mão de vigiar e maldizer o do vizinho; sobretudo se este é alguém de sucesso. Além disso, após a ascensão do bolsonarismo, representado majoritariamente pela terceira idade branca, de classe média e neopentecostal obtusa, qualquer manifestação de empatia, solidariedade e consciência social é tida como ‘comunismo’.





Tenho recebido uma saraivada de ofensas - inclusive de conhecidos e de amigos de amigos - por colunas recentes, em que trato da desigualdade social e do preconceito contra pretos e pobres no Brasil. Uma das besteiras mais comuns é me adjetivar de ‘comunistinha de Iphone’ ou ‘esquerdista da zona sul’. Essa gente é tão imbecil, mas tão imbecil (e mesquinha e preconceituosa), que confunde sensibilidade e piedade com esquerdismo. Ora, ainda que fosse, qual o problema? Não ser o Daniel Silveira é que é errado agora?

Outra coluna minha, bastante atacada pelos ogros das SUV’s e as ogras do preenchimento labial (as ‘véia’ branquela ficam parecendo o Pato Purific, hehe), foi a que descrevi meu sentimento diante de uma faxineira negra, devidamente uniformizada de serviçal da Casa Grande em uma sorveteria da moda em BH, limpando as mesas emporcalhadas por ricos brancos. As bestas-feras são incapazes de compreender uma sincera autocrítica (já que sou rico e branco) e um genuíno sofrimento empático por quem jamais mudará de lugar.

Sinceramente, cago e ando para as idiotices que dizem a meu respeito, mas não consigo não sentir muita raiva e desprezo por essa canalha egoísta, egocêntrica e completamente burra, que baba sua gosma miserável e retrógrada por aí. Atenção, asininos e asininas das zonas sul do Brasil: o comunismo acabou. O socialismo sobrevive, mas miseravelmente e fora do Brasil. A esquerda não é proprietária dos bons sentimentos. Olhar com empatia e solidariedade para os menos favorecidos é ético e o correto a fazer. Preciso desenhar? 

Um último recado: usar camisa da CBF; fazer arminha com os dedos; espancar jornalistas; ofender pretos, pobres, gays e quem pensa diferente; zurrar ‘mito’ e repetir o bordão mais falso do que nota de sete reais, ‘Brasil acima de tudo, Deus acima de todos’, não tornará o País melhor nem suas vidas medíocres menos miseráveis. Por isso, ao invés de me xingar na internet, ou pelas costas, em eventos sociais, que tal levantarem a bunda do sofá e ajudarem a melhorar a vida de quem está sofrendo e precisa, hein, seus babacões senis?